06/03/23 |

Erva-mate é pauta de debate sobre mudanças climáticas

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Foto: Katia Pichelli

Katia Pichelli - Cerca de 130 pessoas conheceram os resultados do projeto, entre agricultores, técnicos, estudantes e pesquisadores do setor.

Cerca de 130 pessoas conheceram os resultados do projeto, entre agricultores, técnicos, estudantes e pesquisadores do setor.

Fruto da parceria entre a Fundação Solidaridad e a Embrapa Florestas, estudo realizado no Paraná tem seus primeiros resultados apresentados, com destaque para temas como estoques de carbono e viabilidade financeira.

Como o cultivo de erva-mate pode se inserir na agenda de discussões sobre o clima? Quais os aspectos de planejamento financeiro importantes para a cultura? Como isso se relaciona? Esses foram alguns pontos discutidos com produtores e produtoras rurais e técnicos no 1º Encontro sobre sistemas produtivos de erva-mate: viabilidade financeira e estoques de carbono. O evento, realizado em Cruz Machado (PR), foi uma oportunidade para que o público conhecesse os primeiros resultados do estudo, realizado pela Fundação Solidaridad e a Embrapa Florestas, com apoio da prefeitura.

O estudo comparou dois sistemas de produção - pleno sol e sombreado - em quatro propriedades rurais no município. Para cada área analisada, foi feita a quantificação de carbono na biomassa da parte aérea da erva-mate e no solo, além  da análise da viabilidade econômica de cada tipo de cultivo. Nas análises realizadas, foram utilizadas informações sobre as tecnologias adotadas nos cultivos e aspectos econômicos.

“É possível aliar uma produção rentável de erva-mate com práticas sustentáveis”, destacou o Coordenador de Projetos da Fundação Solidaridad, Gabriel Dedini. “A erva-mate faz parte da sociobiodiversidade brasileira que movimenta a bioeconomia. Ela precisa ser reconhecida como protagonista na agenda climática. É possível trabalhar com geração de renda e fortalecimento de uma agricultura familiar dentro de uma modelagem de negócio aliada à sustentabilidade ambiental”, ressaltou.

Dedini compartilhou um pouco do trabalho de fortalecimento da agricultura familiar e incentivo a práticas
sustentáveis que a Solidaridad desempenha no setor ervateiro. Foto: Katia Pichelli


O pesquisador da Embrapa Florestas, Marcelo Francia Arco-Verde, apresentou os resultados do estudo focando na parte de viabilidade econômica da erva-mate dos dois sistemas de produção. Em sua palestra, ele ressaltou que o planejamento e o acompanhamento financeiro de todas as fases são fundamentais para o produtor tomar decisões de manejo e investimento. No estudo, ele analisou os fluxos financeiros e comparou com as formas de manejo de cada área, além da demanda de mão-de-obra, aspecto nem sempre levado em consideração pelos produtores. 

De acordo com os resultados obtidos, o pesquisador comentou que “cultivos a pleno sol são mais rentáveis financeiramente que os sombreados e, quanto maior o nível de sombreamento, maior a possibilidade do sistema se tornar inviável financeiramente”. Já a demanda de mão de obra é semelhante entre os ervais sombreados e a pleno sol. Por outro lado, o pesquisador ressaltou que “é necessário um equilíbrio: existem outros pontos que também devem ser considerados para uma recomendação, como aspectos sociais, ambientais e financeiros”.  As análises completas serão disponibilizadas em breve. Para este trabalho, Arco-Verde utilizou a planilha AmazonSaf, que é uma ferramenta gratuita para análise financeira de sistemas agroflorestais (clique aqui para acessar).

Em sua palestra, Arco-Verde abriu espaço para o depoimento de alguns dos produtores e produtoras
rurais que participaram do estudo. Foto: Prefeitura de Cruz Machado

Já para a questão da mudança do clima, assunto pouco conhecido do setor ervateiro, o pesquisador Marcos Rachwal, também da Embrapa Florestas, mostrou os resultados da análise do potencial da erva-mate em sequestrar carbono, tanto na parte aérea quanto no solo. "Muitas vezes pensamos que o carbono está imobilizado somente na parte aérea da planta, mas o solo é um importante armazenador de carbono e, quando um sistema produtivo está equilibrado, aumenta seu potencial de armazenamento”, disse. O principal recado do pesquisador é: um solo bem manejado e protegido contribui tanto na parte produtiva quanto na geração de renda e na sustentabilidade. “Por isso, análise de solo, nutrição e práticas de conservação são importantes. O solo é um dos bens mais importantes de uma propriedade rural”, alerta.

Para uma das produtoras presentes no evento, Sandra Soares, o recado foi essencial: “O que eu levo daqui hoje é a importância da conservação do solo. Como diz o meu pai sempre: ‘o solo é a nossa empresa, a nossa indústria’. Então, o melhoramento de conservação dele acontece desde as práticas de manejo do solo até a fertilização e análise do solo e da erva em si”, disse.

FIXAÇÃO DE CARBONO
O evento também contou com a participação de Ives Goulart e Josiléia Acordi Zanatta, ambos da Embrapa Florestas, e da Professora da Unicentro Daniele Ukan, responsável pelo Programa de Vocações Regionais Sustentáveis do Estado do Paraná, o VRS, desenvolvido pela Invest Paraná, órgão de captação de negócios do Estado vinculado à Secretaria Estadual de Indústria, Comércio e Serviços. Buscando interpretar de forma prática os resultados do projeto, com foco em melhores práticas de manejo e conhecimento dos sistemas de produção, Goulart apresentou tecnologias de produção de erva-mate que maximizam a fixação de carbono no sistema de produção ao mesmo tempo em que geram renda ao produtor. “É possível produzir erva-mate e carbono no mesmo sistema de produção, desde que se adote as tecnologias adequadas para isso, independente do tamanho do erval”, afirmou. 

Já Zanatta evidenciou a capacidade da erva-mate em contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e apresentou um trabalho que está em fase de validação: uma calculadora de carbono em cultivos de erva-mate. Com esSa tecnologia, os produtores e as produtoras rurais  fornecem informações sobre seus cultivos e a calculadora vai informar o potencial de sequestro de carbono, além de realizar outras análises, tais como o impacto de cada prática de manejo na emissão de gases de efeito estufa, auxiliando no gerenciamento da sustentabilidade do erval. “Em breve esta tecnologia estará à disposição do setor ervateiro e, com isso, esperamos reforçar ainda mais a participação da erva-mate nas discussões do clima”, ressaltou Zanatta.

Já a professora Daniele Ukan, da Unicentro/Programa VRS, destacou como a estruturação de políticas públicas é primordial para o desenvolvimento de cadeias produtivas, como é o caso da erva-mate. A professora tem realizado diversas oficinas junto a produtores de erva-mate no âmbito do VRS. Ukan percebe a aderência do Programa VRS com o projeto desenvolvido em Cruz Machado e aponta a possibilidade de alianças para promoção da erva-mate na região. 

PARANÁ 
De acordo com o Prognóstico Agropecuário de 2021, a produção de erva-mate está presente em 139 municípios do Paraná, somando 40 mil propriedades. A cidade de Cruz Machado é a principal produtora de erva-mate do estado, com quase 3,3 mil propriedades rurais, sendo que cerca de 90% cultivam o mate. Segundo o Secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município, Silmar Kazenoh, o destaque se dá pela produção com sombreamento dos ervais, que são cultivados sob o dossel da floresta com araucária, um ecossistema da Mata Atlântica no Sul do Brasil. Na ocasião, o prefeito de Cruz Machado, Antônio Luís Szaykowski, fez questão de apontar o importante papel da cultura para a cidade e também para o meio ambiente.

“Para nós, a erva-mate tem uma importância extraordinária. Na questão econômica, na geração de empregos diretos e indiretos…hoje o maior veículo de desenvolvimento econômico do município é a produção de erva-mate. Ainda mais agora com a questão da sobrevivência dos seres vivos no planeta, assim como a temática do oxigênio e do gás carbônico”, disse.

Desenvolvido no âmbito do projeto Erva-Mate Brasil, executado pela Fundação Solidaridad com parceria técnica da Embrapa Florestas, Emater/RS e Ascar e apoio da Leão Alimentos e Bebidas e da Coca-Cola Brasil, o 1º Encontro sobre sistemas produtivos de erva-mate: viabilidade financeira e estoques de carbono aconteceu em Cruz Machado no último dia 8 de dezembro. 

 

Embrapa Florestas e ODS

O tema do evento tem alinhamento às metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), por unir diferentes instituições (Objetivo 17) em prol do uso eficiente da terra em propriedades rurais familiares, com a adoção de técnicas de produção com aptidão para atenuar os efeitos das mudanças do clima nos sistemas produtivos do Paraná (Objetivos 2, 8, 10, 12, 13 e 15). 

 

Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas

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Mariana Leite
Fundação Solidaridad

Luiz Fernando Campos (MTb 06875/MG)
Fundação Solidaridad

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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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