A contaminação do meio ambiente por uso de fossas sépticas inadequadas motivou representantes de quatro aldeias da Terra Indígena Araribá, no município de Avaí (SP) a percorrerem mais de 200 quilômetros para conhecer, em São Carlos, o sistema de saneamento básico rural desenvolvido pela Embrapa Instrumentação. O grupo chegou no sítio São João, parceiro da Embrapa em saneamento básico, nesta quarta-feira (12) disposto a levar na bagagem de volta uma solução para o grave problema de saneamento que afeta os 700 habitantes das aldeias de Kopenoti, Ekerua, Ninuendaju e Teregua. Com pinturas nos rostos, adornos nas cabeças e pescoços, homens, mulheres e jovens das etnias tupi-guarani, terena e caingang, os indígenas passaram o dia, numa espécie de imersão, recebendo explicações e orientações do produtor rural Flávio Marchesin e do pesquisador da Embrapa Instrumentação, Wilson Tadeu Lopes da Silva sobre os sistemas instalados no sítio. “A idéia de conhecer as tecnologias de saneamento da Embrapa instaladas no sítio São João partiu da necessidade de levar para as aldeias um sistema de tratamento que preserve o solo, não contamine os recursos hídricos e melhore a qualidade de vida da população”, afirmou o cacique Edenilson Sebastião, mais conhecido Chicão Terena. A preocupação do cacique é porque o sistema atual de tratamento das aldeias está saturado, liberando o esgoto sanitário, contaminando o solo e os recursos hídricos. Regiane Rodrigues, enfermeira da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), disse que aposta na construção de uma parceria para resolver o problema de vazamento das atuais fossas. “Já estou imaginando a elaboração de um projeto junto com a Embrapa para sanar o problema”, afirmou. A Terra Indígena Araribá, com 1.930 hectares, está localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) Rio Batalha, cuja gestora, a engenheira da Fundação Florestal Claudia Reis intermediou a visita dos indígenas. Representantes de mais duas APAs, a Corumbataí e a Tejupá, além da indígena Arlene Fontes Mourão, da aldeia Tapajós, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, acompanharam a visita dos indígenas apoiada pela Prefeitura Municipal de Avaí. Sistema Embrapa Para o pesquisador da Embrapa Instrumentação, Wilson Tadeu Lopes da Silva, responsável pelo conjunto de tecnologias de saneamento – Fossa Séptica Biodigestora, Jardim Filtrante e Clorador Embrapa, interagir com os indígenas foi um aprendizado. “É a primeira vez que atendo povos originários para uma troca de experiência. É uma honra recebê-los”, disse Wilson Tadeu. Antes dos indígenas visitarem as soluções tecnológicas instaladas no sítio São João, o pesquisador apresentou características de cada uma, impactos negativos e positivos da falta ou da adoção do sistema de saneamento básico rural para a saúde humana e meio ambiente. “As tecnologias de saneamento básico rural podem ser aplicadas aos povos originários e comunidades tradicionais, desde que sejam respeitadas as características técnicas, bem como as tradições culturais das populações atendidas. A visita nos permitiu maior aproximação com essas comunidades, com uma troca saudável de informações e possíveis desdobramentos”, complementa Silva. Chicão Terena disse que tem pressa e acredita que os primeiros experimentos da Fossa Séptica Biodigestora, que trata o esgoto sanitário, sejam instalados brevemente. “Estamos dando um passo importante hoje em busca de conhecimento. Queremos abraçar e fazer dar certo, dar início a um novo projeto”, disse o cacique. Com pressa para construir sistemas de tratamento de esgoto sustentáveis nas aldeias, os indígenas demonstraram interesse na capacitação do curso virtual e gratuito de “Saneamento básico rural”, lançado no dia 15 de março pela Plataforma e-Campo da Embrapa. Clique aqui para se inscrever. O curso tem o objetivo de capacitar e formar agentes multiplicadores em tecnologias do saneamento básico rural, para que mais pessoas tenham a oportunidade de conhecer, adotar e se beneficiar dos sistemas em suas propriedades, assim como o fez Flávio Marchesin.