Pinturas rupestres inspiram oficina sobre educação patrimonial e ambiental no sertão alagoano
Pinturas rupestres inspiram oficina sobre educação patrimonial e ambiental no sertão alagoano
No município de Olho D'água do Casado, sertão alagoano, esconde-se no meio da Caatinga um patrimônio histórico e cultural ainda pouco conhecido pelos brasileiros: pinturas rupestres pré-históricas inscritas em 48 sítios arqueológicos localizados somente dentro do território do assentamento Nova Esperança, zona rural da cidade. Com o objetivo de valorizar esse patrimônio - conhecido na linguagem popular dos sertanejos mais velhos como “letreiro de caboclo brabo” – a Embrapa Alimentos e Territórios e o Iphan de Alagoas ministraram no dia 15 de março uma oficina sobre educação patrimonial e ambiental para cerca de 90 agricultores da região.
O pesquisador da Embrapa Alimentos e Territórios João Roberto Correia (foto acima) conta que o objetivo da oficina é fazer uma construção coletiva de conhecimentos por meio do compartilhamento de saberes e do reconhecimento de experiências locais para construir, de forma participativa, um plano de conservação dinâmica do uso da área do assentamento Nova Esperança.
“É preciso pensar o patrimônio como um processo dinâmico. O sítio arqueológico é físico, um bem material, mas também é imaterial. Por isso trabalhamos também os conhecimentos, saberes e modos de vida relacionados a esse patrimônio”, afirma o pesquisador.
A arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan - AL) Rute Ferreira Barbosa (foto ao lado) trabalha desde 2016 com o patrimônio cultural da região. Ela explica que educação patrimonial são todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o patrimônio cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações.
“Os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do conhecimento, por meio da participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de patrimônio cultural”, explica.
Nas rodas de conversa realizadas durante a oficina, o tema central foi o reconhecimento do patrimônio cultural que são as pinturas rupestres e de toda a sociobiodiversidade local, conceito que envolve a relação entre a diversidade biológica, os sistemas agrícolas tradicionais (agrobiodiversidade) e o uso e manejo destes recursos junto com o conhecimento e cultura das populações tradicionais e agricultores familiares.
João Roberto explica que a valorização desse patrimônio ainda pouco conhecido tem grande potencial para agregar valor a iniciativas de geração de renda para as comunidades. “Queremos ampliar oportunidades de geração de renda, gerar autonomia e fortalecer as iniciativas de segurança alimentar e nutricional que considerem a conservação da agrobiodiversidade e envolvam as agricultoras e agricultores do Assentamento Nova Esperança”.
Patrimônio imaterial - Nas rodas de conversa, o pesquisador percebeu que a maior identificação dos agricultores com o território está relacionada à Caatinga (foto ao lado), forma de vegetação predominante no local composta por vegetação rasteira, poucas folhas, galhos retorcidos e espinhos. “Eles nos relataram as dificuldades para obter água e de que forma buscam alternativas para resolver esse problema”, conta João Roberto.
O relato é importante porque configura um conjunto de práticas que é resultado do acúmulo de experiências dos antepassados dos agricultores e é avaliado pelo Iphan como patrimônio imaterial.
Rute Barbosa explica que os bens culturais de natureza imaterial são as práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer. “A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial”, diz, acrescentando que esse patrimônio deve ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade.
“O patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana”, explica a representante do Iphan de Alagoas.
Identidade - O conjunto de pinturas rupestres do assentamento Nova Esperança já é utilizado como atração turística, mas falta, na opinião de João Roberto, maior qualificação à atividade. “O grande patrimônio local é a cultura associada ao ambiente, o que vai muito além das pinturas rupestres”, explica João. “O conhecimento tradicional e os modos de vida da população local devem guiar a forma de utilização do espaço”, complementa.
O pesquisador conta que, ao levar os participantes da oficina a conhecerem melhor e entenderem a realidade que os cerca, possibilita-se a criação de uma consciência identitária no grupo. “É importante que eles se reconheçam como grupo para facilitar o acesso a políticas públicas de segurança alimentar e agregação de valor ao território. Se eles não compreenderem a riqueza que têm, não conseguem acessar nada”, explica.
Prática - Durante a oficina, os agricultores se dividiram em dois grupos e participaram de uma atividade prática para a identificação de plantas e animais silvestres e dos usos que são feitos dessa biodiversidade local.
No primeiro grupo a atividade foi mediada pelo pesquisador da Embrapa Alimentos e Territórios João Gomes da Costa e pelo agricultor mateiro e guia turístico Agaiton Gonçalves de Sousa; e no segundo grupo por João Roberto Correia e pelo Secretário de Cultura e Turismo de Olho D'Água do Casado, Adalberto Inácio de França (foto ao lado).
“A partir desse levantamento, vamos sistematizar as informações para que a comunidade as utilize em seu próprio benefício”, explica João Gomes.
A “Oficina sobre educação patrimonial e ambiental” é uma das ações do projeto Segurança Alimentar e Nutricional e geração de renda para agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais do Semiárido brasileiro.
O projeto visa implementar ações de promoção da segurança alimentar e nutricional e de geração de renda para agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais do Semiárido brasileiro no âmbito do Projeto Dom Helder Câmara segunda fase (PDHC II). É executado pela Embrapa Alimentos e Territórios, sediada em Maceió (AL).
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Alimentos e Territórios
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