05/06/23 |   Agroecologia e produção orgânica  Segurança alimentar, nutrição e saúde

Comunidades do agreste alagoano recebem consultoria em turismo na paisagem alimentar

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Foto: Divulgação

Divulgação - Agricultores do Assentamento Nova Esperança participaram de oficinas de planejamento e turismo de experiência dentro do projeto Paisagens Alimentares

Agricultores do Assentamento Nova Esperança participaram de oficinas de planejamento e turismo de experiência dentro do projeto Paisagens Alimentares

Valorizar os produtos e serviços turísticos baseados no patrimônio alimentar tradicional é o objetivo do projeto Paisagens Alimentares, liderado pela Embrapa Alimentos e Territórios, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) localizada em Maceió. Entre os dias 25 e 30 de maio, representantes da Embrapa e da consultoria LabTurismo visitaram duas comunidades nos municípios de Olho 'D 'Água do Casado e Palmeira dos Índios, ambas no agreste alagoano, dando início ao planejamento estratégico das experiências turísticas que serão ofertadas e ministrando uma oficina de turismo de experiência.

A primeira comunidade visitada foi o Assentamento Nova Esperança, no município de Olho D’Água do Casado, onde já existe a Associação Pegadas na Caatinga, que oferta experiências turísticas em sítios arqueológicos com pinturas rupestres e passeios de barco aos cânions do rio São Francisco. A ideia do projeto é unir a valorização da gastronomia local para oferecer uma experiência ainda mais completa ao turista.

“As pessoas viajam para ter experiências e conhecer a história e a cultura dos lugares. Nesse sentido, a relação das pessoas com o alimento que é produzido localmente é mais uma experiência turística que poderá trazer desenvolvimento econômico e cultural para as comunidades”, explica o Supervisor de Inovação e Tecnologia da Embrapa Alimentos e Territórios, Aluísio Goulart Silva.

Após uma visita técnica a um dos 48 sítios arqueológicos da região e aos cânions do rio São Francisco, no dia 26/05, as equipes técnicas da Embrapa e da Lab Turismo experimentaram um almoço feito com produtos locais, como o peixe frito pescado no Velho Chico e legumes colhidos diretamente da roça dos moradores do assentamento. 

No dia 27/05, cerca de 20 associados se reuniram para participar de uma oficina para discutir o plano estratégico de valorização da paisagem alimentar da região, ministrada pelos consultores da Lab Turismo. “Aqui vocês têm um potencial fantástico para um turismo de base comunitária e responsável, mais autêntico e legítimo, e uma oportunidade de fazer trocas e compartilhamentos. Agora precisamos estruturar os roteiros para que essa atividade possa gerar renda e encantar as pessoas”, afirmou o consultor da Lab Turismo, Richard Alves.

Alves enfatizou com os associados a importância de aprimorar a experiência turística para manter um fluxo contínuo de turistas de forma sustentável e economicamente interessante, gerando uma sustentabilidade econômica para a região.

Ana Paula, Eluizia, Hélia, Élita, dona Mariquinha, Maria Betânia, Lydiane, Elisângela e outras associadas participaram também de uma oficina de Turismo de Experiência, na qual foram apresentados os pilares de uma experiência turística: oferta e demanda turística e governança.

Para o consultor da Lab Turismo Lucas Diniz, um dos pontos centrais do projeto é o alimento, que conversa com a paisagem. “Tudo está relacionado. Entender a riqueza que está por trás disso faz toda a diferença. A paisagem fala sobre o lugar e também sobre as pessoas, as tradições alimentares e culturais. E as pessoas que estão nesse processo são o centro de toda a experiência”, afirma. 

A presidente da Associação Pegadas na Caatinga, Ana Paula Ferreira da Silva, diz que a força de vontade das mulheres, que são a maioria dos associados, é o grande ponto positivo para a experiência turística ter sucesso. “Queremos um turismo sustentável, autônomo, construído com o protagonismo da comunidade, e que o complexo arqueológico seja reconhecido como parte da comunidade Nova Esperança”, afirma.

Nos próximos meses, a comunidade irá receber da Lab Turismo uma consultoria para a formatação do turismo de experiência, elaboração de placas interpretativas para os sítios arqueológicos, capacitações sobre interpretação ambiental, guiamento e condução, mapeamento de produção agroalimentar, oferta de hospedagem comunitária e precificação.

O projeto Paisagens Alimentares prevê ainda a formação das lideranças das cinco comunidades selecionadas pelo projeto, e um encontro entre elas para a troca de experiências. “No final do projeto, vamos criar um Centro de Referência em Paisagem Alimentar contando a história dessas comunidades, localizadas nos estados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco, para servir de inspiração para outros grupos”, prevê Aluísio Goulart.

A experiência da jabuticaba - Localizado na Serra das Pias, zona rural do município de Palmeira dos Índios (AL), o centenário sítio Monte Alegre, de José Hélio da Silva, é um dos roteiros turísticos que oferece aos visitantes a “experiência da jabuticaba”. A visita ao local pode ser considerada um turismo de vivência, no qual os visitantes conhecem a diversidade uma propriedade agroecológica e seus plantios, convivem com os produtores e experimentam a gastronomia local, que pode ser o arroz de jabuticaba, a galinha capoeira, além de frutas e legumes da região, todos preparados pelas mãos dos agricultores.

A experiência é complementada com a venda de produtos feitos com a jabuticaba, como geleias, compotas e o famoso fermentado/vinho de jabuticaba, todos produzidos pela Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa - COOPCAM. 

“A partir do momento em que nós começamos a produzir alguns produtos derivados da jabuticaba, as pessoas vinham aqui, provavam e queriam conhecer o lugar de onde vinham essas frutas. Então começamos a trazer pequenos grupos na época da safra para conhecerem as famílias produtoras. Isso foi crescendo, começaram a vir grupos escolares, famílias e a proposta foi crescendo”, conta  Salete Barbosa, secretária da cooperativa. 

Com o auxílio do projeto Paisagens Alimentares, da Embrapa Alimentos e Territórios, e da consultoria Lab Turismo, foi feita uma avaliação preliminar da comunidade e uma vivência técnica da experiência no dia 29 de maio. No dia 30, os associados participaram de uma oficina de planejamento estratégico das experiências turísticas para possibilitar mais visitas e, consequentemente, o aumento da renda dos cerca de 40 cooperados, respeitando o meio ambiente e as tradições locais. 

A ideia é estruturar um roteiro que reúna a experiência de visitar as propriedades produtoras de jabuticaba aos demais atrativos da região, fortemente inspirados no turismo religioso associado à Frei Damião e ao Cristo do Goití, monumento de 24 metros localizado na Serra do Goiti, a mais de 500 metros de altitude. 

“As pessoas viajam para viver experiências fora da realidade delas. Por isso precisamos preparar a experiência turística que será ofertada. Nos próximos meses vamos dar assessoria aos cooperados para ajudar a aprimorar a experiência e divulgá-las, para que mais pessoas possam vivenciá-la. No caso das propriedades aqui de Palmeira dos Índios, a maior riqueza é a autenticidade da experiência local”, afirma o consultor Richard Alves.

O agricultor Josué Pereira, de Igaci (AL), participou da visita técnica ao sítio Monte Alegre. “Temos a preocupação de organizar o turismo rural, algo interessante para ser trabalhado inclusive nas salas de aula. Temos as serras para os estudantes estudarem o relevo, o solo, remanescentes de vegetação nativa, sítios arqueológicos com pinturas rupestres, ou seja, uma série de atrativos naturais que para a maioria das pessoas ainda é invisível”, disse. 

A tradição do café - “A nossa região já passou pelo ciclo do café, com produção em larga escala. Hoje são as pequenas famílias que ainda conservam os pés de café, fazem a torra em casa, consomem e comercializam o produto. A Embrapa tem nos incentivado a melhorar a produção de café, tanto que já temos uma parceria com um viveiro que produz várias mudas para fazer novos plantios e assim não perdemos essa variedade que é típica e adaptada à nossa região”, conta o produtor José Hélio Pereira da Silva, presidente da COOPCAM. 

A colheita do café diretamente nos pés também faz parte da experiência turística que será ofertada pelas propriedades locais a quem buscar o turismo de experiência de base comunitária. "Entendemos a paisagem alimentar como um conceito ligado à produção alimentar do lugar, a relação do homem com o alimento e a produção agrícola. Os hábitos alimentares e os próprios alimentos são fortes componentes da cultura dos povos, uma vez que envolvem não só a escolha dos ingredientes, mas passam pelos ritos, oportunidades de socialização e até posicionamentos ideológicos”, explica o líder do projeto Aluísio Goulart. 

“Vamos iniciar agora um trabalho em rede, de parceria, para proporcionar o turismo de experiência aos nossos visitantes. Esse agora é o nosso grande desafio”, conclui o presidente da COOPCAM. 

Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Alimentos e Territórios

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