26/06/23 |   Agricultura familiar  Transferência de Tecnologia

Aplicativo de mensagens auxiliou na execução de projeto durante a pandemia

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Arquivo Mandiotec

Arquivo Mandiotec - Por meio do aplicativo de mensagens, produtores deram continuidade nas ações do Mandiotec.

Por meio do aplicativo de mensagens, produtores deram continuidade nas ações do Mandiotec.

No ápice da pandemia de Covid-19, um usual aplicativo de troca de mensagens foi decisivo para o acompanhamento e êxito de um projeto sobre cultivo de mandioca, na cidade de Marabá, região sudeste do Pará. A experiência está relatada em uma publicação que conta como produtores familiares finalizaram a implantação de Unidades Demonstrativas (UDs) de dois sistemas de produção com a cultura da mandioca, recebendo as informações técnicas, à distância, por meio da rede social. E a média de produtividade da raiz superou as expectativas.

»»»Clique aqui e acesse a publicação "Transferência de tecnologias por rede social digital para cultivo de mandioca e seus consórcios em Marabá, PA"

A cidade de Marabá é um importante polo do agronegócio paraense, e fica distante cerca 550 km de Belém, a capital do estado. Com a decretação do estado de pandemia, em 2019 e o avanço da doença nos anos seguintes, a equipe do projeto MandioTec (Tecnologias para agregação de valor e produção sustentável de mandioca por agricultores familiares na Amazônia), iniciado também naquele ano, precisou paralisar as atividades presenciais. A iniciativa de criar um grupo em um aplicativo de troca de mensagens e dar prosseguimento às ações, partiu dos próprios agricultores, conforme explicou o pesquisador Raimundo Brabo.

Conduzido no Pará pela Embrapa Amazônia Oriental, o MandioTec integra o Projeto Integrado da Amazônia (PiAmaz), financiado com recursos do Fundo Amazônia e operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O pesquisador relata na publicação, que nos primeiros meses de 2019 se estabeleceu uma parceria com a Associação dos Pequenos e Médios Produtores Rurais do Lagedo II, entidade então com cerca de 100 agricultores cadastrados.

Da parceria foram realizadas diversas atividades práticas e teóricas como cursos, um dia de campo e a instalação de experimentos, de forma presencial, no período de 11 de junho de 2019 a 19 de fevereiro de 2020, quando o acompanhamento físico precisou ser interrompido, atendendo às orientações sanitárias da época.

Alta produtividade da raiz nos experimentos animou os agricultores
 

Segundo o analista Moisés Modesto, responsável técnico do MandioTec, a alta produtividade nos experimentos animou os produtores, e isso motivou a criação do grupo de mensagens para que as atividades de transferência de tecnologia e as boas colheitas, não acabassem na época da pandemia.

O analista explicou que ao todo foram instalados 8 experimentos entre Unidades Demonstrativas, Unidades de Observação de duas tecnologias sociais campeãs de produtividades: O trio da produtividade e o Sistema Bragantino.

Saiba mais sobre as tecnologias

Trio da Produtividade da Mandioca - é um processo pedagógico desenvolvido para facilitar o entendimento e adoção das tecnologias pelos agricultores familiares consistindo em três componentes que mais impactam na produtividade da mandioca: seleção e corte reto da maniva-semente, plantio no espaçamento de 1 m x 1 m e controle de plantas daninhas durante os primeiros 150 dias de cultivo da mandioca.

Sistema Bragantino - A tecnologia dispensa o uso do fogo no preparo de área para plantio e visa o cultivo contínuo na mesma área, com realização de até três cultivos por ano, em rotação e consórcio de feijão-caupi com mandioca, milho ou arroz, em vez do cultivo solteiro da mandioca, como
opção ao modelo tradicional utilizado pelos agricultores

 

 

 

Os agricultores receberam as orientações técnicas de forma presencial desde o preparo do solo, plantio, tratos culturais, adubação e colheita, os quais foram realizados durante os 12 meses do ciclo da cultura.

Já nas primeiras colheitas, os experimentos registraram em média entre 30 e 40 toneladas de raiz por hectare/ano, o dobro da média do estado. Outra novidade que chamou a atenção dos produtores, foi a possibilidade de diversificação de produtos e com isso, incremento de renda e segurança alimentar, com o consórcio de outras culturas, como milho, feijão, jerimum e até melancia, como é preconizado pelo sistema bragantino.

Nos cerca de um ano e meio de acompanhamento virtual, foram totalizadas 1.381 e os frutos são colhidos até hoje, mais de um ano depois de encerradas as atividades.

 

MandioTec fortaleceu a tradição da mandiocultura da comunidade

 

A comunidade do Lagedo II já foi uma das maiores produtoras de mandioca do Sudeste do Pará, conforme relembrou o agricultor e técnico agrícola Arlei Petrônio Martins da Silveira, um dos entusiastas do projeto e membro do grupo de mensagens relatado na publicação.

O produtor comentou que a atividade começou a declinar em 2009, com a degradação do solo e ausência de acesso de tecnologias, levando diversas famílias de produtores a abandonarem o cultivo da mandioca. Por isso, afirma o produtor, a chegada do MandioTec foi recebida com bastante alegria na região. “Podemos voltar às nossas raízes”, comentou Arlei.

Animação que trouxe resultados, pois já nos primeiros anos do projeto Arlei chegou a registrar uma das mais altas produtividades registradas no MandioTec, com 80 toneladas/ha/ano.

Para Arlei, que segue incrementando a produtividade com os conhecimentos adquiridos, o MandioTec propiciou uma mudança total de forma de produção, pois até então ainda era comum o sistema de derruba e queima, sem sementes de qualidade, nem conhecimento de técnicas adequadas de espaçamento, tempo de limpeza e demais tratos culturais preconizados pelo sistema bragantino e trio da produtividade. “Para mim foi divisor de águas, pois consegui aumentar de 15 toneladas para 80, usando o trio da produtividade e de 15 para 30 toneladas, no sistema bragantino, que ainda me garantiu alta produtividade em milho, feijão, jerimum e melancia”, comemorou.


Comunidade ganha casa de farinha
 

O presidente da Associação de Produtores de Lagedo II, Ronildo Timóteo, também é outro entusiasta do Mantiotec. Ele conta que por meio do projeto vislumbrou a diversificação da produção e hoje colhe melancia nas entrelinhas do sistema agroflorestal que está implantado na propriedade.

Mas os ganhos não ficaram só por aí, e a expectativa é de conseguir posicionar novamente a comunidade do Lagedo II como grande produtora da raiz no município.

Isso porque, a partir dos conhecimentos adquiridos com o projeto, a associação se sentiu fortalecida, concorreu e conquistou uma casa de farinha mecanizada, por meio de parceria com a prefeitura de Marabá. “A casa de farinha será instalada ainda este ano e com as tecnologias trazidas pelo Mandiotec vamos estimular o cultivo da raiz não só na comunidade, mas comprar a mandioca de outras comunidades, fortalecendo toda a cadeia na região”, afirma o gestor da associação.
 

Kélem Cabral (MTb 1981/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

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