06/07/23 |   Agroecologia e produção orgânica

Fazendinha Agroecológica Km 47 completa 30 anos com comemoração

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Um projeto que há 30 anos rende bons frutos em pesquisa, ensino e extensão. Esse é o Sistema Integrado de Produção Ecológica (SIPA) – ou Fazendinha Agroecológica Km 47, como é carinhosamente chamado. Situada em Seropédica, no estado do Rio de Janeiro, a Fazendinha é uma verdadeira vitrine de tecnologias para a agroecologia e a agricultura orgânica, com foco na pesquisa, no ensino e na extensão, e seu aniversário foi comemorado nesta quarta-feira, dia 5, com direito a retrospectiva, discussões sobre o futuro da agricultura orgânica e as demandas do setor, descerramento de placa comemorativa, confraternização e até bolo.

“Só temos a agradecer àqueles que sonharam e que concretizaram esse espaço. Há 30 anos isso culminou em um proposito de vida que motivou e motiva uma série de homens e mulheres a estarem aqui e a fazerem deste um sistema integrado de ensino, pesquisa e extensão”, destacou a chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, Cristhiane Amâncio.

A cerimônia teve início com uma apresentação da linha do tempo da Fazendinha, feita pela professora Anelise Dias, membro do Comitê Gestor da Fazendinha e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Orgânica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ela destacou a importância do movimento a favor de uma agricultura alternativa, nos anos 1970, como propulsor do sonho que foi consolidado em 1993, com a implantação do SIPA, e também citou o relevante papel de instituições parceiras, como a Associação dos Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio). “Outro marco importante foi a legislação de orgânicos, em 2003, que foi fundamental para o crescimento da agricultura orgânica e a garantia de qualidade para os agricultores familiares”, lembrou.

Para o presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Paulo Renato Marques, o momento atual é, principalmente, de reflexão. “A gente tem que repensar o que vamos viver nos próximos 30 anos, com o agravamento das mudanças climáticas, com a variável da demanda social, sobretudo da necessidade de mais alimentos para uma população crescente. Agora, o que a gente precisa é produzir conhecimento para produzir muito mais com muito menos. É ótimo comemorar os feitos dos últimos 30 anos, mas precisamos pensar como vamos produzir alimentos nos próximos 30 anos e, por isso, todos os conceitos precisam ser repensados”, opinou.

O diretor do Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CTUR), Luiz Carlos Estrela Sarmento, destacou a importância da Fazendinha para os cursos de agroecologia, meio ambiente, hospedagem e turismo, agrimensura e, de forma geral, todos de nível médio. “A Fazendinha fez com que a gente confiasse, acreditasse e avançasse na educação dos nossos jovens com relação à agroecologia, a enxergar o que representa pra gente o meio ambiente”, citou. “Não foi fácil mudar. Lembro em 1989, nosso almoxarifado estava cheio de defensivos agrícolas. Mas mudamos. Começamos a diminuir as compras com defensivos e produtos químicos e hoje estamos como estamos, juntos com a Embrapa, a Pesagro e a Universidade”, completou.

O reitor da UFRRJ, Roberto de Souza Rodrigues, agradeceu pela presença de todos, ressaltando o papel histórico e simbólico da Fazendinha para a agricultura do País, e destacou ainda a importância do diálogo entre todas as esferas – sociedade, parlamento, executivo e judiciário – para a construção de um Brasil melhor. “Se não trabalharmos juntos e entendermos as diferenças, respeitando politicamente o diálogo e o que é acordado, não vamos reconstruir o País pos-pandemia”, argumentou.

O futuro da agricultura orgânica

Na parte da tarde, a programação trouxe uma mesa-redonda sobre as perspectivas futuras da agricultura orgânica, com a participação de Marenilson Batista da Silva, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA); Virgínia Cipriano Lira, do Ministério da Agricultura (Mapa); de Ghandi de Carvalho Pinto, da Abio; e Fábio Ramos, do Instituto Brasil Orgânico. A moderação foi da pesquisadora Maria do Carmo de Araújo Fernandes, da Pesagro-Rio. “A partir das discussões, espero que consigamos bons encaminhamentos para minimizar a situação que os agricultores orgânicos estão, considerando que houve um período muito difícil nos últimos anos. Estamos nessa luta há mais de 30 anos, então temos que acreditar que vamos ter um Brasil mais justo e, quem sabe, 100% orgânico”, iniciou Maria do Carmo.

Para Ghandi, que, além de presidente da Abio, é produtor orgânico, um dos principais desafios diz respeito à conservação da biodiversidade no universo agropecuário. “A natureza é complexa e por isso é preciso revisar o conhecimento constantemente”, pontuou. “Precisamos revisar nossa maneira de consumo, aproveitar o lixo, produzir respeitando a biodiversidade do planeta. Ter um Brasil 100% orgânico é utopia, mas precisamos lutar para expandir o alcance desses alimentos”, disse.

Marenilson, que é diretor de Assistência Técnica e Extensão Rural da Secretaria de Agricultura Familiar e Agroecologia do MDA, complementou a fala de Ghandi, destacando a preocupação governamental com a escuta dos agricultores e das populações rurais. “Temos uma preocupação muito grande de saber se o que estamos fazendo chega nas associações; ir em campo e sentir como a política pública chega na ponta”, diz. Segundo ele, são duas as vertentes principais de seu trabalho junto à assistência técnica e extensão rural: produção de alimentos saudáveis, que gerem remuneração digna ao agricultor e contribuam para reduzir ou zerar a fome no Brasil; e a recuperação de biomas, com a restauração ambiental e a produção com responsabilidade.

Já Fábio, do Instituto Brasil Orgânico, destacou principalmente como se dá a atuação da instituição junto ao poder público, no legislativo e no executivo, para pleitear e colocar em evidência nas discussões governamentares as temáticas afins aos sistemas de produção de base ecológica. “O Instituto é formado por pessoa que construíram a legislação de orgânicos. E atuamos, nos últimos quatro anos, junto ao Congresso Nacional. Só vão acontecer mudanças se conseguirmos nos fazer representar e ouvir”, afirmou. “Não construímos o movimento orgânico de forma racional. Foi um movimento emocional, a gente acreditava nele. E acho até que quem sonhou a Fazendinha não tinha dimensão do resultado que alcançou”, complementou.

Por fim, Virgínia, que é coordenadora da produção orgânica no Mapa, contribuiu com as discussões apontando os avanços na nova Política e no novo Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), que em breve deve ser consolidado. Ela também falou sobre a importância de um novo censo agropecuário, que está sendo planejado para 2025, para compreender melhor o setor de orgânicos no Brasil e o quantitativo de agricultores que se enquadram nesse nicho. “Hoje, temos 26.690 produtores no cadastro nacional de agricultores orgânicos, mas esse número é muito menor do que aponam os últimos censos agropecuários feitos pelo IBGE”, revelou. “Se as pessoas se declararam no censo como produtores orgânicos é porque de alguma forma se enxergam dentro do movimento. Então precisamos perseguir esse número. Se o excedente vai para a feira, então o agricultor tem que estar no cadastro”, disse.

Sobre a Fazendinha

A história da Fazendinha Agroecológica Km 47 se entrelaça com o início e a evolução das pesquisas sobre agroecologia e agricultura orgânica no Brasil. Implantado em 1993 e com uma área de 70 hectares, o espaço integra atividades de produção animal e vegetal. O manejo prioriza a reciclagem de nutrientes e o uso de desenhos de diferentes sistemas agrícolas, que envolvem rotações e consórcios de culturas, além da presença de espécies arbustivas e arbóreas como elementos de diversificação da paisagem. A pecuária leiteira é manejada com o emprego da homeopatia veterinária e de princípios de bem-estar animal, e todo o espaço é mantido de forma a conviver, em níveis toleráveis, com as populações de fitoparasitas e de ervas espontâneas, sem o emprego de técnicas que representem impactos negativos de natureza ecotoxicológica.

A Fazendinha foi concebida com base no enfoque sistêmico, ou seja, é formada por um conjunto de módulos relacionados e interdependentes, envolvendo produção intensiva de hortaliças orgânicas, produção de mudas, pecuária leiteira, avicultura de postura, glebas de produção de hortaliças-fruto, raízes e fruticultura orgânica, sistemas agroflorestais e fragmentos de mata com corredores ecológicos. Ao longo de seus 30 anos, mais de 40 tecnologias foram geradas, além do resgate de espécies vegetais tradicionais e da introdução e adaptação de inúmeras plantas ao manejo orgânico, especialmente hortaliças.

O espaço é gerido em parceria pela Embrapa Agrobiologia, a Pesagro-Rio, a UFRRJ e o CTUR, e recebe mais de mil visitantes anualmente, entre estudantes, agricultores, agentes de assistência técnica e extensão rural, professores e pesquisadores.

A solenidade também contou com a presença de parlamentares, membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro (Emater-Rio), além de pesquisadores, professores e estudantes das quatro instituições mantenedoras do espaço.

Liliane Bello (MTb 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia

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