09/08/23 |   Agricultura familiar  Biodiversidade  Mudanças climáticas  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Diálogos sobre bioeconomia e biodiversidade reúnem governo e sociedade

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Foto: Ronaldo Rosa

Ronaldo Rosa - Da esquerda para a direita: Bruna de Vita (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima), Ana Euler (Embrapa), Marcelo Salazar (Mazô Maná Nutrição) e Sandra Afonso (Serviço Florestal Brasileiro)

Da esquerda para a direita: Bruna de Vita (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima), Ana Euler (Embrapa), Marcelo Salazar (Mazô Maná Nutrição) e Sandra Afonso (Serviço Florestal Brasileiro)

Experiências, estratégias e oportunidades para o fortalecimento da bioeconomia amazônica foram debatidas no segundo dia do evento “Diálogos pan-amazônicos de biodiversidade”, nesta quarta-feira (9), em Belém. O debate reuniu representantes de governo, da pesquisa pública, de órgãos de fomento e empreendedores para dialogar sobre os desafios e propor soluções para o fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade da região.

“Diálogos pan-amazônicos de biodiversidade” foi um evento paralelo, realizado nos dias 8 e 9 de agosto, parte da programação da Cúpula da Amazônia, que promoveu o diálogo sobre o potencial da biodiversidade entre representantes dos países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Foi realizado pela Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais e Secretaria Nacional de Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, com a parceria da WWF-Brasil, TNC-Brasil, CEBDS, CI-Brasil, PNUD, PNUMA e OTCA. Assista aqui às discussões dos dois dias de evento: https://www.youtube.com/@TNCBrasil/streams

 

O painel “O desafio da construção da bioeconomia amazônica”, moderado por Carina Pimenta, secretária nacional de Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente, teve como debatedores Marcelo Salazar, CEO da Mazó Maná Nutrição da Floresta; Ana Euler, diretora de Negócios da Embrapa; Paulo Reis,cofundador e sócio das empresas Manioca e Amazonique; Tatiana Schor, chefe da Unidade Amazônia, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); e Sandra Afonso, coordenadora de Bioeconomia Florestal, do Serviço Florestal Brasileiro (SFB).

O trabalho em rede entre as comunidades, empresas e governos, além da necessidade de maior protagonismo do poder público municipal para a estruturação e o fortalecimento da cadeias da sociobiodiversidade estiveram no centro do debate. Para Marcelo Salazar, da empresa Mazó Maná, sediada em Altamira (PA), os custos envolvidos nas cadeias locais ainda é muito alto.

“Quando falamos em populações tradicionais, que seguram as grandes porções de floresta, um dos maiores desafios é romper a dificuldade de logística para os produtos oriundos dessas comunidades”, acrescentou. Ele acredita que para superar o desafio de dar escala à produção da bioeconomia e gerar valor aos produtos da biodiversidade, é preciso conhecer melhor esse mercado.

Paulo Reis, das empresas Manioca (em Belém, PA) e Amazonique (Ananindeua, PA), também destacou o custo da cadeia produtiva como um obstáculo à consolidação dos pequenos negócios nma região. “Não existe uma rede estruturada com assistência técnica, fornecedores. As pequenas empresas não conseguem suportar o custo de tudo isso”, reforçou.

Para ele, o debate sobre a bioeconomia não precisa ter como foco a floresta em pé, mas sim o desenvolvimento e a qualidade de vida da população. “A floresta em pé não é o foco, é consequência do desenvolvimento, da geração de renda e de uma vida melhor para a população da região. Cerca 90% dos paraenses não têm acesso a esgoto tratado. É um desafio que precisa estar conectado com o debate em torno da floresta”, acrescentou.

Sandra Afonso, do Serviço Florestal Brasileiro, ressaltou que 60% das florestas públicas federais estão sob a gestão de comunidades, o que considera uma grande oportunidade para a bioeconomia. “Mas é preciso capacitação das comunidades, agregação de valor aos produtos, tecnologias para aproveitamento de resíduos da ativiade madeireira, entre outras questões”, alertou.

Um estudo sobre o potencial da bioeconomia amazônica, publicado recentemente pela Embrapa, mostra que o açaí e o cacau, produtos da biodiversidade da região, tiveram valor de produção de quase R$ 4 bilhões em 2021, sendo 50% obtido na Amazônia. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e são analisados no estudo “Visões sobre bioeconomia na Amazônia: Oportunidades e desafios para a atuação da Embrapa”.

 

Atuação em rede e transformação digital

Ana Euler, diretora de Negócios da Embrapa, destacou que é preciso repensar a forma de atuar na Amazônia e fortalecer a atuação conjunta entre governo, empresas e comunidades, com foco na inovação social. A Embrapa possui uma estrutura robusta instalada na região, com Unidades de Referência Tecnológica, laboratórios, coleções genéticas de ativos da biodiversidade e rede de pesquisadores, que segundo a diretora, devem focar na bioeconomia da sociobiodiversidade. “Temos mais de 200 soluções tecnológicas para 50 cadeias produtivas da região, mas é preciso criar mecanismos e arranjos que levem a informação e as tecnologias aos agricultores familiares e comunidades da floresta”, afirmou.

Euler destacou ainda que somente 8% dos agricultores familiares, que vivem na Amazônia, têm assistência técnica regular, seja pública ou privada. De acordo com a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), na região estão cerca de 600 mil estabelecimentos classificados como agricultura familiar. “Precisamos buscar novas formas de pensar e fazer pesquisa na região para além dos gargalos tecnológicos, que já provamos ter excelência. Precisamos ir na direção dos gargalos não tecnológicos”, afirmou a diretora.

Nesse sentido, Ana Euler pontuou a transição digital como um dos eixos estratégicos de atuação da Embrapa. “As ferramentas digitais podem apoiar na integração e promover a inclusão socioprodutiva”, afirmou. Ela destacou a recente parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para a instalação dos Distritos Agro Tecnológicos - DATs no país, um deles no município de Breves na região do Marajó, no Pará, voltado à produção de açai e bubalinos. Os DATs funcionarão como espaços de soluções de conectividade em áreas rurais e inserção de tecnologias digitais em processos de produção agropecuária.

 

Protagonismo local

O debate em torno da manutenção da floresta em pé deve envolver fundamentalmente a bioeconomia urbana, que abarca os pequenos negócios com baixo aporte tecnológico, como os “batedores” de açaí, e a economia criativa, como eventos, feiras e ações culturais, segundo Tatiana Schor, do BID. “É preciso criar mecanismos para tirar a pressão sobre a floresta, mecanismos que gerem emprego a curto prazo. Isso tem que entrar na discussão da bioeconomia da floresta em pé”, afirmou.

Trazer o município para o protagonismo é fortalecer o que já existe, segundo Ana Euler, da Embrapa. Ela citou o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), ressaltou as feiras livres como primeiro ponto de escoamento da pequena produção nas áreas urbanas e lembrou dos viveiros de mudas instalados pelas secretarias municipais de agricultura.

Para Carina Pimenta, do Ministério do Meio Ambiente, e moderadora do painel, as falas dos painelistas deram concretude às questões que vêm sendo debatidas durante o período da Cúpula da Amazônia. Os organismos políticos têm o papel de fomentar e estimular os ecossistemas de inovação para a bioeconomia na região. “É preciso derrubar o muro entre as florestas e os municípios, descentralizar o crédito que está nas áreas urbanas e fazer chegar às comunidades”, finalizou.

Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

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