15/08/23 |   Agricultura familiar

Ciclo de palestras discute extrativismo e produtos da sociobiodiversidade

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Foto: Mauricilia Silva

Mauricilia Silva -

Com foco no extrativismo e produtos da sociobiodiversidade do Acre, o primeiro dia do Ciclo de Palestras da Expoacre 2023 teve como tema de destaque a cadeia produtiva da castanha-da-amazônia, também conhecida como castanha-do-pará ou castanha-do-brasil. Realizado entre os dias 31 de julho a  5 de agosto, no auditório instalado na Unidade Demonstrativa da Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri), no Parque de Exposições,  o evento contou com a participação  de extrativistas, produtores rurais, técnicos da extensão rural, gestores públicos e pesquisadores de várias instituições.

 

Lúcia Wadt, pesquisadora e chefe geral da Embrapa Rondônia, em sua apresentação no evento, destacou a importância da organização dos extrativistas em rede e citou o Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) como rede de organizações que atua e contribui com o desenvolvimento da cadeia de valor da castanha e na consolidação de um mercado justo que valorize os povos e comunidades que promovem a conservação da floresta. 

 

Uma das iniciativas do OCA, é o Coletivo da Castanha, grupo de WhatsApp que funciona como um canal de comunicação entre extrativistas e organizações de vários estados da Amazônia para  possibilitar a troca de informações.

 

Wadt explica que neste coletivo, os extrativistas têm acesso a informações sobre produção na safra e preço da castanha em diversas localidades da Amazônia, permitindo que os castanheiros mantenham-se informados na hora de negociar o produto e obter melhor preço. “Na época da safra da castanha, muitos ficam isolados nos castanhais coletando a produção. Isso ocasiona uma desinformação sobre o valor real que a castanha está sendo comercializada e pode trazer prejuízo para o produtor”, explica.

 

“Além de questões econômicas, no Coletivo da Castanha, o extrativista percebe que  problemas enfrentados em determinada região são semelhantes aos de outros estados da região. Conectados em um grupo, há  maior interação, a experiência de um pode ajudar a resolver um problema de outro”, reforça.

 

A pesquisadora Cleísa Cartaxo, da Embrapa Acre, apresentou ao público as contribuições da pesquisa para a cadeia produtiva da castanha-da-amazônia, com destaque para as vantagens da adoção das Boas Práticas de Produção  de Castanha, ativo qualificado pela Embrapa e disponibilizado ao setor produtivo e a instituições de assistência técnica. 

“As boas práticas possibilitam que o extrativista produza uma castanha dentro dos padrões nacionais e internacionais de segurança alimentar, além de possibilitar um adicional pago pelo produto, reduzindo perdas tanto para os extrativistas como para as usinas beneficiadoras”, pontua.

 

Cartaxo também destacou que ainda é preciso maior engajamento dos extrativistas na adoção desses procedimentos e aumento do volume de produção para atender mercados  que dão preferência por uma castanha de melhor qualidade.

 

 

Para a engenheira agrônoma Eneide Taumaturgo, da equipe técnica da Seagri e organizadora do painel, o evento foi bastante proveitoso. “As discussões vão nos ajudar a construir políticas públicas de agregação de valor dos bioprodutos da Amazônia. Tivemos uma participação muito boa dos produtores, isso demonstra que estão ávidos por informação, novos conhecimentos e por projetos que venham de fato desenvolver as cadeias dos produtos extrativistas, que têm grande potencial, mas precisam de upgrade para alcançar novos nichos de mercado”, comenta.

 

Segundo Eneide, as boas práticas de produção recomendadas pela Embrapa convergem com as ações do Governo do Acre. “Queremos trabalhar uma marca coletiva, um selo orgânico, e o mercado é muito exigente, principalmente, no caso da castanha que é um produto consumido in natura. Além disso, é importante que os extrativistas adotem as boas práticas, mas que também sejam remunerados pela qualidade do produto que oferecem”, acrescenta.

 

 

Castanhal é vida

 

O extrativista Duda Mendes, morador do Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes, conhecido popularmente como Seringal Cachoeira, diz que sem  floresta, o extrativista não tem para onde ir. "A castanha é a nossa sobrevivência. Quem tem um castanhal tem renda garantida. Mas precisamos organizar melhor a rede de castanheiros do Acre, seja participando de grupos no whatsapp ou realizando encontros. Isso vai nos possibilitar discutir assuntos de interesse, principalmente, com relação ao preço  da castanha na hora de negociar a produção,  unidos a gente só tem a ganhar", reforçou.

 

Duda também  enfatizou a necessidade de discutir um subsídio para a castanha, porque é um produto que gera emprego e a atividade proporciona a conservação da floresta e das castanheiras.

 

 

Mauricilia Silva (MTb 429/AC)
Embrapa Acre

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