31/08/23 |   Melhoramento genético  Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Produção animal

Câmara Setorial de Caprinos e Ovinos discute plano para controle de micoplasmose em rebanhos

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 - Plano prevê ações para que kits de diagnóstico e medicamentos sejam mais acessíveis ao setor produtivo

Plano prevê ações para que kits de diagnóstico e medicamentos sejam mais acessíveis ao setor produtivo

Um plano para controle de micoplasmoses nos rebanhos brasileiros foi apresentado nesta quinta-feira (31), na 70ª Reunião Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos do Ministério da Agricultura e Pecuária, que aconteceu em Esteio (RS), durante a Expointer - com participação de alguns integrantes e convidados de forma remota. Este grupo de doenças, que abrange Agalaxia Contagiosa, Ceratoconjuntivite e Pleuropneumonia Contagiosa Caprina, pode prejudicar até 90% da produção de leite caprino, além de outros impactos como ocorrência de mastite, problemas respiratórios, perdas reprodutivas e mortalidade de animais.
 
O plano é resultado de Grupo de Trabalho que foi coordenado pelo chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Caprinos e Ovinos, Cícero Lucena, e pelo médico-veterinário Paulo Gertner, e envolveu outros 13 pesquisadores, da Embrapa e de universidades brasileiras. A orientação, apresentada à Câmara Setorial, indica a necessidade de validação de testes de diagnóstico, desenvolvimento de testes rápidos para identificação da Agalaxia Contagiosa, realização de estudos de prevalência das micoplasmoses, apoio para validação de vacina e testes de medicamentos. 
 
A expectativa é que, após uma última etapa do plano, kits para diagnósticos e medicamentos sejam disponibilizados para o setor produtivo, ajudando no controle das doenças. “Os impactos são alarmantes. As perdas econômicas podem chegar a R$ 35 milhões, prejudicando, principalmente a agricultura familiar. Mas temos casos de ações em países como a Espanha, em que a disseminação foi controlada, e também podemos evitar que micoplasmoses se alastrem pelo Brasil”, ressaltou Cícero Lucena.
 
Integrantes do Grupo de Trabalho também destacaram a necessidade da adoção de um plano de controle em um prazo breve. “É urgente que o Ministério dê devida atenção a esse problema, incluindo a necessidade de abreviar trâmites para termos testes de diagnóstico e vacina”, ressaltou Paulo Gertner. “Se não tomarmos a frente, as micoplasmoses, em conjunto com outras doenças, podem prejudicar muito a produção de caprinos e ovinos no Brasil”, afirmou Selmo Alves, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos. Após a apresentação à Câmara Setorial, a ideia é de busca de fomento para financiar a implantação das medidas do plano de controle, que tem duração estimada de trinta meses para aplicação de todas as ações.
 
As micoplasmoses podem ser transmitidas nos rebanhos a partir do contato entre animais sadios e doentes ou pela contaminação no ambiente por secreções nasais, fezes e urinas. Entre animais jovens, a transmissão também pode acontecer via leite e colostro contaminados. A prevenção envolve diagnósticos periódicos no rebanho, medidas higiênicas no processo de ordenha e outras recomendações. Um Boletim Técnico da Embrapa com orientações sobre micoplasmoses pode ser acessado clicando aqui.
 
Avaliação Genética
 
Outra pauta da Reunião da Câmara Setorial foi a de situação atual e projeções sobre avaliações genéticas de caprinos e ovinos no Brasil. Além da experiência da empresa Biodata Ciência de Dados para avaliações e melhoramento genético de ovinos, a Embrapa apresentou seus programas e ações para caprinos leiteiros (por meio do programa Capragene®), caprinos de corte e ovinos deslanados.
 
A pesquisadora Ana Maria Lôbo, da Embrapa Caprinos e Ovinos, destacou os avanços do Capragene® em termos de escrituração zootécnica e controle leiteiro nos rebanhos participantes, desde 2006. Entre os principais resultados entregues ao setor produtivo, quatro sumários de avaliação genética, que disponibilizam ao público informações sobre os animais de maior potencial genético, permitindo aos criadores usar as estratégias de seleção e acasalamento mais apropriadas. 
 
Ana destacou que o programa, ao longo do tempo, foi incorporando avanços como as ferramentas de seleção genômica, que possibilitam confiabilidade ainda maior nos dados dos sumários. A pesquisadora frisou que, de 2009 até agora, os dados do Capragene® indicam crescimento contínuo de indicadores como os valores genéticos médios para produção de leite de cabra. “Uma das melhores formas de se avaliar um programa de melhoramento é observar os ganhos genéticos. Nos rebanhos do Capragene®, saímos de uma realidade de ganho genético negativo na produção de leite para um crescimento ascendente”, exemplificou ela, que destacou ainda a expansão do programa, inicialmente concentrado na região Sudeste, que chega agora a criatórios do Nordeste brasileiro.
 
Já as ações da Embrapa de melhoramento genético para caprinos e ovinos de corte foram apresentadas pelo pesquisador Olivardo Facó, da Embrapa Caprinos e Ovinos. Ele fez um resgate de experiências com programas e núcleos de melhoramento animal, cujos avanços resultaram em ferramentas hoje disponíveis para o setor produtivo, como o Sistema de Gerenciamento de Rebanhos (SGR) e o aplicativo SGR Mobile.
 
Facó trouxe à Câmara Setorial reflexões para que os programas de melhoramento para caprinos e ovinos tenham melhor estrutura e governança. Segundo ele, é importante que os programas tenham mais interface com a agroindústria e contem com o engajamento das associações de produtores. “Tudo isso é fundamental para os produtores definirem os critérios de seleção e melhoramento. E as associações têm um papel fundamental, de aglutinar criadores para objetivos em comum, de estabelecer parcerias, de estruturar provas zootécnicas e testes de desempenho. É preciso criar e fomentar um mercado de animais com avaliação genética para termos sustentabilidade”, reforçou ele.

Adilson Nóbrega (MTB/CE 01269 JP)
Embrapa Caprinos e Ovinos

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