21/11/23 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Sisteminha é apresentado em workshop sobre afrodescendentes e ruralidade da FAO

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O pesquisador Luiz Carlos Guilherme, da Embrapa Cocais, teve participação de destaque nas discussões do Workshop Técnico Regional sobre Afrodescendentes e Ruralidade na América Latina e Caribe, apresentando o Sisteminha, tecnologia versátil que engloba não apenas práticas agrícolas, mas também aspectos sociais e de renda com sustentabilidade ambiental. O evento foi realizado, nos dias 16 e 17 de novembro, em Santiago do Chile, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a Pontifícia Universidade Javeriana da Colômbia. 

O objetivo do evento foi promover um espaço de diálogo sobre as desigualdades e iniquidades enfrentadas pelas comunidades afrodescendentes nas áreas rurais – como a insegurança alimentar - e o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre governos, comunidades afrodescendentes e a comunidade internacional para identificar espaços de colaboração entre os países da região e as comunidades afrodescendentes e alcançar acordos sobre uma agenda comum que promova uma transformação eficaz e sustentável dos sistemas agroalimentares na região, conforme estabelecido pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Agenda 2030: ODS 1 – Acabar com a pobreza, ODS 2 – Fome Zero e ODS 10 – Redução das Desigualdades.

A participação da Unidade da Embrapa no Maranhão no evento é fruto de alinhamento e parcerias com os Ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome - MDS, da Integração e do Desenvolvimento Regional – MIDR. Parceria entre o MDA com a Embrapa Cocais irá implantar, no Brasil, 1000 Sisteminhas em comunidades tradicionais a partir de 2024, para contribuir no combate à insegurança alimentar e à fome no País.

Para Luiz Carlos Guilherme, considerando a significativa presença da população afrodescendente na América Latina e no Caribe, especialmente nas áreas rurais, o evento tem extrema importância e está em sintonia com diretrizes internacionais, como o Decênio Internacional para os Afrodescendentes e a Agenda 2030. “A inclusão do Sisteminha Comunidades no evento oferece uma oportunidade única para demonstrar como a solução tecnológica pode efetivamente combater a fome e promover a segurança alimentar em comunidades rurais. A colaboração entre governos, organizações sociais e acadêmicos, promovida por meio da criação de uma rede regional, será essencial para abordar desafios e oportunidades relacionados às comunidades afrodescendentes no meio rural da América Latina e do Caribe. Esse diálogo regional enfatiza a importância da pesquisa aplicada e da parceria entre instituições acadêmicas e governamentais na luta contra a fome e na promoção do desenvolvimento sustentável”.

Na apresentação realizada pelo pesquisador durante o evento, foi abordado como o Sisteminha Embrapa-UFU-FAPEMIG, na sua versão Comunidades, cria um ciclo integrado de produção de alimentos, com sinergia entre cultivo de plantas, criação de animais, manejo de resíduos e aquicultura e o papel fundamental da tecnologia no combate à fome e pobreza, melhorando a vida em comunidades rurais por meio da autossuficiência, respeito aos ciclos naturais e fortalecimento dos ecossistemas locais.

Também realizaram apresentações durante o evento o secretário Edmilton Cerqueira, de Territórios e Sistemas Produtivos Quilombolas e Povos e Comunidades Tradicionais do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar - SETEQ/MDA,  e o secretário Ronaldo dos Santos, de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos do Ministério da Igualdade Racial.

Segundo Cerqueira, “a importância do workshop é trazer para o debate a problemática das comunidades afrodescendentes do meio rural que tiveram papel histórico na construção das Américas mas, por outro lado, tiveram seus direitos negados no que se refere aos seus territórios, políticas públicas na área de educação, saúde, entre outras áreas. Com essa discussão, a FAO vai propiciar que esse tema ganhe o espaço que merece”.

Ronaldo dos Santos reforçou que “a comitiva brasileira veio debater a afrodescendência na ruralidade, que são os quilombos nas Américas, e o Sisteminha ocupa lugar muito importante nesse evento internacional e no País, pois é uma solução tecnológica eficiente para a subsistência e a comercialização nas comunidades rurais”.

Na ocasião, o INCRA e o MDA apresentaram a Política Pública de regularização de territórios quilombolas rurais e urbanos que já beneficiou 362 comunidades com o título definitivo de seu território. Trata-se de um esforço conjunto entre o Governo Federal, Governos Estaduais e Municipais que apresenta complexidades distintas e uma gama de desafios e oportunidades no processo de reconhecimento de direitos e de resgate de uma dívida histórica centenária.

O MDA apresentou ainda as políticas públicas voltadas para as comunidades quilombolas, povos indígenas e demais povos e comunidades tradicionais, trazendo as ações específicas para as mulheres e o enfoque sobre as mudanças climáticas, enfatizando o papel significativo que os povos e comunidades tradicionais têm na preservação ambiental e o impacto das mudanças climáticas nessas populações.

Fizeram também parte da comitiva do Brasil no evento, Luana Paré de Oliveira, analista Técnica de Políticas Sociais e assessora técnica na Secretaria de Territórios e Sistemas Produtivos Quilombolas e Povos e Comunidades Tradicionais do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar - SETEQ/MDA; Tereza Silva, coordenadora nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ; Roberto Alves de Almeida, chefe da Divisão de Identificação e Reconhecimento de Territórios Quilombolas, do Incra/DFQ; e Rafael Moreira Serra da Silva, coordenador de Políticas para Povos Ciganos, do Ministério da Igualdade Racial.

Entre os participantes internacionais, estiveram presentes representantes de Ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Rural relacionados a assuntos étnicos em relação a grupos afrodescendentes e organizações afrodescendentes, pesquisadores e organizações do Sistema das Nações Unidas do Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guiana, Honduras, Panamá, Peru e Suriname.

 

Articulação interna

A presença do Sisteminha no evento da FAO foi um trabalho realizado por vários setores da Unidade e que deve ser destacado. Segundo a secretária Viviane Santos, “é uma dinâmica totalmente diferente que se inicia com a carta convite da instituição que está organizando o evento, passa pelo Comitê Técnico Interno da Unidade para saber se o tema tem aderência com a agenda da Unidade, até chegar ao preenchimento dos formulários e lançamento da viagem no sistema. São várias etapas a serem percorridas, conduzidas por diversos atores, cada uma com sua especificidade”.

Cristiani Luna, supervisora do SGP, área responsável pelo processo de afastamento do País, deu suporte administrativo à viagem internacional. “Foi um trabalho gratificante. É um orgulho saber que faço parte da Embrapa e contribuo para dar visibilidade a trabalhos tão importantes no auxílio à segurança alimentar da sociedade e que alcançou visibilidade internacional”.

 

Como funciona o Sisteminha

A tecnologia social é apropriada para produzir alimentos em pequenos espaços, em áreas urbanas e rurais, para atender às necessidades nutricionais de uma família de quatro a cinco pessoas, de acordo com as recomendações nutricionais da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em um quintal de tamanho entre 100 e 1,5 mil metros quadrados, o Sisteminha expressa toda sua versatilidade, sendo possível a produção de peixes, ovos e carne de galinhas e codornas, suínos, porquinhos-da-índia, grãos, legumes, frutas, hortaliças, húmus de minhoca e composto orgânico, entre outros. Além de garantir a alimentação básica às famílias, possibilita também a geração de renda, pela comercialização do excedente da produção.

Toda a implantação do projeto é voltada para a redução de custos e seguindo modelo agrícola sustentável. “É uma metodologia simples, de fácil construção, que não interfere culturalmente nas famílias e consegue retirar as pessoas da situação de pobreza e miséria, gerando segurança e soberania alimentar em menos de sete meses. E, o principal, ensina as famílias a conquistarem sua independência alimentar e nutricional, melhorando sua autoestima e capacidade de resolver problemas relacionados à execução das atividades”, explica o criador do Sisteminha, o zootecnista Luiz Carlos Guilherme, pesquisador da Embrapa.

O modelo do Sisteminha Comunidades favorece a execução coletiva nas comunidades e a produção escalonada de alimentos. Com isso, o empreendedorismo vai além da estabilização da segurança alimentar e nutricional da família. O excedente da produção dos alimentos pode ser compartilhado, trocado e/ou vendido entre a comunidade das famílias e comercializado no mercado local para compra coletiva dos insumos e demais necessidades do negócio. “O papel dos multiplicadores populares, que são pessoas da comunidadecapacitadas para implantação e manejo do Sisteminha, é essencial para o sucesso do empreendimento coletivo. São eles que levam o conhecimento técnico-científico para o entorno das comunidades, assim sucessivamente, movimento que pode ser potencializado nas regiões com o apoio institucional”, destaca o pesquisador. Ele afirma que a versão escalada da tecnologia é o Sisteminha melhorado e foca no desenvolvimento socioeconômico da região com sustentabilidade.

Flávia Bessa (MTb 4469/DF)
Embrapa Cocais

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Mais informações sobre o tema
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