Evento para discutir o papel de Goiás na autossuficiência do trigo nacional
Evento para discutir o papel de Goiás na autossuficiência do trigo nacional
Expansão da cultura no Centro-Oeste é estratégica ao cumprimento da agenda estabelecida de produção de 20 milhões de toneladas/ano até 2030
Discutir o potencial de Goiás para tornar o Brasil não só autossuficiente na produção de trigo, mas também inverter a balança comercial, transformando o País em grande exportador do grão. Foi com esse desafio que o Conselho Temático da Agroindústria (CTA) da Fieg, o Sindicato dos Moinhos de Trigo da Região Centro-Oeste (Sindtrigo) e a Embrapa Trigo, promoveram quarta-feira (13/12) o Fórum do Trigo Tropical de Goiás.
O evento reuniu, na Casa da Indústria, em Goiânia-GO, representantes da indústria, produtores rurais e demais atores da cadeia tritícola. O fórum contou com painéis e palestras, que apresentaram detalhes sobre o potencial do Estado para o plantio do grão.
"Precisamos diversificar nossas culturas em Goiás. E o CTA-Fieg está aqui para incentivar esse movimento e fomentar o desenvolvimento em nosso Estado", afirmou Marduk Duarte, presidente do conselho, ao falar sobre o potencial do trigo em Goiás, destacando que "a meta é plantar trigo em Goiás, industrializar os grãos em Goiás e garantir o suprimento do consumo goiano, além de gerar renda exportando o excedente”, afirmou.
Dados da Embrapa mostram que a área propícia ao cultivo do trigo tropical no Brasil é estimada em 4 milhões de hectares, sendo 1,5 milhão disponíveis ao cultivo irrigado e 2,5 milhões ao cultivo sequeiro. Considerando a área potencial de produção de trigo tropical, apenas 12,5% são cultivados com o cereal. Os cultivos abrangem, além dos estados da região Centro-Oeste (GO, MT, MS e DF), Minas Gerais, São Paulo e Bahia.
"Temos muito espaço para aumentar a cultura do trigo em Goiás. Além de área para cultivo, nossas indústrias já possuem capacidade instalada para processar 700 mil toneladas/ano do grão. Entretanto, nossa produção está na casa de 300 mil toneladas/ano", argumentou Sérgio Scodro, presidente do Sindtrigo. Ele explicou que a qualidade do trigo plantado em Goiás é comparável aos melhores trigos do mundo e que é preciso superar alguns desafios para avanço da cultura no Estado, como aumentar o diálogo com os produtores de soja e equacionar a questão da armazenagem. "Estamos confiantes nesse avanço e empenhados nessa parceria técnica com a Embrapa para incentivar a cultura do trigo na região."
O diretor de administração e finanças do Sebrae/GO, João Carlos Gouveia, apresentou algumas ações da instituição voltadas ao suporte no caminho ao crescimento da triticultura na região: “Estamos investindo em programas voltados à capacitação de recursos humanos e ao fomento do trigo em Goiás, como redução de perdas, boas práticas de produção e selo de qualidade dos grãos e subprodutos”.
Potencial do Centro-Oeste
No Cerrado brasileiro, a produção de trigo em goiás vem crescendo nos últimos anos, e atingiu cerca de 300 mil toneladas na safra 2023. Isso representa um crescimento de 4,8 vezes no período de sete anos e é a maior produção da série histórica da cultura, desde 1982. Na comparação com a safra de 2022, o volume estimado para a produção goiana de trigo no ciclo atual representa um crescimento de 36,2%. O recorde é puxado principalmente pelo aumento da área plantada de trigo em Goiás, com uma expansão projetada de 33,3%. Os 100 mil hectares destinados para a cultura na safra de 2023 também representam a maior área do cereal já registrada no estado, de acordo com os agentes da cadeia produtiva goiana.
Apesar do Brasil não figurar entre os principais players mundiais na produção de trigo e de o cultivo do grão em território nacional estar concentrado no Sul do País (92%), vem de solo goiano o resultado de máxima eficiência na produção de trigo. Em 2021, no município de Cristalina, o Brasil atingiu o recorde mundial de produtividade/dia de trigo (80,9 kg/ha/dia), chegando a 9.630 kg/ha, em lavoura comercial em sistema irrigado. “O trigo veio para contribuir com os associados na Coopadf que tinham renda concentrada na soja e no milho. Uma terceira renda trazida pelo trigo garante segurança ao produtor nesta ‘indústria a céu aberto’ que é a agricultura”, avalia o produtor Paulo Bonato, detentor do recorde mundial de produtividade em 2021. “O trigo é o futuro para o nosso Estado”, conclui o produtor.
Opinião semelhante foi compartilhada pelo Chefe Geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski. Ele destacou o crescimento do trigo tropical no Brasil, que chegou a 1,3 milhões de toneladas em 2023, crescendo a área de cultivo em sete estados da federação. Segundo ele, o planejamento do complexo agroindustrial do trigo goiano para o próximo ano prevê diversas ações de transferência de tecnologia na região, como capacitação da assistência técnica para qualificar ainda mais a atuação no trigo tropical, através da parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), a instalação de novas Unidades de Referência Tecnológica em lavouras, palestras e dias de campo. “Vamos avançar ainda mais na agenda do trigo em Goiás, como parte da agenda 20-30, isto é, chegar a 20 milhões de toneladas de trigo/ano no Brasil até o ano de 2030”, afirma Lemainski.
“Nosso sonho é poder abastecer nossas plantas (moinhos) somente com trigo do Cerrado”, empresário André Lavor, do Moinho Centro-Norte.
Desafios e oportunidades
No âmbito das oportunidades, o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Ailton Vilela, ressaltou que o Sul do Brasil se aproxima do teto produtivo da cultura, com pouca margem para crescimento, por isso a importância dessa expansão para outras regiões: “A autossuficiência brasileira de trigo passa obrigatoriamente pelo Cerrado”.
Nesse sentido, o produtor Cláudio Malinski, que também é responsável técnico da COOPA-DF, defendeu que Goiás tem potencial para se tornar protagonista nessa produção. "O trigo é uma cultura que permite ganhar dinheiro, com manejo que traz excelentes resultados ao sistema de produção, como controle de nematoides, oferta de raízes que melhoram o solo e quebra no ciclo de doenças com rotação na soja, no feijão e no milho. O estado de Goiás tem potencial para tornar o Brasil grande exportador de trigo, assim como o Sul, revertendo o atual cenário de importação do cereal."
Durante o Fórum, foram apresentados os resultados agronômicos do projeto Transferência de Tecnologia ao Cultivo de Trigo em Goiás. O trabalho conduzido pelo engenheiro agrônomo Rodrigo Zuccolin, do Moinho Vitória, fez avalições de solo em cinco propriedades rurais em diferentes locais do Estado, para verificar limitações físicas e/ou químicas para maximizar a produção de trigo nas lavouras. “Constatamos resultados excelentes e outros a melhorar. Vemos produtores plantar na época certa, utilizar a melhor cultivar, o pacote fitossanitário mais eficiente, mas se o solo não está equilibrado, o resultado não é satisfatório. Com o solo pobre, sem correção das limitações físicas e químicas, o trigo não consegue expressar o potencial da cultura na região”, explica Rodrigo.
Os principais obtentores de genética de trigo tropical estiveram presentes no Fórum, apresentando cultivares e direcionamentos das linhas de melhoramento genético atuando no Brasil. Desafios como brusone (principal doença da cultura em ambiente tropical), déficit hídrico e calor são alvo de todas as empresas, com resultados que evoluíram gradativamente ao longo dos anos, permitindo ao trigo avançar no ambiente tropical. “A safra deste ano surpreendeu positivamente a todos nós, que estamos há décadas na triticultura. Conseguimos qualidade e produtividade, que indica o cenário de continuo crescimento para o cultivo da cultura na região. Pessoalmente, nos entusiasma ver o trigo avançando no Centro-Oeste”, declarou o presidente da Associação dos Triticultores de Minas Gerais (Atriemg), Eduardo Abrahim. Atualmente, o ambiente tropical conta com 14 cultivares indicadas para a região, em sistemas irrigado e de sequeiro.
O fórum O Papel de Goiás na Autossuficiência do Trigo Nacional contou ainda com apresentações de Álvaro Dossa (Embrapa Trigo), Marcio Só e Silva (Semevinea), Rodrigo Zuccolin (Moinho Vitória), Kênia Meneguzzi (Biotrigo Genética), Jonathan Pinheiro (Stonex Brasil), Josemere Both (OR Genética), Rafael Nornberg (OR Genética) e Léo Lobo (Leon Capital), além de painel com representantes de moinhos compradores locais.
O seminário foi transmitido ao vivo pelo Youtube e pode ser assistido no link https://www.youtube.com/live/J8ZmLiiYeAA.
Colaboração assessoria de comunicação da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG)
Joseani M. Antunes (MTb 9693/RS)
Embrapa Trigo
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