Café canéfora tem zoneamento de risco climático atualizado
Café canéfora tem zoneamento de risco climático atualizado
Foto: MALAVAZI, Fernando Wagner
Em 2021, o INPI concedeu denominação de origem aos Robustas Amazônicos
A versão atualizada do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) do café canéfora foi publicada nas Portarias nº 6 e nº 7 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os dados do zoneamento elaborado por especialistas da Embrapa para cultivo e produção já podem ser consultados no site do ministério. O Zarc delimita regiões e épocas de cultivo em classes de risco climático.
No caso do café, assim como nas demais culturas perenes, o Zarc se subdivide em dois estudos. O primeiro identifica os municípios com menor risco para o ciclo anual de produção considerando o cafezal estabelecido, em produção. Uma vez definidas as regiões com condições adequadas à produção, o segundo estudo define as épocas de menor risco para a implantação do cafezal, ou seja, considerando o plantio de mudas.
O setor produtivo e as instituições de crédito rural e de seguro que atuam com o café canéfora contam, agora, com a avaliação de riscos climáticos considerando o sistema de classificação de solo em 6ADs - que são classes de solo que determinam a capacidade de água disponível para a planta -, além de ser diferenciado em dois sistemas de produção (sequeiro e irrigado), entre outras possibilidades de especificação durante a consulta.
A novidade resulta do aprimoramento da metodologia de zoneamento e da incorporação de novos conhecimentos da cultura nos últimos dez anos, desde a última edição do Zarc para o canéfora, em 2010. Segundo dados do IBGE, 11 municípios de dez estados mantêm produção de conilon e robusta, variedades botânicas da espécie canéfora. Espírito Santo, Rondônia e Bahia são os principais estados produtores.
As variedades clonais da espécie canéfora, desenvolvidas pela Embrapa Rondônia, contam com experimentos no Acre e Roraima, sinalizando uma expansão da área de cultivo e de mercados internacionais, inclusive. Em 2021, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) concedeu a denominação de origem aos Robustas Amazônicos. Um reconhecimento das características únicas do café produzido na região e valorização do potencial para produção sustentável e da qualidade diferenciada. Para saber mais, clique aqui.
Produção - Dados do Observatório do Café apontam que o faturamento bruto dos cafés em 2023 ficou em quase 50 bilhões. Os cafés robusta e conilon, ficaram com o equivalente a 24% desse total, ou R$ 11,75 bilhões. Atualmente, o canéfora responde por 30% da produção de café no País, que na safra 2022/2023 ocupou quase 400 mil hectares, resultando em cerca de 16,2 milhões de sacas do café beneficiado, de acordo com a Conab.
Com mais cafeína, sólidos solúveis e ácido que o café arábia - que domina os mercados nacional e internacional em que o Brasil é líder - o canéfora tem destinação específica para a produção de café solúvel e de blends.
A maior resistência a algumas doenças e a menor dependência de insumos, bem como a possibilidade da produção sustentável e com inclusão social, têm motivado a Embrapa a manter programas de melhoramento voltados às variedades do canéfora. A espécie é cultivada por agricultores familiares e, basicamente, no sistema manual de produção, explica o responsável técnico da cultura no programa de zoneamento, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, Gustavo Costa Rodrigues.
Setor produtivo participa de validação do zoneamento
Como forma de conferir robustez ao zoneamento, a equipe responsável pela atualização do Zarc do café canéfora realizou duas reuniões de validação com o setor produtivo. Um dos encontros reuniu produtores do Norte e Nordeste e outro com redes e cooperativas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O diálogo viabiliza a incorporação de contribuições ao estudo antes da publicação.
Durante as reuniões, os especialistas explicaram o que é o zoneamento, detalhando as metodologias e parâmetros climáticos utilizados. Déficit hídrico, no sistema de produção em sequeiro, assim como temperaturas muito baixas (geada) ou muito elevadas são os principais riscos climáticos da cultura que balizaram os critérios adotados neste zoneamento, utilizado no planejamento da produção e redução de riscos, exigido para obtenção do seguro rural. O responsável técnico da cultura explica que o zoneamento é um estudo de probabilidade feito por meio de metodologia de análise de variáveis como temperatura, tipo de solo e disponibilidade hídrica.
Os dados são cruzados com a frequência do risco climático extraída de 3.500 estações meteorológicas espalhadas pelo Brasil, com histórico de 30 anos. Após o trabalho de parametrização e simulações, realizado com metodologia desenvolvida por equipe da Embrapa Agricultura Digital, o material passou por uma etapa de pré-validação junto a 15 pesquisadores de unidades da Embrapa que atuam nas áreas de fitotecnia e melhoramento genético do café canéfora.
“Contamos com a contribuição de especialistas da Embrapa Café, Cerrados, Acre, Rondônia, Pesca e Aquicultura. E a ideia é identificar lacunas que possam ter escapado na fase anterior e, assim, ajustarmos a simulação a partir de informações de quem está vivendo a cultura. Desse modo entregamos um produto final confiável para fins de planejamento e acompanhamento de riscos da cultura”, detalha Rodrigues.
Aplicativo gratuito facilita consulta ao Zarc O Zarc-Plantio Certo é um aplicativo desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital e disponível de forma gratuita para sistemas operacionais Android (Google) e iOS (Apple), que auxilia produtores e agentes da cadeia do agronegócio, por meio da disponibilização das informações oficiais do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), numa interface de fácil compreensão. A consulta ao Zarc-Plantio Certo permite que o usuário receba a indicação das diferentes taxas de riscos (20%, 30% e 40%) de perdas por eventos meteorológicos adversos, atrelados às suas respectivas épocas de plantio, abrangendo o café canéfora entre as 43 culturas e todos os municípios do território nacional. Acesse aqui informações sobre a ferramenta. |
Valéria Cristina Costa (MTb. 15533/SP)
Embrapa Agricultura Digital
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