Agricultores orgânicos do Sul de Minas de Gerais conheceram, em 15 de março, a primeira versão de um conjunto de formulários digitais para certificação de sua produção. Mais do que facilitar o trabalho de responder centenas de perguntas, a expectativa é que a troca do preenchimento em papel pelo eletrônico gere bancos de dados úteis para gestão de cooperativas e associações, assim como órgãos públicos que queiram desenvolver políticas para esse segmento produtivo. Os formulários foram desenvolvidos pela Embrapa, em parceria com a Central das Associações de Produtores Orgânicos do Sul de Minas, a Cooperativa Orgânica Agroflorestal Comuna da Terra, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IF Sul de Minas) e o Ministério da Agricultura e Pecuária - Superintendência de São Paulo. Os documentos correspondem aos planos de manejo enviados periodicamente pelos agricultores às instituições que atestam o caráter orgânico dos produtos - sistemas participativos de garantia ou empresas certificadoras. Nesses documentos, eles registram cada detalhe da produção, cultivo por cultivo, talhão por talhão. Se há plantio de cenouras, por exemplo, é preciso informar a quantidade de sementes plantadas, como foram adquiridas, quanto se espera colher, cada produto utilizado como fertilizante ou para o combate de doenças e pragas, para quem foram vendidas, entre muitas outras informações. Há que se reportar dados gerais sobre a propriedade, como medidas de conservação de solo, proteção de fontes de água e destinação de resíduos. “O que estamos entregando para vocês é uma versão Alpha, que esperando ir aprimorando”, disse a líder da iniciativa, a pesquisadora Gisele Freitas Vilela, da Embrapa Territorial, no evento de entrega, que aconteceu na reitoria do IF Sul de Minas, em Pouso Alegre, MG. Além dos planos de manejo, a equipe da Embrapa criou formulários digitais para o cadastro e os cadernos de campo. Estes últimos, atualmente, ficam apenas em posse dos agricultores para conferência periódica pelas organizações de controle. Com a conversão deles em formulários digitais, essas organizações poderão ter acesso mais rápido e de forma sistematizada às informações que eles contêm. “Eu enxergo como uma enorme vantagem, uma vez que a gente consiga evoluir com esse aplicativo, a unificação das informações e a proposta de geração de dados sobre colheita, estimativa de produção, insumos mais usados. Isso é o mais interessante da proposta”, avalia Carolina Sant’Anna Villela, produtora de frutas e grãos orgânicos em São Vicente de Minas, MG. Coordenadora de um dos núcleos da Orgânicos Sul de Minas, a Organização de Produtores Agroecológicos do Alto do Rio Grande - OPAA, ela acredita que a sistematização de dados pode contribuir para a organização coletiva, para compras de insumos, vendas de produtos e investimentos em maquinários, entre outras possibilidades. A produtora Ana Rita de Oliveira Ávila Nossack, que está à frente da Orgânicos Sul de Minas, acrescenta que a digitalização dos formulários, em especial dos cadernos de campo, pode trazer uniformidade nos sistemas de anotações dos produtores. A expectativa é que isso facilite a gestão da organização, com seus 14 núcleos. Origem Obter, reunir e gerir dados sobre o segmento de produção orgânica foi a origem do projeto que permitiu a criação dos formulários digitais. Uma equipe da superintendência do MAPA procurou a Embrapa, ainda em 2018, buscando uma solução para carência de dados organizados sobre o setor. A partir daí, começou uma série de interações com agentes da cadeia produtiva, em especial na Comissão da Produção Orgânica de São Paulo - CPOrg/SP. Com um protótipo de solução desenhado com diferentes instituições, chegou-se ao projeto Pró-Orgânico. Vilela pontuou que a entrega da ferramenta é apenas mais uma etapa do trabalho. Os produtores terão o uso acompanhado por pelo menos um ano, para avaliação do funcionamento e identificação de necessidades de melhoria. Neste momento, os formulários digitais ficarão disponíveis apenas para os agricultores da Orgânicos Sul de Minas e da Comuna da Terra. Os agricultores desta última já tinham sido apresentados aos formulários, em um encontro no mês de fevereiro, em Ribeirão Preto, SP. Apesar do uso restrito dos formulários, o Pró-Orgânico já disponibiliza, no Portal Embrapa, um ambiente digital com um conjunto de materiais para auxiliar o produtor rural no processo de gestão da produção orgânica e agroecológica. Um deles é uma Organoteca, com as principais tecnologias, publicações, vídeos e áudios informativos da Embrapa na temática. Também estão disponíveis para consulta uma planilha de custos para a gestão financeira da produção, lista de fertilizantes, corretivos, substratos e fitossanitários permitidos.