Comunidades de Sergipe recebem capacitação em paisagens alimentares para a promoção de turismo sustentável
Comunidades de Sergipe recebem capacitação em paisagens alimentares para a promoção de turismo sustentável
Foto: Renata Kelly da Silva
Catadoras de mangaba, marisqueiras, lideranças comunitárias, gestores e estudantes de Indiaroba participam de capacitação e troca de saberes
Cerca de 30 catadoras de mangaba, marisqueiras, lideranças comunitárias, gestores e estudantes do município de Indiaroba, em Sergipe, participaram de capacitação e troca de saberes com foco na promoção do turismo de experiência baseado na paisagem alimentar local como alternativa para o desenvolvimento sustentável da região. Foram três dias de atividades teóricas e práticas realizadas ao final do mês de abril de 2024, com cerca de 30 participantes, na sede da Associação dos Moradores do Povoado de Pontal, em Indiaroba (SE), por meio do projeto Paisagens Alimentares.
Este projeto busca promover uma nova visão do alimento, ao relacioná-lo com as pessoas e o saber-fazer local, o território e suas belas paisagens, aliados às dinâmicas sociais, econômicas e ambientais como proposta para um turismo de experiência e de base comunitária que seja sustentável. Esta interrelação tem potencial para promover agregação de valor e o desenvolvimento de regiões, com a adoção de estratégias voltadas à oferta de experiências únicas que aliam turismo, gastronomia e a cultura local. São ações que incentivam a atuação coletiva das comunidades e em rede, que podem contribuir para que as pessoas das comunidades saiam de situações de vulnerabilidade e se posicionem como agentes de transformação local.
Durante as capacitações, o público pode acessar conhecimentos e trocar experiências e saberes acerca dos efeitos das mudanças climáticas nos modos de vida das comunidades e sobre estratégias para minimizar os impactos destas mudanças no agrossistema local. Também conheceram diretrizes e ações que fazem parte do conceito de paisagens alimentares e do projeto proposto, sob o olhar dos potenciais de sua comunidade e região. As atividades também abrangeram o compartilhamento de conhecimentos sobre gestão de negócios, cooperativismo e associativismo, chegando à precificação de produtos turísticos. Ações colocadas em prática em um processo participativo com a comunidade e de acordo com os desafios e potenciais apontados pelos próprios participantes.
“Saber que a gente pode ter mais valor no nosso trabalho e na nossa comunidade, fazendo o que a gente aprendeu com nossos pais, avós e que a gente ama fazer só nos enche de motivação. Agora é colocar em prática o que a gente viu aqui e fazer acontecer”, afirma Assilene Tavares, que é catadora de mangaba desde criança. Segundo ela, a mangaba e os produtos que são feitos a partir deste fruto são importantes fontes de renda para as famílias da comunidade, aliadas à cata de mariscos e às atividades turísticas realizadas na região. Para o professor da UFAL, Carlos da Costa, é fundamental que as pessoas da comunidade atuem de forma coletiva para buscarem soluções e melhorias, protegendo seu território e valorizando as atividades que desempenham. “Neste processo participativo que utilizamos na capacitação, os desafios, os potenciais e as soluções surgem dos próprios participantes, o que dá mais autonomia para que eles possam conduzir este processo”, explica o professor.
Durante as atividades, foram apresentados os potenciais de agregação de valor para os alimentos locais, em especial a mangaba, quando combinados a toda riqueza da biodiversidade da região e ao saber-fazer das pessoas locais, que vêm sendo passado de geração para geração. A mangaba pode ser utilizada em diversos pratos e bebidas, aliando gastronomia, tradição, histórias e as belas paisagens do município e região, que combinam rios, manguezais, mar, restingas e dunas. Esta combinação tem potencial para proporcionar experiências únicas aos turistas que buscam por sabores únicos, vivências singulares, valorização da cultura e de sistemas alimentares locais.
Para Aluísio Goulart, coordenador do projeto Paisagens Alimentares, os potenciais identificados são fundamentais para demonstrar para as comunidades e gestores públicos e da iniciativa privada as possibilidades de promoção do desenvolvimento do território a partir da cultura alimentar, assim como sua relação com as pessoas e o território. “Pretendemos fortalecer e valorizar os saberes tradicionais, estimulando iniciativas que promovam a geração de renda e qualidade de vida nas comunidades, com a prática de um turismo de experiência sustentável, com o consumo de produtos regionais e de tudo que o envolve. Acreditamos que isso possa contribuir para promover, valorizar e preservar os territórios, sua biodiversidade, a cultura alimentar, os saberes e tradições locais.
As capacitações foram conduzidas pela equipe da Embrapa Alimentos e Territórios, com o engenheiro agrônomo Fabrício Bianchini e a turismóloga e bolsista do projeto Lydayanne Nobre, em parceria com especialistas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Carlos da Costa e Lívia Alves. Também contou com a participação do consultor José Ferreira, representante da Agrosuisse, empresa que está realizando o levantamento de informações para a caracterização das paisagens alimentares nos locais de atuação do projeto. O Paisagens Alimentares é realizado pela Embrapa Alimentos e Territórios (AL) e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Catadoras de mangaba são símbolo da sergipanidade
O trabalho extrativista realizado pelas catadoras de mangaba foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Sergipe pela lei nº 8.918, de 11 de novembro de 2021, mesma lei que considera a mangaba Patrimônio Cultural Material de Sergipe. Isso, dada a relevância social e econômica desta atividade para o estado, que é responsável por cerca de 90% da produção brasileira de mangaba, que ocorre do litoral sul até a foz do Rio São Francisco, até o litoral norte de Sergipe.
A catação de mangaba é uma tradição repassada de geração para geração em comunidades ribeirinhas no litoral de Sergipe, sendo relevante para a cultura e alimentação locais. As catadoras de mangaba começaram a se unir para ações conjuntas em 2007, mas a primeira associação formal foi registrada só em 2009. Trata-se da Associação das Catadoras de Mangaba e Indiaroba (Ascamai), a primeira associação registrada em Sergipe.
Atualmente, as catadoras de mangaba de cerca de 60 comunidades estão organizadas em associações que buscam a proteção e promoção da cata, do processamento e da comercialização da mangaba como fonte de renda e garantia de segurança alimentar e nutricional para diversas comunidades. As catadoras, além de multiplicarem seus conhecimentos produzem diversos produtos a partir da mangaba como biscoitos, trufas, balas, licores, geleias, doces entre outros. Estas mulheres realizam também outras atividades como a coleta de frutas de restingas como murici, araçá e caju, atuando também como marisqueiras e pescadoras.
Sobre o nome “mangaba”, tem origem indígena e quer dizer “coisa boa de comer”. Trata-se de uma fruta rica em vitamina A, B1, B2 e C, além de ferro, fósforo, cálcio e proteínas e pode ser consumida in natura ou processada utilizada na produção de diversos alimentos.
Projeto Paisagens Alimentares: potenciais turísticos
Para potencializar o turismo de forma sustentável em paisagens alimentares da região Nordeste, este projeto tem realizado o levantamento e a caracterização de regiões potenciais, com o objetivo de propor roteiros turísticos que estejam alinhados aos sistemas alimentares tradicionais, valorizando os saberes locais e a rica história dos territórios. Aliado a isso, a ideia é fortalecer os elos da economia local e promover o desenvolvimento sustentável da região.
Em 2023, cinco localidades foram selecionadas como potencialidades em turismo de experiência e de base sustentável. Em Alagoas, foram a Serra das Pias, em Palmeira dos Índios, e as riquezas do Rio São Francisco – incluindo os municípios de Olho d’Água do Casado, Delmiro Gouveia e Piranhas. Já em Sergipe, a seleção envolve catadoras de mangabas, marisqueiras, doceiras e beijuzeiras localizadas em Indiaroba e São Cristóvão. Uma comunidade remanescente de quilombolas de Rio Formoso e as marisqueiras de Barra de Sirinhaém, que compartilham o mesmo território de manguezais na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guadalupe, em Pernambuco, completam os territórios selecionados.
Além da identificação e proposição de rotas turísticas, a equipe do projeto já iniciou ações de capacitação e qualificação dos atores locais envolvidos nas cadeias produtivas e turísticas. O objetivo é sensibilizar as comunidades para os potenciais existentes, incentivar a atuação coletiva, fortalecer os elos da economia local e promover o turismo de experiência com base na paisagem alimentar como alternativa para o desenvolvimento sustentável das regiões.
Renata Kelly da Silva (MTb 12.361/MG)
Embrapa Alimentos e Territórios
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