Embrapa contribui com iniciativa para reduzir impactos da seca no Corredor Seco da América Central
Embrapa contribui com iniciativa para reduzir impactos da seca no Corredor Seco da América Central
A Embrapa, por meio de sua Assessoria de Relações Internacionais (Arin) e da Embrapa Solos, Embrapa Semiárido e Embrapa Agricultura Digital, participou da reunião do comitê de apoio ao projeto sub-regional “Inovação para a redução de riscos agroambientais nos países do Corredor Seco da América Central: Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e Gestão de Recursos Hídricos”, em Tegucigalpa, Honduras, de 13 a 17 de maio.
O projeto, que teve início em dezembro de 2023, é executado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em conjunto com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) e ministérios da agricultura de Guatemala, El Salvador, Honduras e Brasil, além do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais guatemalteco. O objetivo principal é promover a troca de informações sobre convivência com a seca entre especialistas e gestores brasileiros e dos países que integram o Corredor Seco Centro-Americano, debatendo alternativas para redução do impacto da seca e aumentar a resiliência e a adaptação às alterações climáticas na região.
Representando a Embrapa Solos, Gustavo de Mattos Vasques ministrou a palestra “Barragem subterrânea aplicada ao Corredor Seco Centro-Americano”, mostrando e debatendo a importância dessa tecnologia social no redesenho de agroecossistemas de base familiar dos territórios rurais do Semiárido brasileiro. O pesquisador explicou que a barragem subterrânea é uma tecnologia social de captação e estocagem de água da chuva para usos múltiplos que vem fortalecendo a soberania e a segurança alimentar e nutricional das famílias agricultoras do Semiárido, com potencial significativo para ser implantada nos países do Corredor Seco da América Central, desde que se tenham áreas que apresentem condições geoambientais para sua construção.
“A barragem subterrânea é uma alternativa tecnológica que pode desenvolver mudanças positivas nos sistemas de produção e proporcionar mudança social, aumentando a qualidade de vida das populações vulneráveis na sua capacidade de reprodução social e econômica”, disse Vasques.
A barragem subterrânea é uma tecnologia de domínio público, e as ações de PD&I vêm sendo desenvolvidas desde a década de 1980, inicialmente pela Embrapa Semiárido, dando origem ao seu modelo atual com algumas inovações, a exemplo da utilização de lona plástica, em vez de pedras e cimento. A partir de 2007, a Embrapa Solos, por meio da sua Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento (UEP) em Recife, iniciou o desenvolvimento de ações de PD&I com barragem subterrânea que têm contribuído com estratégias de mitigação e enfrentamento às mudanças climáticas na região.
Anderson Ramos de Oliveira, pesquisador da Embrapa Semiárido, ministrou palestra sobre as contribuições do seu centro de pesquisa para a convivência com a seca no Semiárido brasileiro, refletindo sobre as inúmeras soluções tecnológicas e inovações geradas ou adaptadas para a melhoria da qualidade de vida das famílias e para promover a sustentabilidade e a competitividade da agropecuária na região.
“No Semiárido brasileiro, os efeitos da escassez de chuva vêm sendo minimizados graças ao avanço das pesquisas realizadas há mais de 50 anos pela Embrapa e instituições parceiras. Entre as inúmeras tecnologias estão os sistemas de captação e manejo de água de chuva – como as cisternas rurais, barreiros e barragens subterrâneas, a agricultura biossalina, reuso das águas cinzas pelo bioágua familiar, práticas de manejo para o aumento da umidade do solo e estratégias para conservação de forragens. Estas tecnologias podem perfeitamente ser reaplicadas nas comunidades rurais dos países do Corredor Seco, respeitando as condições ambientais locais e as vocações das famílias agricultoras“, frisou Oliveira.
Santiago Vianna Cuadra, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital, participou remotamente da reunião para falar da experiência da Embrapa no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), mostrando a viabilidade de adaptar essa ferramenta às condições dos países participantes e de realizar um trabalho-piloto de zoneamento de algumas lavouras em municípios do Corredor Seco da América Central. O Zarc é um sistema de informação que prevê as épocas mais adequadas para semear culturas com baixo risco de perdas devido a eventos climáticos adversos, fornecendo ferramentas de gestão que antecipam eventos climáticos e ajudam a mitigar impactos negativos nos sistemas agroalimentares e nos mercados de commodities e alimentos.
"Diversos países da América Latina, Caribe e África não têm capacidade técnica estabelecida para quantificar e mitigar os riscos do clima na produção. Com o agravamento da crise climática em curso, esses países não têm conseguido de forma efetiva quantificar e mitigar os riscos climáticos. Nesse contexto, a Embrapa tem apoiado alguns países, por meio da FAO e da ABC/MRE, na compreensão metodológica e potenciais aplicações de estudos de quantificação dos riscos climáticos, notadamente baseados no Zarc. Espera-se que, em breve, através de um convênio com a FAO, possamos ampliar nosso apoio a esses países", disse Cuadra.
Henoque Ribeiro da Silva, pesquisador da Arin, coordena a governança do processo de relacionamento institucional no âmbito do projeto. Ele explicou que a reunião em Honduras teve como metas avaliar junto às contrapartes envolvidas na cooperação os avanços, desafios e alternativas encontradas e os ajustes necessários para atingir os objetivos do projeto, bem como ampliar conhecimentos em Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e gestão de recursos hídricos entre os participantes.
O projeto
O projeto “Inovação para a redução de riscos agroambientais nos países do Corredor Seco da América Central: Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e Gestão de Recursos Hídricos” é uma ação do projeto “Iniciativa América Latina e o Caribe sem Fome 2025”, do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO. É executado pela FAO, em conjunto com a Agência Brasileira de Cooperação, Ministério da Agricultura, Pecuária e Alimentação e Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais da Guatemala; Ministério da Agricultura e Pecuária de El Salvador; Secretaria de Agricultura e Pecuária de Honduras e Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil. Conta, ainda, com a cooperação técnica da Embrapa e da Associação Brasileira dos Órgãos Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural, Pesquisa Agropecuária e Regularização Fundiária (Asbraer).
“O projeto sobre Zarc e gestão de recursos hídricos tem vigência de 18 meses e será desenvolvido a partir de uma perspectiva sub-regional, visando melhorar as capacidades institucionais de tomada de decisão relacionadas com os sistemas produtivos do Corredor Seco da América Central em três países: Guatemala, El Salvador e Honduras, em áreas de agricultura familiar e em desenvolvimento rural”, declarou Ronaldo Ferraz, da FAO Brasil, coordenador da Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025.
Composto por sete países da América Central, o Corredor Seco abriga cerca de 10,5 milhões de pessoas, a maioria na Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala. Mais de dois milhões de famílias vivem da agricultura dependente de chuva nessa região e estão em constante risco de insegurança alimentar, vivendo abaixo da linha da pobreza, em virtude dos danos da seca agravados pelas mudanças climáticas globais.
Os pesquisadores explicam que, no âmbito dessa cooperação técnica com os países do Corredor Seco da América Latina, a Embrapa contribuirá com sua experiência em estratégias de planejamento agrícola em áreas dependentes de chuvas, por meio do Sistema de Informação Zarc e da gestão dos recursos hídricos, e terá a oportunidade de intercambiar conhecimentos com técnicos e comunidades rurais dos países participantes.
Fernando Gregio (MTb 42.280/SP)
Embrapa Solos
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fernando.gregio@embrapa.br
Com Informações da Agência Brasileira de Cooperação e FAO
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