19/01/16 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Artigo: Safra da uva 2016 - o que está acontecendo?

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Mauro Celso Zanus

Chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho

 

Está ocorrendo uma das safras mais complicadas dos últimos anos para o setor de vitivinícola do Rio Grande do Sul.  Eventos de granizo, geadas e o excesso de chuvas, determinado pelo fenômeno climático El Niño, têm causado uma perda significativa na produtividade dos vinhedos em todas as áreas produtoras de uvas do RS. Tudo começou com um inverno de temperaturas amenas (30 a 40% de horas de frio, comparado com o normal), fazendo brotar menos ramos nas videiras. Depois veio uma frente fria entre os dias 11 a 15 de setembro que atingiu todas as regiões produtoras, ocasionando geadas de média a forte intensidade, também comprometendo a brotação das plantas e diminuindo a produtividade.  Nos meses de setembro, outubro e novembro tivemos chuvas bem acima do normal, prejudicando a fecundação das flores e raleando os cachos.  O excesso de umidade também favoreceu o surgimento de doenças diretamente nos cachos,  com mais queda da produção.  Com as chuvas mais recentes de dezembro e início de janeiro, a qualidade da maturação também é atingida, com a diminuição de açúcar das uvas. Embora alguns vinhedos, pela sua localização particular, tenham sido pouco afetados, a maioria das áreas foram atingidas, como há muito tempo não se via no estado do RS. Ainda é cedo para uma avaliação mais precisa das perdas na safra de uva no RS em 2016, mas deve ficar, no mínimo, em 25 a 30%.

Assim, temos agora viticultores afetados pela pouca produção e pelo baixo teor de açúcar das uvas e uma indústria vinícola que se ressente de uma quantidade adequada para atender uma demanda crescente de sucos de uva e para repor os estoques de vinhos de mesa, vinhos base de espumante e diversos vinhos finos.

A instabilidade climática determinada pela mudança climática e pelo El Niño e as questões de oscilação de produção proveniente da gestão da agricultura familiar (rentabilidade, motivação, saída do jovem do campo) devem ser objeto de atenção de toda a cadeia produtiva.  Muitas soluções podem ser buscadas para atenuar esses problemas, como um seguro agrícola de melhor qualidade, que dê a tranquilidade ao produtor, bem como uma adequada remuneração da matéria-prima. Ao mesmo tempo, toda a cadeia produtiva deve buscar mecanismos para o uso mais intenso de novas tecnologias - como, por exemplo,  a adequação de variedades para cada local, o uso da viticultura de precisão e o manejo integrado de pragas.

Findada essa safra, a Embrapa e sua grande rede de pesquisa e transferência de tecnologias, propõe, junto com os demais elos da cadeia produtiva,  um amplo debate na busca da modernização tecnológica do setor,  capaz de atenuar as consequências de um clima cada vez mais instável, de muitos eventos extremos e prejudiciais aos cultivos.

*Artigo publicado na edição do dia 19 de janeiro de 2016 no Caderno Campo e Lavoura do  jornal Zero Hora

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