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Técnicos de cooperativas conhecem tecnologias da Embrapa em trigo tropical no Brasil Central

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Técnicos visitaram os experimentos com trigo tropical na Embrapa Cerrados

Técnicos visitaram os experimentos com trigo tropical na Embrapa Cerrados

Cerca de 20 assistentes técnicos de cooperativas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste estiveram no Distrito Federal e no Entorno para conhecerem as experiências de sucesso da pesquisa científica e de produtores rurais da região com a cultura do trigo tropical. Acompanhados por pesquisadores e analistas da Embrapa Trigo (RS), eles participaram, nos dias 10 e 11 de julho, da terceira etapa da Capacitação em Trigo Tropical – Bases Técnicas para o Avanço da Triticultura Tropical, promovida pela Embrapa e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), com visitas técnicas à Embrapa Cerrados (DF), à Cooperativa  Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF) e às propriedades da família Bonato, em Cristalina (GO) e de José Guilherme Brenner, em Planaltina (DF).

Na Embrapa Cerrados, os visitantes foram recebidos pelo pesquisador Júlio Albrecht, representando a chefia da Unidade. Ele destacou a importância adquirida pela triticultura irrigada na região do Brasil Central nos últimos anos e a expansão da área cultivada. “Na década de 1980, trabalhava-se em 4 a 5 mil ha, e hoje estamos com quase 400 mil ha. Na década de 1990, muitos não acreditavam no trigo, mas nós sempre acreditamos e demos continuidade ao trabalho, Hoje, temos resultados excelentes, produzindo o melhor trigo do Brasil em qualidade e produtividade, inclusive batendo o recorde mundial com a cultivar BRS 264, que saiu dos campos experimentais desta Unidade”, comentou.

Albrecht também citou o desenvolvimento da cultivar BRS 404 para o cultivo de sequeiro. “Neste ano, mesmo com as condições adversas que tivemos aqui, principalmente de seca, brusone e calor, com perdas de lavouras, o material está produzindo 20 a 30 sc/ha, mantendo um PH* acima de 80, que é aceito pelos moinhos”, disse. Diante desses resultados, o pesquisador aposta no potencial do trigo na região do Cerrado, cultura que, segundo estimativas, pode alcançar uma área de 4 milhões ha com o sistema de sequeiro e, nas áreas com mais de 800 m de altitude, de 1 a 1,5 milhão ha com o sistema irrigado.

“Acreditamos que vamos contribuir bastante para que o Brasil alcance a autossuficiência em trigo. Precisamos de 12 a 13 milhões t/ano, e a região dos Cerrados proximamente deve produzir 1 a 1,5 milhão t/ano. Com a continuação dos trabalhos do nosso programa de melhoramento genético, talvez chegue a produzir 2 milhões t/ano”, projetou o pesquisador, lembrando que a média de produtividade atual do trigo irrigado na região está em torno de 100 sc/ha, com bons produtores obtendo até cerca de 130 sc/ha em média, sendo que o recordista mundial Paulo Bonato obteve 160 sc/ha.

Já o trigo sequeiro tem produtividade média em torno de 25 sc/ha a 33 sc/ha, podendo alcançar 66 sc/ha. O pesquisador pontuou que na região, em média, de cada 10 anos de safras de trigo sequeiro, o produtor tem perdas em dois ou três, colhe mais ou menos em dois e consegue cinco anos bons. “Essa é a realidade. Mesmo assim, o produtor acha o trigo interessante porque ele traz benefícios para o sistema de produção, principalmente no controle de nematoides, de pragas e do Fusarium sp. Então, o trigo está se encaixando muito bem dentro do sistema de produção na região, entrando também como opção ao milho, que tem enfrentado problemas com os enfezamentos”, explicou, ressaltando a importância da continuidade dos trabalhos de pesquisa em melhoramento genético em busca de materiais mais produtivos e tolerantes ao calor e à seca, no caso do trigo sequeiro, e com maior potencial produtivo, no caso do irrigado.

Por fim, ele salientou que um dos fatores que contribuem para a qualidade do trigo produzido na região, com alta força de glúten e estabilidade da massa, itens importantes para a indústria, é a colheita realizada no período seco do ano, ao contrário do que ocorre no Sul do País, o que permite aliar o potencial genético das cultivares às condições climáticas.

Avanços na pesquisa

O pesquisador Ricardo de Castro, da Embrapa Trigo, falou sobre as contribuições da Unidade, em Passo Fundo (RS), para o programa de melhoramento genético de trigo tropical da Embrapa, explicando como são realizados os cruzamentos entre os genótipos promissores.

Ele destacou o foco no desenvolvimento de variedades de sequeiro mais tolerantes à seca, ao calor, bem como de materiais para o cultivo em sistema irrigado com maior rendimento de grãos e plantas mais tolerantes ao acamamento, além de maior precocidade e resistência à brusone (principal doença que acomete o trigo tropical) e outras doenças em ambos.

“Estamos sempre preocupados em introduzir os genes de resistência existentes para brusone”, disse, citando os estudos que estão avaliando o uso da translocação cromossômica 2NS/2AS como fonte de resistência à doença, além da introdução do gene HB4, oriundo do girassol, para tolerância à seca em cultivares de trigo tropical. Além de disponibilizar novas cultivares com essas tecnologias, ideia é incorporá-las, nos próximos anos, às cultivares adaptadas ao ambiente tropical, como a BRS 264 (trigo irrigado) e a BRS 404 (trigo sequeiro). “Acreditamos que daqui a uns três anos esses materiais estarão chegando aos produtores”, projetou.

Castro também citou o trabalho de apresentação dos descritores morfológicos de novas cultivares para a obtenção da proteção e do registro junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária, bem como o uso da metodologia speed breeding associada à seleção para resistência à brusone, que ao apressar o desenvolvimento das plantas, permite a obtenção de várias gerações por ano, acelerando o trabalho de caracterização e a seleção de genótipos mais resistentes à doença.

Já o analista Bruno Lemos, também da Embrapa Trigo, lembrou que após a etapa de melhoramento genético, as sementes genéticas das cultivares de trigo tropical da Embrapa são multiplicadas para a produção de sementes básicas na Fazenda Sucupira, atual Centro de Inovação em Genética Vegetal (CIGV) da Embrapa Cerrados, em Brasília, para então serem licenciadas a empresas privadas.

Visita aos experimentos

Nos campos experimentais da Embrapa Cerrados, os técnicos conheceram os experimentos com trigo sequeiro e com trigo irrigado. Na área de trigo sequeiro, o pesquisador Jorge Chagas, da Embrapa Trigo, apresentou os tratamentos com diferentes densidades de plantio, épocas de semeadura e doses de nitrogênio, além de ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) e faixas de plantio com testes de melhoramento genético. Já Angelo Sussel, pesquisador da Embrapa Cerrados, falou sobre a avaliação da eficiência de fungicidas para o controle da brusone, considerando a época de semeadura, a rotação de moléculas e o manejo das doenças foliares.

Também pesquisadores da Embrapa Trigo, Joaquim Soares Sobrinho falou dos ensaios conduzidos em áreas de parceiros em Minas Gerais e em Goiás, bem como as contribuições na avaliação de ensaios com trigo irrigado em Minas, enquanto Vanoli Fronza comentou sobre os ensaios de VCU de trigo sequeiro em lavouras comerciais da região do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF).

Já na área com trigo irrigado, Júlio Albrecht falou sobre a inserção da triticultura irrigada na região, sobretudo em sistemas de rotação de culturas com o feijão para quebrar ciclos de pragas e de doenças. O cultivo do trigo sob pivô de irrigação também tem viabilizado a produção de batata e outras hortaliças.

O pesquisador comentou que as pesquisas buscam desenvolver materiais de alta produtividade e força de glúten, tolerância à brusone e às manchas amarela e marrom, resistência ao acamamento das plantas e precocidade para economizar água e energia, lembrando que a cultivar BRS 264, lançada há mais de 15 anos, é uma das mais precoces do mundo. Ele também citou as ações de melhoramento genético realizadas na Unidade, como a seleção de plantas, a retirada de espigas para avaliação e a condução e avaliação de ensaios de VCU, até o lançamento de cultivares.

Os visitantes conheceram, ainda, parcelas de teste com as primeiras linhas de plantas da cultivar BRS 264 com o gene HB4, apresentadas por Ricardo de Castro.

Produtores ressaltam rendimento e qualidade de grãos

Na visita à propriedade da família Bonato em Cristalina, pai e filho (Paulo e Felipe) mostraram o resultado de três gerações trabalhando para chegar ao sucesso com a produção de trigo. A fazenda, inclusive, já foi recordista mundial em produtividade média diária com a cultivar BRS 264. Nesta safra, grande parte dos produtores da região estão sofrendo com a seca, que tem afetado tanto o cultivo de trigo de sequeiro, assim como o trigo irrigado, que disputa a estrutura de pivôs com a produção de hortaliças.

“Nossa produção de trigo de sequeiro, com a cultivar BRS 404 foi de 27 sc/ha, um rendimento não tão alto, mas com excelente qualidade. O PH ficou em 84. Então, nem sempre o foco é rendimento, é preciso equilíbrio para garantir o melhor preço”, contou Paulo Bonato.

No trigo irrigado, as lavouras de cultivares BRS 254 e BRS 264 estão direcionadas à produção de sementes e a expectativa é de alto potencial de rendimento, já que a sanidade e o tamanho das espigas indicam os bons resultados. “O alto investimento no manejo tem trazido retorno com o trigo, mas o planejamento começa muito antes da instalação da lavoura e segue com acompanhamento diário em cada talhão”, afirmou Felipe Bonato.

Experiências da região inspiram visitantes

Os assistentes técnicos da cooperativa CVale Thiago Schussler, Carlos Miguel Schneider e Augusto Padovan fazem parte do grupo da OCB que participa da capacitação em triticultura tropical. Apesarem de atuarem somente na Região Sul, eles destacam a importância de conhecer a realidade do Brasil Central: “Estamos vendo experiência de produtores que vamos repassar para os nossos cooperados, como modelo de manejo das propriedades e, principalmente oportunidades para melhorias na produção. Por exemplo, no Cerrado, os produtores entendem a cultura de inverno como parte do sistema de produção, sem considerar os custos e a renda apenas no trigo de forma isolada. Nosso produtor precisa avaliar melhor os ganhos do inverno no sistema, trazendo benefícios para o solo e para a soja no verão”, explicou Carlos.

Também participante da capacitação, Luan Pivatto, técnico da Cooperalfa, de Dourados (MS), ressaltou a importância do trabalho conjunto entre as unidades da Embrapa para o desenvolvimento da triticultura tropical. “Como profissionais de campo, sentimos uma segurança maior nas pesquisas com essa união. Isso fortalece muito nossas perspectivas futuras de autossuficiência do trigo nacional e a confiança para darmos recomendações aos produtores. Vimos que a Empresa está unindo forças para essa agenda da autossuficiência e tivemos uma boa visão do que está por vir”, comentou.

Ele contou que a triticultura no Mato Grosso do Sul foi retomada há pouco tempo e ainda vive um processo tímido de crescimento. “Mas sabemos que precisamos insistir, e com essas pesquisas temos a segurança de que vai dar certo”, apostou.

*Peso Hectolitro. Medida da massa de 100 litros do trigo, expressa em quilos. Constitui um atributo de qualidade dos grãos. Para fins de panificação, o PH deve ser igual ou superior a 78. Lotes de grãos com PH abaixo de 78 Kg/hL são rebaixados de tipificação, perdendo valor.

Joseani M. Antunes (MTb 9693/RS)
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