Simpósio reúne especialistas para ampliar o debate sobre matéria orgânica do solo
Simpósio reúne especialistas para ampliar o debate sobre matéria orgânica do solo
Evento ainda serviu para o lançamento de livro que compila décadas de estudos sobre a matéria orgânica do solo em ambientes tropicais e subtropicais no Brasil
Mais de 180 especialistas, entre técnicos, pesquisadores, produtores rurais e representantes de empresas ligadas ao setor agrícola, reuniram-se no dia 17 de julho, na Embrapa Meio Ambiente em Jaguariúna (SP), para discutir o papel fundamental da matéria orgânica no solo.
O Simpósio "Entendendo a Matéria Orgânica do Solo em Ambientes Tropical e Subtropical", foi uma iniciativa da Embrapa Meio Ambiente, em parceria com a Embrapa Instrumentação, a Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq/USP), a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a empresa de biosoluções Rovensa Next.
O principal objetivo do evento foi explorar a complexa rede que sustenta a vida na Terra, abordando o ciclo, os nutrientes, os compartimentos, as interações e as funções da matéria orgânica em ambientes tropicais e subtropicais. Durante o evento, os especialistas discutiram a influência da matéria orgânica na produtividade agrícola, na mitigação das mudanças climáticas e seus benefícios, como a melhoria da estrutura do solo, a retenção de água, a disponibilidade de nutrientes e a promoção da biodiversidade. Os debates enfatizaram a necessidade de uma abordagem integrada e multidisciplinar para enfrentar os desafios da agricultura moderna e das mudanças climáticas, incentivando a troca de conhecimentos entre os participantes.
Wagner Bettiol, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e um dos organizadores do evento, destacou que o solo é um ecossistema vivo e dinâmico, composto de minerais, matéria orgânica, ar, água e organismos, contendo mais carbono orgânico do que a atmosfera e a vegetação combinados. "É neste ambiente vivo que as reações químicas, físicas e biológicas regulam o estoque, as formas e os fluxos de nutrientes, energia e carbono. O processo contínuo de decomposição da matéria orgânica é fundamental para a estruturação do solo, a manutenção da fertilidade, a retenção de água e nutrientes. Além disso, os compostos orgânicos são fonte de alimento para os organismos do solo, fatores indispensáveis para a produção sustentável de alimentos, fibras e bioenergia", explicou Bettiol.
Paula Packer, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, reforçou a importância de discutir a ciência e a saúde do solo ao abordar problemas como poluição, mudanças climáticas e perda de biodiversidade. "Todos esses elementos passam pela saúde do solo, em mitigação, adaptação e sequestro de carbono, além da agricultura regenerativa e do microbioma", destacou.
Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, professor da Esalq/USP, abordou o tema “Matéria orgânica do solo e o equilíbrio global de carbono” demonstrando a importância do equilíbrio global de carbono para a manutenção da qualidade e da diversidade da vida na terra. Cerri discutiu como a adoção de sistemas de manejo conservacionistas, como plantio direto, sistemas integrados (lavoura-pecuária, lavoura-pecuária-floresta e agroflorestais) e manejo conservacionista de pastagens tem modificado o quadro acelerado de degradação do solo, de perdas de safras e de redução da produtividade das culturas. Também apresentou os potenciais da agricultura brasileira em colaborar com a redução das emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera.
Já o professor da UFLA Carlos Alberto Silva ressaltou a importância do carbono e sua relação com o solo, a água e os organismos vivos. "Ao mover o carbono de um lugar para outro, como da planta ou do solo para a atmosfera, sempre haverá consequências. Esses desdobramentos impactam diretamente no ciclo das águas, regime de chuvas e até nos eventos climáticos extremos, passando pela perda de fertilidade dos solos e favorecendo uma condição mais árida nas lavouras pela oferta de água insuficiente para a manutenção das culturas", afirmou o professor.
Silva alertou para o deslocamento do carbono do solo e das plantas para o ar, destacando a rapidez com que esse equilíbrio está sendo alterado. “Nos últimos 30 anos, modificamos mais o carbono do que nos últimos 2000 anos. A natureza passou todo esse tempo construindo uma diversidade de moléculas que desempenham funções essenciais para a manutenção da vida na Terra. Precisamos preservar essa riqueza", enfatizou o professor.
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Cristiano Andrade abordou durante o simpósio o tema: uso de resíduos orgânicos e biocarvão no sequestro de carbono no solo e obtenção de co-benefícios para a agricultura. Na oportunidade apresentou dados dos estudos de uso de resíduos na cultura da cana-de-açúcar, do uso de lodo de esgoto em longo prazo e do potencial do uso de biocarvão na agricultura visando aumento de produtividade e da sustentabilidade agrícola. Além das vantagens para a agricultura demonstrou que a utilização de resíduos na agricultura colabora com o sequestro de carbono pelo solo.
O que disseram os participantes
O produtor de café Ricardo Ferreira Santos, do Sul de Minas Gerais, destacou que já busca elevar a matéria orgânica dos solos de sua fazenda há alguns anos. "Esse simpósio foi uma ótima oportunidade para aprimorar conceitos e obter informações que me ajudem a alcançar melhores resultados, principalmente na quantificação dos diferentes sistemas", afirmou.
A estudante da UFLA Rafaella de Sá enfatizou a importância de promover mais encontros desse tipo, com simpósios e debates sobre projetos de sequestro de carbono. "Não só pelo livro que foi lançado, que reúne muito conhecimento, mas pela causa global do aquecimento que estamos enfrentando. Aumentar as parcerias entre as universidades e a Embrapa para promover mais encontros de apresentação de resultados e contribuições é algo vital. A discussão final também foi excelente, quase como uma mesa-redonda, com diversas dúvidas de diferentes campos", comentou.
José Pedro Santiago, agrônomo com criação de Guzerá PO em Extrema (MG), destacou a relevância dos trabalhos da Embrapa. "É muito importante a Embrapa desenvolver trabalhos e promover encontros sobre a importância da matéria orgânica, que além dos diversos benefícios para o solo, agora assume uma importância ainda maior pela manutenção do carbono no solo, contribuindo assim para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. A Embrapa está de parabéns", afirmou.
Na apresentação de Ladislau Martin Neto, pesquisador da Embrapa Instrumentação, foram apresentados resultados de projetos que demonstram o sequestro de carbono no solo em áreas de grãos, pastagens e sistemas integrados (ILPF). Utilizando técnicas avançadas como espectroscopia de quebra induzida por laser (LIBS) e imagens de alta resolução (NanoSIMS), os estudos revelaram dados inéditos sobre a quantificação e estabilização do carbono no solo tropical. A cooperação internacional com Alemanha e Estados Unidos foi essencial. Martin Neto ressaltou a importância da colaboração público-privada e das pesquisas realizadas diretamente em propriedades rurais (on-farm research).
Lançamento de livro
Durante o evento, foi lançado o livro "Entendendo a Matéria Orgânica do Solo em Ambientes Tropical e Subtropical". Editado pelos pesquisadores Wagner Bettiol, Carlos Alberto Silva, Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, Ladislau Martin Neto e Cristiano Alberto de Andrade, a obra contou com a contribuição de outros 70 pesquisadores que sistematizaram quase 50 anos de estudos sobre a matéria orgânica do solo em ambientes tropicais e subtropicais no Brasil.
Cada capítulo termina com "considerações finais", onde os autores aprofundam a discussão sobre a importância da matéria orgânica do solo, destacando tecnicamente o aumento do sequestro de carbono no solo. A obra estabelece conceitos fundamentais e exemplifica como novas tecnologias podem surgir a partir dessa base conceitual. "Essa publicação com certeza traz muitos insights e conhecimentos para quem quer colaborar com as demandas do momento e do futuro, principalmente para a produção de alimentos", afirmou Rafael Leiria Nunes, diretor da Rovensa, empresa patrocinadora da primeira tiragem do livro.
A obra é leitura indispensável para engenheiros agrônomos, florestais, ambientais, biólogos, ecólogos, zootecnistas, economistas, estudantes e outros interessados no tema. É possível fazer o download do livro gratuitamente aqui.
Marcos Vicente (MTb 19.027/MG)
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