Tecnologias da Embrapa permitem aumentar a produtividade e a qualidade da melancia cultivada em terra firme
Tecnologias da Embrapa permitem aumentar a produtividade e a qualidade da melancia cultivada em terra firme
Foto: Síglia Souza
Melancias cultivadas em terra firme permitem obter renda na entressafra das melancias cultivadas em várzea
Tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Amazonas, conseguem aumentar a produtividade e a qualidade da melancia cultivada em terra firme, melhorando o sistema de produção para a agricultura familiar no Amazonas.
Esses são alguns dos resultados dos trabalhos realizados pela equipe do projeto "Tecnologias para a produção de melancia por agricultores familiares do Estado do Amazonas", coordenado pela pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Marinice Cardoso. As pesquisas desse projeto são financiadas pela Embrapa, com apoio de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam).
No município de Iranduba (AM) a média de produtividade é de 3.500 frutos por hectare, enquanto nos experimentos e nos plantios demonstrativos da Embrapa onde foram adotadas as tecnologias a produtividade foi de 6.600 frutos por hectare, quase o dobro. Os recursos tecnológicos utilizados vão do preparo e manejo do solo, passando pelo preparo de mudas, utilização de cultivares adaptadas às condições locais e resistentes a doenças, controle de insetos e irrigação por gotejamento, entre outros.
Conforme a pesquisadora, o segredo para o bom desempenho dos cultivos é que todos esses elementos componentes do sistema de produção sejam adotados criteriosamente, com o mesmo grau de importância, conforme as recomendações.
Marinice explica que o preparo do solo e o manejo da fertilização são fundamentais porque a melancia exige além de bons níveis de nutrientes, boa condição física do solo. "O preparo de mudas comparado à semeadura direta no local do plantio facilita o manejo cultural quanto ao controle de insetos-praga, de doenças e de invasoras na fase inicial do ciclo da cultura, além de diminuir o gasto de sementes por área e ser determinante para a uniformidade do estande de plantas, aliado à sensível redução dos gastos com mão-de-obra nessa fase e com água de irrigação", informa a pesquisadora. A utilização de cultivar adequada também é fator-chave para o sucesso da cultura, sendo indicadas aquelas bem adaptadas às condições de clima e solo da região, que sejam produtivas, precoces e resistentes às doenças mais relevantes. As cultivares Rubi, Pérola e Top Gun alcançaram boas produtividades.
A melancia é uma das plantas que mais exigem água para seu cultivo. Para manter a irrigacão de um cultivo de melancia por um ciclo de plantio em geral são utilizados 38 mil litros de água. O projeto de pesquisa conseguiu reduzir esse consumo para 11 mil litros, com o desenvolvimento de um arranjo de irrigação por gotejamento, realizado pelo pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Isaac Cohen, membro da equipe do projeto. O arranjo é confeccionado com a adaptação de mangueiras e fitas gotejadoras concentrando a liberação de água apenas nas raízes da planta com ajustes que diminuem a vazão e aumentam a pressão, além de monitoramento da tensão de água no solo utilizando uma adaptação artesanal do instrumento "irrigás", que pode ser feito com uma seringa plástica, fios de macarrão plástico e vela para filtro. Isso proporciona economia e eficiência na distribuição de água, portanto reduz sobremaneira o desperdício, com impacto positivo sobre o meio ambiente. "Estamos na Amazônia, maior reserva de água doce do mundo, e embora o Amazonas tenha alta quantidade de chuvas em determinados períodos, em outros necessita irrigar e então é preciso racionalizar o uso da água e evitar desperdício", destaca o pesquisador.
A irrigação adequada é importante para a obtenção de bons rendimentos, e a irrigação por gotejamento contribui para diminuir a incidência das doenças foliares na cultura. Outra contribuição importante para os resultados é o trabalho da pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Ana Pamplona, relacionado ao controle de insetos-pragas associados à cultura da melancia, com ênfase no monitoramento e controle do pulgão Aphis gossypii, cujo dano indireto é a transmissão de viroses às plantas, que reduzem acentuadamente, ou suprimem, a produção de frutos.
A coordenadora do projeto, pesquisadora Marinice Cardoso, afirma que com a adoção desses recursos tecnológicos, o sistema produtivo de melancia em terra firme foi sensivelmente melhorado, viabilizando uma oportunidade no mercado local que é oferecer o produto na entressafra da várzea, no período em que Manaus fica sem o fruto e importa melancia dos Estados de Roraima, Bahia e Goiás.
A coordenadora do projeto afirma que "os bons resultados quanto ao aumento de produtividade e de qualidade da produção certamente se refletirão sobre a condição socioeconômica dos agricultores familiares de terra firme, pois se trata de lavoura temporária, de rápido retorno de capital e com garantia de mercado no Estado, com isso permite reflexos positivos sobre a renda e qualidade de vida dos agricultores".
Para as ações de transferência das tecnologias, com apoio do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam) foram instalados plantios demonstrativos no Campo Experimental do Caldeirão, da Embrapa no município de Iranduba, e em áreas de agricultores, onde são recebidas visitas de outros agricultores e palestras sobre os recursos tecnológicos utilizados.
O gerente do escritório do Idam em Iranduba, agrônomo Ari Batista da Costa, disse que o órgão de extensão rural tem a expectativa de despertar nos agricultores o interesse de ampliar o cultivo da melancia na terra firme, no período em que a várzea está submersa, por representar uma opção de ganho econômico e oferta de melancia justamente quando falta o produto em Manaus, pois de novembro a junho quando a várzea enche a produção fica escassa. Nesse período de entressafra, o preço obtido cobre os custos de produção e inclusive o investimento com irrigação.
A melancia de terra firme tem sabor mais doce e oportunidade de melhor preço para o produto. "O município de Iranduba foi pioneiro no cultivo protegido de hortaliças, no Amazonas, e como muitos agricultores já contam com essa infraestrutura, queremos introduzir também a melancia", informou, acrescentando que 90% das casas de vegetação cultivam apenas pimentão e inserir o cultivo da melancia, no período chuvoso da entressafra, seria uma opção para rotação de culturas.
Siglia Souza (MTb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental
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