Embrapa realiza oficinas na Terra Indígena Puyanawa
Embrapa realiza oficinas na Terra Indígena Puyanawa
Indígenas participaram de três oficinas realizadas pela Embrapa Acre durante a sexta edição do Festival Atsa Puyanawa, entre os dias 13 e 25 de julho, em Mâncio Lima (AC). O evento celebra a mandioca, um dos alimentos mais cultivados e consumidos na região. As oficinas abordaram a questão alimentar e nutricional, uso de GPS e gestão territorial da Terra Indígena (TI) e integram o projeto “Gestão territorial, boas práticas de produção e sociobiodiversidade entre os Puyanawa (Puya)”.
O chefe-geral da Embrapa Acre, Bruno Pena, participou das atividades do festival e acompanhou de perto o trabalho realizado na TI. "Temos uma parceria com o povo Puyanawa há mais de 15 anos em diversas linhas de atuação que envolvem sistemas agroflorestais, cultura da mandioca, comunicação comunitária, diversificação da produção, boas práticas de produção de farinha, entre outros. Um dos objetivos do projeto Puya é contribuir com a diversificação da produção e com o fortalecimento da autonomia na produção de alimentos e segurança alimentar desse povo”, destaca.
Monitoramento e Gestão territorial
“Uso e aplicações de GPS para monitoramento e gestão territorial” foi o tema da primeira oficina, ministrada por Nilson Bardales, bolsista do projeto da Embrapa Acre e pelo agente agroflorestal da Aldeia Barão da TI Puyanawa, Lucas Puyanawa. O trabalho teve como foco o uso de GPS, coleta e métodos de processamento de dados para fins de monitoramento da Terra Indígena.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre e líder do projeto, Eufran Amaral, os Puyanawa, hoje, são uma resistência ao desmatamento e exemplo de conservação. A área da TI fica na fronteira do desmatamento e tem limites com ramais de assentamentos, igarapé Bom Jardim e rio Moa. "O uso do GPS pode contribuir para o monitoramento de questões relacionadas a queimadas, desmatamentos e ocupação ou de caça ilegal que podem ocorrer dentro dessa área”, explica o pesquisador.
O tema principal da segunda oficina foi o “Plano de Gestão Territorial e Ambiental da Terra Indígena Puyanawa”. Para discutir sobre o assunto foram realizadas várias rodas de conversas com a participação de jovens e lideranças das aldeias.
Segundo Amaral, o plano de gestão territorial dos Puyanawa contempla regras de uso e metas em relação à saúde, educação e cultura. “Esse plano é revisitado de tempos em tempos, para que eles possam atualizá-lo. Com o projeto Puya, o tema de enfrentamento às mudanças climáticas está sendo inserido no documento e discutido com a comunidade, visto que é um tema que atinge todos do planeta e em especial as populações mais vulneráveis”, afirma o pesquisador.
Nutrição e saúde
Para avaliar as receitas e os processos de produção de alimentos dos puyanawas, as nutricionistas Eline Messias, do curso de Nutrição da Ufac, e Katia Regina Reche, da área clínica, acompanharam o trabalho de produção de alimentos nas cozinhas que estavam oferecendo comida durante o festival. "A intenção foi obter informações para auxiliar no aumento do consumo de alimentos nutracêuticos e mostrar que a comida originária dos puyanawa é repleta de alimentos de qualidade. A partir dessa avaliação já vislumbramos um cardápio tipicamente puyanawa para o próximo festival”, destaca Amaral.
Uma das cozinheiras do festival, Nilza Puyanawa, diz que a conversa com as nutricionistas foi bastante proveitosa. “Cada vez aprendemos mais com as informações das professoras. Sempre nos auxiliam no preparo de pratos tradicionais pro festival. Vi que usando ingredientes saudáveis podem ter uma aparência mais bonita e agradar mais o consumidor.”
“Nessa visita técnica verificamos as condições de manipulação de alimentos e quais pratos tradicionais indígenas estavam sendo elaborados. Além disso, o nosso principal objetivo foi avaliar os custos e a receita das cozinheiras. A ideia é que nos próximos festivais os indígenas consigam proporcionar uma vivência etno-gastronômica e, principalmente, ter melhores retornos econômicos, com foco na segurança alimentar e nutricional, mas também com gestão eficiente dos recursos”, afirma a professora da Ufac, Eline.
Outro trabalho realizado pelas nutricionistas foi uma avaliação antropométrica, ou seja, investigação sobre o estado nutricional a partir de dados de peso e altura. A população atual do povo Puyanawa aproximada é de 800 indígenas, 10% dessa população foi avaliada com relação a aspectos relacionados ao sobrepeso e à saúde nutricional. Ao final, a equipe realizou uma conversa apontando pontos do resultado da pesquisa com os participantes do estudo.
Variações térmicas
Diagnósticos com termografia no infravermelho em diferentes alvos foi o tema da oficina ministrada pela pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Lucieta Guerreiro Martorano, no Campus Floresta da Universidade Federal do Acre (UFAC), em Cruzeiro do Sul, para estudantes da TI Puyanawa, além de alunos de pós-graduação e técnicos.
Na ocasião, os participantes puderam identificar as diferentes variações térmicas com o uso da câmera termográfica, em tempo real, avaliando alvos em solo sombreado, rico em matéria orgânica que apresenta temperaturas diferentes ao comparar com os valores térmicos em solo completamente exposto. “Essa tecnologia permite sensibilizar moradores de territórios mais vulneráveis com relação à conservação das áreas com floresta. Moradores da TI Puyanawa e em áreas agrícolas no entorno relatam que, este ano, rios e lagos estão secando rápido em decorrência das altas temperaturas, ocasionando também a escassez de peixes”, explica.
De acordo com a pesquisadora, sob condições de variabilidade climática como essa seca extrema do El Niño, em solos sem vegetação e às margens de rios desflorestados, ocorrem perdas rápidas de água nos corpos d'água, como no rio Moa que em 20 dias sem chuva vazou 1,5 metros, ocasionando o isolamento de comunidades ribeirinhas e territórios indígenas da região.
Martorano ainda acrescenta que sistemas de produção como os agroflorestais imitam os serviços ecossistêmicos prestados pela floresta, ampliando a oferta e a diversidade de alimentos. Essas características dos SAFs também possibilitam aos moradores da TI Puyanawa ser mais competitivos para receber benefícios pela Lei de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), pois aumentam a provisão no território, a regulação térmica, o suporte pela diversidade de alimentos e água de melhor qualidade, mantendo o serviço cultural tão forte como apresentado no VI Festival Atsa Puyanawa.
Parcerias
O projeto “Gestão territorial, boas práticas de produção e sociobiodiversidade entre os Puyanawa (PUYA)”, é executado pela Embrapa Acre, em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Universidade Federal do Acre (Ufac), a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), a Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri), a Prefeitura Municipal de Mâncio Lima, o Instituto Federal do Acre (Ifac) e o Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM).
Pâmela Celina (MTb 606/AC)
Embrapa Acre
Mauricilia Silva (MTb 429/AC)
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