26/08/24 |   Segurança alimentar, nutrição e saúde

Documentários mostram a extração de sal a partir de plantas por povos indígenas

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Fábio Freitas

Fábio Freitas - Apresentação do Documentário Sal do Aguapé na aldeia Ulupuwene, do povo Waurá, em agosto de 2024

Apresentação do Documentário Sal do Aguapé na aldeia Ulupuwene, do povo Waurá, em agosto de 2024

Dois documentários que mostram a extração de sal a partir de plantas por povos indígenas da região do Alto Xingu, no Mato Grosso, foram lançados neste mês pelo pesquisador Fábio Freitas, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF). No caso do povo Waurá, o sal é obtido a partir da planta do aguapé, que ocorre em algumas lagoas da região. Já o povo Kayabi produz o condimento a partir da palmeira Inajá. O lançamento dos dois documentários ocorreu nas aldeias onde foram produzidos. Os vídeos já estão disponíveis no canal da Embrapa no YouTube. Confira aqui e aqui.

Freitas explica que o processo de obtenção do sal a partir da planta do aguapé, no caso do povo Waurá, é trabalhoso e demorado. A fabricação leva em torno de três semanas, desde a retirada da planta da lagoa, secagem, queima, filtração e evaporação, até se chegar ao produto final. “Os Waurá são conhecidos pelos povos do Alto Xingu como um dos principais produtores desse sal e até hoje fazem e trocam esse produto por outros bens que precisam, com outras aldeias da região”, comenta o pesquisador.

Segundo ele, um fato importante é que o sal extraído dessa planta é o Cloreto de Potássio (KCl), e não o Cloreto de Sódio (NaCl), característico do sal marinho. “Desse modo, o sal de aguapé pode ser utilizado tranquilamente, pois não traz problemas de hipertensão, como ocorre quando se abusa no consumo do sal marinho.”

Resgate

O povo Kayabi, hoje em sua maioria habitante do Xingu, é originário do Pará e foi transferido para o então recém-criado Parque Indígena do Xingu em meados do século passado. Nessa transferência, acabaram deixando de produzir o sal a partir da palmeira Inajá. “O processo de produção desse sal é muito parecido com a do povo Waurá, mudando basicamente a fonte do Recurso Genético que utilizam, no caso a palmeira, em vez do aguapé”, assinala Freitas.

Ele conta que no ano passado, durante um trabalho na aldeia Ilha Grande, do povo Kayabi, comentou com o cacique Siranhu a respeito do documentário que estavam produzindo na aldeia Ulupuwene, do povo Waurá, sobre a produção do sal de aguapé. “Essa informação despertou a lembrança no cacique das histórias que seu pai e sua sogra contavam sobre a produção do sal por seu povo”, afirma o pesquisador.

Num movimento de resgate cultural, o cacique consultou sua sogra, Mói Kayabi, a respeito de como o povo Kayabi produzia esse sal e, com a orientação dela, Siranhu conseguiu reproduzir o processo, o que permitiu a produção de um segundo documentário, nesse caso não apenas sobre o processo de fabricação do sal, mas também o registro da recuperação de uma tradição que estava se perdendo.

Os dois documentários foram produzidos pela Embrapa dentro de um projeto financiado com recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), com apoio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e da produtora RENTALPIX.

Valorização

Como forma de reconhecer e valorizar os povos originários, o lançamento dos documentários foi realizado primeiramente nas respectivas aldeias onde foram filmados, diante da própria comunidade. “É uma ação devolutiva dentro dos projetos executados com as comunidades, como forma de mostrar o resultado do trabalho feito com elas e, ao mesmo tempo, ter o aval para que os documentários possam ser disponibilizados e assistidos pelo público em geral”, ressalta Freitas.

SAT e SIPAM

O pesquisador assinala que essas tradições fazem parte da rica cultura e do conhecimento que as populações tradicionais e indígenas possuem e que são identificados nos diversos Sistemas Agrícolas Tradicionais (SAT) que existem no País e no mundo.

“Nesse sentido, a Embrapa vem realizando um processo na aldeia Kayabi Ilha Grande de reconhecimento dessa riqueza cultural, dentro de um programa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura [FAO] que se chama SIPAM [Sistema Importante do Patrimônio Agrícola Mundial], no qual busca identificar e reconhecer exemplos de SATs importantes, em nível global”, comenta Freitas.

Nesse caso, de acordo com ele, a Embrapa e a aldeia Kayabi Ilha Grande estão construindo a candidatura para que o SAT Kayabi Ilha Grande seja reconhecido como um SIPAM, dando mais visibilidade e valorizando as comunidades tradicionais.

Tradição

O sal é essencial para o funcionamento do nosso organismo e faz parte da alimentação humana há milênios. Seu uso vai desde condimento, remédio e até mesmo moeda de troca (vem daí a origem da palavra salário).

A maneira mais difundida de obtenção do sal é por meio de sua extração a partir da água do mar e, em segundo lugar, a partir de minas em lugares onde o produto se acumulou por questões de história geológica.

Entretanto, em lugares mais remotos, onde as populações estavam longe do mar e de fontes minerais de sal, algumas populações humanas descobriram maneiras de obtê-lo para suprir suas necessidades a partir de recursos genéticos de plantas.

Eduardo Pinho (MTb/GO - 1073)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Contatos para a imprensa

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Encontre mais notícias sobre:

alto-xingupovo-wauramato-grossopovos-indigenasextracao-de-salpovo-kayabiaguapeinaja