29/01/16 |   Agricultura familiar

Projeto capacita jovens em empreendedorismo rural

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Foto: Marcelo Klein

Marcelo Klein - Jovens concludentes da capacitação na comunidade Alto Pentecostes (Mâncio Lima/AC)

Jovens concludentes da capacitação na comunidade Alto Pentecostes (Mâncio Lima/AC)

Proporcionar conhecimentos a jovens que residem em áreas rurais, para viabilizar ações inovadoras na propriedade e estimular a permanência dessa população no campo. Com esse objetivo, durante três anos o projeto "Qualificação de Jovens Rurais em assentamentos no Acre: formação técnica e empreendedora", coordenado pela Embrapa Acre, levou capacitação para filhos de agricultores familiares da comunidade Alto Pentecostes, no município de Mâncio Lima, e do Seringal Porvir, localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Brasileia. A entrega dos certificados de conclusão do curso aos alunos do Juruá, no final de 2015, marcou o encerramento das atividades.

A iniciativa contemplou 37 jovens com conhecimentos em temas variados da agropecuária, por meio de aulas teóricas e práticas realizadas nas comunidades. "A proposta visou preparar o público jovem para atuar de forma mais eficiente nas atividades produtivas e na gestão da empresa rural, oferecendo alternativas que possam diversificar a produção agropecuária e melhorar a renda das famílias", explica o analista Fernando Pretti, líder do projeto.

Os módulos temáticos da capacitação foram ministrados por uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais da Embrapa, Universidade Federal do Acre (Ufac), consultores do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/AC), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AC) e Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof). As comunidades escolhidas são parceiras em ações de pesquisa e transferência de tecnologias desenvolvidas pela Empresa.

Segundo Pretti, os conteúdos programáticos dos cursos procuraram atender demandas prioritárias das comunidades, apontadas pelos moradores durante diagnóstico participativo. "Esse trabalho inicial, realizado em conjunto, possibilitou identificar necessidades de conhecimento e permitiu a elaboração de uma programação específica para cada localidade", esclarece.

Participaram do curso jovens entre 18 e 29 anos, com escolaridade mínima equivalente ao primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Além do eixo tecnológico o curso incluiu conhecimentos complementares em gestão da propriedade, avaliação econômica das atividades agrícolas, oficinas de comunicação, informática, segurança no trabalho e gestão ambiental.

 

Continuidade do trabalho familiar

A capacitação possibilitou novos conhecimentos sobre atividades já praticadas pelos agricultores e alternativas para diversificar a produção. Na Reserva Extrativista Chico Mendes o curso, concluído em 2014, contemplou 15 jovens. Os sete módulos, realizados em 124 horas/aula, abordaram as tecnologias para implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), uso da integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), cultivo de bananais e alternativas tecnológicas para convivência com a Sigatoka-negra entre outros temas de interesse da comunidade.

Para a estudante Nayele Silva, moradora do Polo Wilson Pinheiro, no Seringal Porvir, o que mais chamou a atenção foram os SAF´s e as técnicas para plantio e condução de bananais. "Além de aproveitar melhor a terra, podemos diversificar a produção cultivando espécies como a seringueira, que é uma importante fonte de renda na comunidade, junto com fruteiras como o açaí. Com os novos conhecimentos vamos melhorar o nosso trabalho com a banana e investir em outras atividades para ampliar a renda da família", enfatiza.

Na comunidade Alto Pentecostes a capacitação realizada em 12 módulos contou com a participação de 22 alunos.  A programação focou temas como horticultura, avicultura e manejo conservacionista de solos com ênfase no cultivo de mandioca e milho. Colaboradores da Embrapa se reuniram com a comunidade, no dia 17 de dezembro de 2015, para encerramento do curso e entrega dos certificados de conclusão.

A participante Suiane Souza garante que os conhecimentos adquiridos vão possibilitar a continuidade do trabalho familiar. "Todos os módulos foram importantes, porém, meu interesse é pela horticultura porque minha família trabalha nessa área. Já estou aplicando o que aprendi", diz.

 

Multiplicadores de conhecimento

Em muitas comunidades rurais da Amazônia o acesso a tecnologias e conhecimentos ainda é influenciado por fatores como pouca escolaridade dos agricultores familiares, baixo nível de renda, dificuldades de acesso ao crédito rural e precárias condições de tráfego das estradas. Essas dificuldades reforçam a manutenção de processos tradicionais de produção focados no autoconsumo da família.  

O líder comunitário Severino da Silva, morador do seringal Porvir, considera que a capacitação beneficiou não só a população jovem, mas também moradores mais antigos. Boa parte dos alunos concludentes atua na multiplicação dos conhecimentos adquiridos, dentro e fora da comunidade. Esse compartilhamento de informações técnicas tem sido fundamental para melhorar as atividades produtivas e reduzir a dependência das famílias em relação ao serviço de extensão rural.

O extrativista destaca, ainda, que o curso contribui para mostrar aos jovens que é possível viver no campo, entretanto, acredita que além da necessidade de aprimorar a produção o contexto cultural também precisa se modificar. "Os jovens estão descobrindo novos horizontes no aspecto produtivo, mas, às vezes, a vontade de inovar esbarra na resistência dos pais. Temos que preparar os filhos para serem nossos sucessores na propriedade, mas muitos pais não aceitam mudanças no modo de cuidar da produção. A falta de confiança dos pais faz com que muitos jovens se fechem para o trabalho rural e busquem a cidade", afirma Silva.

 

Formação rural

Pequenos produtores que formam a base da agricultura familiar ainda convivem com dificuldades de acesso a informações e tecnologias e com a ausência de alternativas de trabalho. Essa situação, aliada à pouca possibilidade de inserção em políticas públicas específicas, entre outros fatores, leva ao êxodo rural de jovens, filhos de agricultores, que se mudam para a cidade em busca de oportunidades de emprego e melhores condições de vida. No Acre tendem a migrar para as periferias de Rio Branco e Cruzeiro do Sul, as duas maiores cidades do Estado.

Com o propósito de melhorar o acesso ao conhecimento e contribuir com o desenvolvimento de comunidades rurais, desde 2005 a Embrapa investe em projetos de formação rural voltados para o público jovem de diversos municípios acreanos, com foco no empreendedorismo como fator de sustentabilidade da propriedade familiar e de permanência no campo. A capacitação realizada em Brasileia e Mâncio Lima, entre 2014 e 2014, fez parte de um processo de qualificação rural que considera o potencial inovador de jovens que integram a força de trabalho nas propriedades rurais e ajudam na composição da renda familiar.

Os cursos oferecidos no âmbito destes projetos tiveram duração de 12 meses e carga horária de até 300 horas e envolveram temáticas consideradas estratégicas para as comunidades. O primeiro projeto, executado com jovens do Ramal da Enco (Plácido de Castro), focou nas tecnologias para fortalecimento da pecuária leiteira. A segunda edição, em 2008, realizada no Ramal Granada (Acrelândia) proporcionou conhecimentos sobre a cafeicultura e pecuária de corte. Entre 2009 e 2010 a capacitação contemplou moradores do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Nova Bonal (Senador Guiomard) e enfatizou técnicas de cultivo de pupunha para a produção de palmito e para o plantio de seringueira.

De acordo com Francisco de Assis Correa, analista da Embrapa Acre e um dos idealizadores do projeto de capacitação rural, os cursos de formação beneficiaram cerca de 100 jovens. Como resultado, parte destas pessoas trabalha em agroindústrias locais familiares, outros jovens ingressaram em curso superior e depois de formados retornaram para o trabalho na propriedade. Além disso, esse processo de formação também contribuiu para aproximar esse público da Embrapa, enquanto fonte de informações técnicas.

Estudos recentes evidenciam que a agricultura familiar responde por aproximadamente 80% da produção de alimentos básicos que chegam à mesa da população como feijão, milho, arroz, mandioca, leite, frutas e hortaliças. Apesar da importância econômica e social desse segmento, na Amazônia a maioria das propriedades rurais familiares se caracteriza pelo baixo nível tecnológico das atividades produtivas. Investir na qualificação da juventude rural é fundamental para modificar essa situação.

"Os jovens são capazes de renovar o modo de vida e as formas de produção no meio rural, mas precisam de oportunidades para colocar em prática o seu espírito empreendedor e criar possibilidades para transformar a realidade à sua volta. O conhecimento é um caminho fértil para esse processo porque facilita a adoção de tecnologias inovadoras e pode ajudar a encontrar alternativas de trabalho mais rentáveis. Isto favorece os vínculos com a propriedade, além de contribuir para a segurança alimentar no meio rural e urbano", conclui Francisco Correa.

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre

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