O segundo dia de programação do Agroecologia 2024 foi intenso em atividades. Durante toda a quinta-feira, 5 de dezembro, cerca de 1.100 participantes circularam pela Estação Experimental Cascata, da Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS para interagir nos seis eventos simultâneos organizados com a finalidade de valorizar a agricultura familiar, a produção agroecológica, o saber do agricultor e do seu bem viver com a agrobiodiversidade. O dia de campo nesta edição ganhou nova proposta ao apresentar tecnologias que irão ajudar os agricultores, através da produção agroecológica, para recuperar seus sistemas de produção após a crise climática enfrentada pelo Estado. O dia de campo teve o lema “ Reconstruindo com a Agroecologia”. A abertura oficial O evento organizou sua abertura oficial dentro da programação para o segundo dia, que reuniu o maior número de atividades múltiplas. O ato foi realizado junto a Feira Agroecológica, contando com a participação dos visitantes e todos os públicos de interesse do evento: agricultores familiares, agricultores agroecológicos, quilombolas, artesãos, cooperativados, pescadores, indígenas e ONGs. Antes das falas das autoridades foi feita a assinatura de parceria para compra com doação simultânea, entre a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Cooperativa Mista Origem Camponesa. Assinaram o documento o chefe da Assessoria Parlamentar da Conab, Rogério Neuwald, representando o presidente Edgar Pretto, e o presidente da Cooperativa, Miqueli Schiavon, e os representantes das entidades beneficiárias. A parceria beneficiará mil famílias de agricultores familiares, indígenas e quilombolas ligadas ao Instituto Cultural Padre Josimo e à Secretaria de Desenvolvimento Rural do RS. Foi aproveitado o momento para realização da entrega simbólica de sementes crioulas de milho e feijão e de ramas de mandioca a um quilombola e um agricultor familiar. O coordenador da Estação Experimental Cascata e coordenador do evento, João Carlos Costa Gomes, homenageou as mulheres na presença de duas autoridades femininas da Cresol e da Anater, lembrou do dia 5 de dezembro ser dedicado ao Dia do Solo e destacou a realização do evento com o apoio de uma equipe que acreditou junto para estender o evento no formato de eventos múltiplos, da realização de um dia de campo com estações com tecnologias, as quais citou inúmeras, que poderão ser alternativas para reconstrução da agricultura no Estado após a enchentes, e de outras situações que prejudicam a agrobiodiversidade, mostrando que a Agroecologia é a solução. “A Agroecoelogia é onipresente, ela está em todas as práticas agropecuárias dos agricultores”, reforçou mais de uma vez o coordenador do Capa, Roni Bonow, também lembrando que os sistemas de produção agroecológicos são o futuro da crise climática. Ele mencionou os desafios que o agricultor familiar e agroecológico traz para as instituições em aprender junto com eles, com seus saberes, suas tecnologias, a enfrentar a crise climática e tantas outras crises do setor. O chefe-geral da Unidade local da Embrapa, Waldyr Stumpf Jr., compartilhou do mesmo sentimento de Roni Bonow e exaltou a necessidade de construir com os próprios agricultores propostas de trabalho, de pesquisa e de políticas públicas que venham atender as reais necessidades do setor. Fernando Horn da gerência regional Pelotas da Emater/RS disse que o evento tem a felicidade e o sucesso por que é construído junto e para os agricultores, por isso, a beleza do evento. E o diretor de Pesquisa e Inovação, Clenio Pillon, falou do grande espaço e da oportunidade do evento promover pesquisa e inovação para a Agricultura Familiar. Lembrou dos grandes desafios que a Embrapa tem junto aos agricultores em disponibilizar tecnologias para enfrentar eventos extremos, em propor tecnologias para promover segurança alimentar e soberania alimentar. “Este evento reúne parte desta genética conservada e disponibilizada para os agricultores, assim como, abre as portas de uma casa de Ciência e Tecnologia, promovendo a soberania do conhecimento, e assim fazer o exercício da inclusão socioprodutiva e digital no campo”, disse. Todas as autoridades manifestaram a satisfação de presenciar um evento de uma riqueza diversa, de reconhecimento ao agricultor e seus saberes, com tecnologias sustentáveis que respeitam a agrobiodiversidade. O ato de abertura contou com a presença da representante da Cresol Planalto Serra, Mirian Costa, o representante da Afubra, Marco Dornelles, o dirigente do MPA, frei Sergio Goergen, o presidente da Seção Sindical do Sinpaf/Pelotas, Vanderlei Fagundes, o coordenador do Capa, Roni Bonow, o representante da gerência regional Pelotas da Emater/RS, Fernando Horn, o representante da presidência da Conab, Rogério Neuwald, a gerente de Formação e Qualificação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), Isabel Silva, o deputado federal Alexandre Lindenmeyer, o coordenador da Estação Experimental e coordenador do evento, João Carlos Costa Gomes, o chefe-geral Waldyr Stumpf Junior e o diretor-executivo de Pesquisa e Inovação, Clenio Pillon. 3ª Feira Agroecológica Mais uma feira de produtos agroecológicos e da agricultura familiar foi apresentada nesta edição para mostrar o potencial do setor, a 3ª Feira Agroecológica. Segundo a organizadora do espaço, Andrea Noronha, engenheira agrônoma, a atividade permite uma interlocução entre os agricultores e a possibilidade de troca de experiências. Produtos variados foram consumidos e comercializados. ”Entre os destaques deste ano estão as tendas da Pachamama que trabalharam as questões do bem viver, especialmente para as mulheres rurais, e do grupo EMAU, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel que apresentaram técnicas de bioconstrução”, disse. Também tiveram espaços para mostra de artesanato indígena e de uma variedade de sementes. Foram montadas cerca de 40 bancas. A atividade contou com a parceria do CAPA, da Emater/RS, da ARPASul, da Bionatur, da Cooperbio, da UNAIC, Origem Camponesa, Afubra, FURG e agricultores. Troca-Troca de Sementes Crioulas Pela primeira vez o evento planejou esta atividade. A organizadora desta atividade, a pesquisadora Daniela Lopes Leite explicou que foram convidados os agricultores, guardiões de sementes crioulas, para fazer parte da dinâmica de amostragem e troca-troca entre eles de seus materiais. “Nós, da Embrapa, pedimos a eles que deixem uma amostra de cada exemplar apresentado no Troca-Troca para guarda da Empresa, pois essa dinâmica vai fazer com que melhore a biodiversidade entre eles, pois haverá a conservação e multiplicação do material”, falou. Durante todo o dia foram mostrados todos os materiais - sementes de feijão, arroz, tomate, fava, milho, hibisco, pimenta, pipoca, urucum, maxixe, ervilha, melancia, amendoim e bucha vegetal - e às 15h, os próprios agricultores fizeram o intercâmbio de sementes entre eles. A dinâmica de troca durou uns 20 minutos, mas no espaço houve registro de depoimentos e de fotografias de guardiões de sementes vindos de várias localidades do Estado, assim como de falas pelas representações dos movimentos dos agricultores. Houve a participação da Associação dos Guardiões de Sementes de Rio Grande, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Emater/RS. A Mostra de Máquinas Agrícolas para Agricultura Familiar Outra área criada pelo evento neste ano é a Mostra de Máquinas Agrícolas. Houve em outras edições a exposição de equipamentos pontualmente, mas o Agroecologia 2024 conseguiu reunir vários implementos agrícolas para auxiliar o agricultor familiar e mostrar sua capacidade de invenção. “Nossa ideia foi apresentar equipamentos, sejam de empresas e/ou de invenções dos próprios agricultores, que podem ter sido criados, adaptados, complementados, que neste espaço compartilharam suas experiências que facilitaram o seu dia a dia, pois a sua necessidade pode ser de outro agricultor e aqui no evento terão visibilidade”, disse o gerente regional adjunto da Emater/RS-Ascar, César Roberto Demenech. O professor Edson Farias da Escola Técnica Santa Isabel, de São Lourenço do Sul, participa pela segunda vez da Mostra de Máquinas, em conjunto com os alunos e agricultores parceiros, e traz o equipamento do biodigestor para produção de biogás e um equipamento de conservação do solo. “A participação e interação do público foi muito boa neste dia aqui na Mostra”, avaliou. Ao longo do dia houve a demonstração de uso de dois equipamentos: a máquina plantadeira, Planta Tudo, desenvolvida pela Embrapa e metalurgia Kurz, capaz de plantar forrageiras BRS Capiaçu e BRS Kurumi e diversas hortaliças e arbóreas. Possui capacidade de plantio de 15 mil/mudas/dia, ou seja, faz 1 hectare por dia. E também foi demonstrado o Mexedor de Chimia, sendo capaz de mexer um tacho de cobre de 8kg de capacidade, com funcionamento a lenha e motor. Os equipamentos apresentados são de agricultores familiares de São Lourenço do Sul, Arvorezinha, Herveiras, Vanini, Piratini, Canguçu e Morro Redondo. O espaço teve apoio da Emater/RS, Afubra, Furg/Campus de São Lourenço do Sul e agricultores. 2ª Mostra Cultural Um espaço importante dentro do evento são sempre as manifestações culturais. Neste ano, o evento foi aberto com a música latína de Adalgiza Zambrano e Egberto Parada, com apresentações ao longo do dia. E ao meio-dia, houve a apresentação de dança africana da Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Moreira, de Canguçu, e também a apresentação de dança com rituais da sua cultura feita pela escola indígena Gyró, da etnia Kaingang . O evento Agroecologia 2024 teve a realização da Embrapa Clima Temperado, Emater/RS, Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia(Capa) e a UFPel. O evento contou com o apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Ministério da Agricultura e Pesca; Plataforma Colaborativa Sul para Mitigação de Efeitos Climáticos adversos na Agropecuária; Anater; Afubra; Bionatur, Coopar; Cooperbio; Cooperativa Origem Camponesa; Cresol; Furg; Instituto Cultural Padre Josimo; Instituto Federal Sul-Rio-Grandense; Movimento Pequenos Agricultores; Prefeitura de Pelotas; Secretaria Municipal de Educação e Desporto de Pelotas; Rede de Agroecologia Ecovida; Sinpaf; e Uergs.