Instituições agrícolas adotam “cultura de impacto” para ampliar efeitos sociais da pesquisa
Instituições agrícolas adotam “cultura de impacto” para ampliar efeitos sociais da pesquisa
Um estudo recente resultante do projeto colaborativo internacional, cuja chamada de propostas se traduz em ‘Co-aprendizagem inovadora para soluções baseadas na agricultura’ da Agropolis Fondation (Montpellier, França), analisou como três organizações de referência em pesquisa agrícola – Cirad (França), Embrapa (Brasil) e AGROSAVIA (Colômbia) – estão desenvolvendo e implementando uma "cultura de impacto". O conceito é definido como o conjunto de práticas e estratégias organizacionais voltadas a maximizar os impactos sociais e econômicos das atividades de pesquisa.
Segundo Graciela Vedovoto da Gerência-Adjunta de Gestão da Estratégica da Embrapa, essa cultura não é uniforme e varia conforme os contextos organizacionais e culturais. Ela exige o alinhamento entre estratégias, valores e práticas, além de mecanismos para promover reflexão, aprendizado organizacional e engajamento coletivo. “Elementos como a Teoria da Mudança e espaços de diálogo inter e intraorganizacional são fundamentais para fortalecer esse modelo cultural”, afirma Vedovoto.
Um dos principais desafios para as instituições é a convivência entre a cultura de impacto e a "cultura de projetos", dominante em muitas organizações. A última prioriza prazos curtos e resultados específicos, o que pode dificultar processos reflexivos e colaborativos. Para conciliar essas abordagens, o estudo sugere flexibilidade, integração e períodos dedicados à análise e ajustes estratégicos.
O estudo identificou fatores que favorecem a adoção dessa nova abordagem, como lideranças internas e equipes designadas, recrutamento de profissionais comprometidos com mudanças, bem como uso de métodos avaliativos diversificados. Entretanto, há barreiras, que incluem resistência a mudanças, sobrecarga de trabalho e dificuldades para harmonizar a nova cultura com dinâmicas institucionais já estabelecidas.
A análise aponta que a cultura de impacto promove transformações estruturais e estratégicas. Ela integra práticas de avaliação de impacto e aprendizado organizacional, almejando alinhar as pesquisas a impactos sociais amplos e mensuráveis.
Experiências comparadas
O estudo comparou as estratégias de Cirad, Embrapa e AGROSAVIA. Cada organização adotou práticas alinhadas aos seus contextos institucionais, mas todas compartilham o objetivo de ampliar os benefícios sociais, econômicos e ambientais de suas atividades.
Conforme explica Marie Ferré, o ’Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional’ enfatiza aprendizado reflexivo e promove interações entre pesquisadores e parceiros para avaliar impactos de inovação. Desenvolveu ferramentas como ImpresS ex post e Impres ex ante, que analisam impactos passados e projetam resultados futuros.
A Embrapa utiliza metodologias ex post, como o “Excedente Econômico” e o “Ambitec-Agro”, que avaliam impactos econômicos, sociais e ambientais das tecnologias agropecuárias ofertadas pelos centros de pesquisa. Segundo Geraldo Stachetti, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, essas análises também têm ajudado na comunicação com a sociedade por meio de relatórios como o Balanço Social, publicado anualmente desde 1997.
O Balanço Social é uma publicação anual da Embrapa que apresenta os principais resultados alcançados pela Empresa no ano anterior. Isso é feito por meio do levantamento das ações sociais realizadas, dos casos de sucesso, dos prêmios e reconhecimentos recebidos, do acesso a publicações técnicas e científicas, e da adoção e impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais de soluções tecnológicas geradas e adotadas pela sociedade. As informações de adoção e impactos estão organizadas nos seguintes temas: manejo agrossilvipastoril e correção de solos; fibras, oleaginosas e cereais; produção animal; frutos e castanhas; hortaliças, raízes e leguminosas; sistemas e serviços; cultivares, geração de empregos e capacitações on-line.
A partir dos impactos econômicos dessa amostra de soluções tecnológicas é calculado o lucro social devolvido pela Empresa à sociedade brasileira.
Desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente, o sistema Ambitec-Agro é uma ferramenta composta por planilhas eletrônicas que integram critérios e indicadores ambientais e sociais, utilizando uma abordagem multicritério. Ele vem sendo amplamente utilizado para avaliar impactos de inovações tecnológicas agropecuárias e contribuir para o desenvolvimento rural sustentável.
O Ambitec-Agro se destaca por sua versatilidade, podendo ser adaptado a diferentes tecnologias e públicos, dependendo das necessidades de cada projeto. A ferramenta inclui mais de 140 indicadores que abrangem aspectos ambientais, sociais e econômicos, permitindo uma análise abrangente dos impactos gerados pelas inovações adotadas no campo.
Todos os anos, as Unidades da Embrapa realizam a avaliação de impacto de suas tecnologias utilizando a metodologia de referência, da qual faz parte o sistema Ambitec-Agro. Essa avaliação permite medir o retorno das inovações para a sociedade, além de oferecer subsídios para a implementação de ações que mitiguem impactos negativos no meio ambiente e nas comunidades rurais. A metodologia é fundamental para garantir que o desenvolvimento tecnológico ocorra de forma sustentável, beneficiando tanto os produtores quanto o meio ambiente.
Por sua vez, conforme conta María-Margarita Ramírez-Gómez, a ‘Corporación colombiana de investigación agropecuaria’ se inspirou nos métodos adotados pela Embrapa e integrou estratégias de avaliação ex post e ex ante em seu planejamento. Desde 2016, tem avançado em estudos para prever e mensurar impactos tecnológicos, também apresentados anualmente no Balanço Social da instituição. A meta é consolidar uma transformação cultural até 2030, com foco na sustentabilidade e no impacto social.
Apesar dos avanços, resistências internas ainda são comuns. Entre elas estão o receio de aumento da carga de trabalho e preocupações com impactos na criatividade. Mesmo com essas limitações, o estudo mostra que a aceitação da cultura de impacto está crescendo. As iniciativas promovem interdisciplinaridade, ampliam parcerias e geram reconhecimento externo para as organizações.
As mudanças cognitivas e práticas derivadas da cultura de impacto se traduz como disruptiva, em seu alcance institucional. Pesquisadores e equipes de pesquisa têm demonstrado maior capacidade de planejar intervenções e formular questões estratégicas. A percepção dessa abordagem como uma norma organizacional emergente, em vez de um esforço adicional, é um indicativo de sucesso.
Além disso, o estudo, publicado na ‘Research Policy’, revista de especial relevância no tema, observa que a consolidação dessa cultura de impacto exige apoio gerencial, recursos dedicados, capacitação e estratégias participativas. Esses fatores ajudam a disseminar práticas inovadoras e fortalecem o aprendizado organizacional.
Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
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Tradução em inglês: Mariana Medeiros (13044/DF)
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