Embrapa trata de mandiocultura rentável no Sudeste Paraense em novo livro
Embrapa trata de mandiocultura rentável no Sudeste Paraense em novo livro
O livro Mandioca: rentabilidade de sistemas de produção na mesorregião Sudeste Paraense, recém-lançado pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA), é mais um incentivo para a adoção de tecnologias validadas por pesquisa científica para o desenvolvimento rural sustentável da região amazônica. A obra apresenta soluções efetivas à mandiocultura, desde sempre tida como cultivo de subsistência, mas que começa a ter relevância para redução da pobreza no campo, segurança alimentar e energética.
O livro esclarece bem o valor estratégico da mandioca (Manihot esculenta Crantz), em especial para a agricultura familiar, segmento que mais cultiva essa raiz milenar domesticada por indígenas da bacia amazônica. A vocação do Sudeste Paraense para a mandiocultura é antiga: no início da década de 1990 era o principal produtor estadual, porém, no decorrer dos últimos 30 anos, devido à maior redução de área plantada com essa espécie ocorrida no Pará, passou a ser o terceiro, com apenas 11,18% da área total colhida no estado.
A produção de grãos e pecuária são as atividades econômicas mais fortes na mesorregião atualmente. Enquanto a configuração do uso da terra era modificada, dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), citados na publicação, mostram quão acentuado foi o desmatamento no sudeste do Pará no período de 2001–2020, equivalendo a mais da metade (52%) do total da área estadual desmatada no mesmo intervalo de tempo.
Mandioca rende mais
Na atual paisagem mesorregional, composta por 39 municípios distribuídos em 297 mil quilômetros quadrados (quase um quarto da área total do Pará), vivem cerca de 2 milhões de pessoas (quase um quarto da população paraense). A mandiocultura é praticada em todos os municípios do Sudeste Paraense, assim detectou a pesquisa, mas ainda com produtividade média baixa, sem insumos tecnológicos e em meio a uma grande área antropizada a ser melhor aproveitada.
É possível, no entanto, reverter esse quadro, conforme comprovam os resultados do uso das tecnologias detalhadas no novo livro, disponível para download completo no Portal Embrapa. A obra aborda desde práticas sustentáveis até estratégias econômicas que aumentam a renda familiar e a produtividade da cultura, diversificam a produção, reduzem o desmatamento e melhor aproveitam as áreas antropizadas (modificadas pela ação humana).
“Em todos os trabalhos conduzidos no Sudeste Paraense, observamos que a mandioca teve rentabilidade positiva, com elevados ganhos e renda ao produtor, tanto cultivada de forma solteira, no Trio da Produtividade, quanto consorciada com milho, seguido de feijão-caupi ou abóbora ou melancia, no Sistema Bragantino”, afirma o autor do livro, engenheiro-agrônomo e analista da Embrapa Moisés de Souza Modesto Junior.
Produtividade 30% maior
Pesquisas anteriores a esse estudo já haviam concluído que a adoção das soluções tecnológicas desenvolvidas e disponibilizadas pela Embrapa, aliadas a boas práticas agrícolas, podem elevar a produtividade da mandioca em quase 30% no Pará. “Isso significa aumentar a média atual de 15 toneladas por hectare (t/ha) de raiz, considerada baixa, para até 55 t/ha, sendo este o potencial produtivo da cultura em condições ideais”, declara Moisés Modesto.
Modesto espera que a publicação, por divulgar resultados tão promissores, incentive ações estaduais de transferência de tecnologia que repliquem amplamente essas tecnologias no Pará, como ocorreu no Amapá, onde o Sistema Bragantino foi adotado, e no Amazonas e Tocantins, que adotaram o Trio da Produtividade. “Isso seria altamente positivo para os agricultores paraenses”, avalia o autor.
Soluções impactantes
Para o chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário de Paulo Lemos, “a abordagem detalhada e embasamento científico robusto torna esse livro uma importante referência para técnicos, agricultores familiares, estudantes, pesquisadores e tomadores de decisões envolvidos com o desenvolvimento sustentável e econômico da região Amazônica”.
Com o conteúdo recém-publicado, vem à tona novamente o poder impactante da mandiocultura. “É um livro fundamental para a cadeia produtiva, pois torna possível transformar conhecimento técnico-científico em soluções práticas que geram impacto real aos mandiocultores e ao setor agropecuário como um todo”, ressalta o coautor, engenheiro-agrônomo e pesquisador da Embrapa Raimundo Nonato Brabo Alves.
Um dos impactos mais importantes, analisa Brabo Alves, “é a substituição, nos sistemas trabalhados, de métodos tradicionais de cultivo causadores de degradação ambiental, como a derrubada e queima de capoeiras, por tecnologias inovadoras e mais produtivas, a exemplo do Sistema Bragantino e do Trio da Produtividade da Mandioca, ambos com eficácia comprovada na geração de renda e sustentabilidade ambiental”.
Transferência de tecnologia virtual
A pesquisa transcorreu no município de Marabá (PA), polo administrativo e logístico do Sudeste Paraense, durante 2020 e 2021, em plena pandemia da covid-19, tendo produtores e extensionistas como parceiros da Embrapa. O autor Moisés Modesto conta que o diferencial para o sucesso da transferência de tecnologia, sujeita às limitações pandêmicas, foi terem capacitado os agricultores e técnicos da região antes da instalação e demonstração das tecnologias no campo.
“Tudo foi no aprender-a-fazer-fazendo na prática. Então, quando veio a covid-19, os atores já estavam treinados e o processo de transferência de tecnologia virtual que adotamos – conduzido por meio de rede social, em aplicativo de mensagens – teve grande êxito. Os agricultores praticamente implementaram o segundo ano do projeto sozinhos, seguindo as orientações passadas pelo aplicativo”, descreve Modesto.
O autor destaca ainda que “a experiência digital permitiu manter o intercâmbio técnico constante com os agricultores mesmo em meio às restrições sanitárias, demonstrando que as tecnologias digitais podem ser grandes aliadas da extensão rural". Essa forma de comunicação – uma solução inédita na região, utilizada em resposta à pandemia da covid-19 – ganhou destaque na primeira das quatro partes do livro
Indicadores econômicos
A segunda parte traz indicadores econômicos do processamento de farinha artesanal e de macaxeira triturada e congelada para uso em confeitarias. Há informações indispensáveis para decisões econômicas nas comunidades rurais, por exemplo, fluxograma de produção, investimento em equipamentos, matéria-prima necessária e análise de rentabilidade das unidades de produção familiar.
A macaxeira ou aipim é a variedade de raiz de mandioca doce ou mansa, comestível sem processamento prévio, enquanto a mandioca-brava (ou simplesmente mandioca), por ser tóxica, deve obrigatoriamente ser processada antes de consumida como farinha, tapioca e outros derivados.
Mandioca em consórcio
A terceira parte apresenta resultados concretos do Trio da Produtividade da Mandioca. Essa tecnologia, mesmo sem o uso extensivo de insumos externos, como fertilizantes, aumentou a produtividade para agricultores familiares da comunidade Lagedo II, de Marabá. A importância do jardim clonal na produção de manivas-semente (estaca para propagação de mandioca) também é tratada nessa seção do livro.
O Sistema Bragantino, método inovador desenvolvido pela Embrapa Amazônia Oriental, ganha destaque na quarta parte do livro, como alternativa eficaz ao modelo tradicional de preparo do solo com fogo, com cultivo em consórcio com culturas como milho, feijão-caupi, abóbora e melancia, permitindo a utilização contínua da mesma área agrícola, reduzindo impactos ambientais negativos e ampliando a rentabilidade.
Os experimentos com o Sistema Bragantino contaram com a parceria estratégica da Associação dos Pequenos e Médios Agricultores do Lagedo II, de Marabá. Há relato também sobre o desempenho produtivo de cinco variedades de mandioca em consórcio com milho, cultivadas no Sistema Bragantino.
Crédito rural
Por fim, os autores reforçam a importância das políticas públicas voltadas ao crédito rural, salientando a importância da valorização econômica da mandioca na Amazônia. "Os coeficientes técnicos de produção da mandioca, obtidos com as tecnologias do Trio da Produtividade da Mandioca e do Sistema Bragantino, podem orientar os agentes de crédito para financiamento do cultivo solteiro da mandioca ou intercalada com outras culturas”, atesta o autor Moisés Modesto Junior.
Os autores sugerem ainda que a mandioca também pode ser cultivada no sistema de Roça Sem Fogo ou utilizando a parcagem como método de fertilização do solo. Como complemento, um artigo anexo disponibiliza informações sobre o sistema de produção de mandioca de derruba e queima, praticado pelos agricultores familiares da mesorregião Sudeste Paraense, com produtividade média de 15 t/ha de raízes, indicando que existem possibilidades de aumentar essa produtividade com a adoção das tecnologias apresentadas
HomenagemOs autores dedicaram o livro in memoriam a Manoel da Silva Cravo, o criador do inovador Sistema Bragantino, envolvido nesse estudo como pesquisador atuante na condução do Projeto Tecnologias para Agregação de Valor e Produção Sustentável de Mandioca por Agricultores Familiares na Amazônia (MandioTec) |
Izabel Drulla Brandão (MTb 1084/ PR)
Embrapa Amazônia Oriental
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