Comparação de raças maternas em esquemas de recíprocos, na produção de novilhas F1, utilizadas em sistemas de produção de leite
Comparação de raças maternas em esquemas de recíprocos, na produção de novilhas F1, utilizadas em sistemas de produção de leite
As raças leiteiras bovinas de origem europeia destacam-se pela alta eficiência produtiva e reprodutiva em climas temperados, mas normalmente não apresentam esta eficiência em clima tropical, em condições tais como altas temperatura e umidade, alta incidência de endo e ectoparasitas e baixo nível de manejo. Ao contrário, as raças zebuínas em programas de seleção para aumento da produção de leite são naturalmente adaptadas a tais condições, ou seja, produzem bem em manejos menos sofisticados e apresentam resistência natural aos endo e ectoparasitas. Essas raças, no entanto, possuem menor produção de leite por lactação, podendo resultar no comprometimento da eficiência econômica dos sistemas de produção. Desse modo, a utilização de animais mestiços, tendo como base principal a exploração da heterose e da complementaridade entre as raças europeias (mais produtivas) e zebuínas (mais adaptadas), tem se tornado um procedimento bem difundido em sistemas de produção de leite no Brasil, especialmente nas regiões com condições de ambiente de criação similares às citadas acima. No passado, grande parte dos sistemas de produção de leite com animais mestiços acasalava fêmeas zebuínas não selecionadas com machos da raça Holandesa e os resultados alcançados, embora melhores do que os acasalamentos aleatórios realizados, apresentavam resultado aquém do potencial esperado, decorrência de a raça zebuína utilizada não contribuir com variância aditiva dos genes por não ter ainda passado por processo de seleção genética. Por outro lado, atualmente, na raça Gir, após mais de 30 anos de trabalho intenso de melhoramento genético, há disponibilidade de sêmen de touros de alto mérito genético, inclusive com seleção genômica consolidada, possibilitando a utilização em maior escala de touros Gir provados, acasalados com vacas da raça Holandesa ou a utilização de touros da raça Holandesa acasalados com vacas Gir, de alto mérito genético. Assim, com ambas as raças contribuindo com herança genética aditiva, há grande expectativa na obtenção de animais mais produtivos, superiores geneticamente, podendo contribuir grandemente para a melhoria da eficiência técnica e econômica dos sistemas de produção de leite. Além disso, existe no mercado boa oferta de fêmeas a preço acessível de ambas as raças, possibilitando a produção de animais F1 ou ½ sangue, por meio de acasalamentos utilizando-se sêmen de reprodutores provados, seja por meio da inseminação artificial, transferência de embriões (TE) ou fertilização in vitro (FIV). Com a redução do custo das técnicas utilizadas para produzir os embriões o uso das biotécnicas TE ou FIV torna-se progressivamente uma opção viável economicamente para os produtores. Nos sistemas de produção de leite com animais mestiços, grande parte dos produtores tem dúvida sobre qual é a melhor estratégia de cruzamento, isto é, acasalar fêmeas da raça Holandesa com touros Gir leiteiro provados ou acasalar fêmeas Gir leiteiro com touros da raça Holandesa. Na literatura não foram encontrados resultados de pesquisa que respondam a essa indagação quanto ao aspecto de produção de leite. Já se sabe que a raça zebuína responde melhor à técnica de fertilização in vitro do que a raça Holandesa. Assim, o presente projeto objetivou avaliar a eficiência técnica de duas estratégias de produção de animais ½ sangue de primeira geração ou F1, por meio de TE ou FIV, com base na comparação do desempenho produtivo, reprodutivo e econômico de dois grupos genéticos produzidos a partir de duas raças Gir Leiteiro e Holandesa, para sistemas de produção de leite baseado em reposição contínua com fêmeas F1. Foram criados dois grupos de fêmeas F1, um denotado GxH, resultante de embriões de doadoras Gir leiteiro com sêmen de touros da raça Holandesa e outro denotado HxG, resultante de embriões de doadoras da raça Holandesa com touros Gir leiteiro. Na primeira fase, foram realizadas avaliações da resposta às biotécnicas reprodutivas utilizadas para geração dos animais F1 comparando-se os dois grupos genéticos e para comparar a eficiência do processo de transferência de embriões, a fresco ou congelado, em animais mestiços. Em seguida, foram realizadas comparações utilizando-se a FIV. Na produção dos embriões foram utilizadas doadoras Gir Leiteiro de origem dos rebanhos das fazendas Brasília, Getúlio Vargas, Terra Vermelha e Calciolândia e doadoras da raça Holandesa com origem no rebanho da Embrapa Gado de Leite. Os resultados da produção de embriões, blastocistos, prenhez aos 30 e 60 dias, nascimentos de machos e de fêmeas e duração da gestação para os dois grupos (GIR = doadoras Gir ou HOL = doadoras da raça Holandesa) e as respectivas gestações mostraram que não houve diferença entre grupos no percentual de embriões produzidos (81% x 74,3% para os grupos GxH contra HxG). Porém, o número total de blastocistos produzidos foi 2,39 vezes maior no grupo de doadoras GIR e as médias de embriões produzidos por sessão foram superiores no mesmo grupo. Foram transferidos 207 embriões, em função da disponibilidade de receptoras. As taxas de prenhez entre os grupos GxH e HxG (doadoras GIR ou Holandesa) foram similares aos 30 dias (47,2% x 41,5%) e superior aos 60 dias para doadoras GIR (42,9% x 33,8%). O percentual de nascimentos de bezerros machos não diferiu entre os grupos, apesar de ter sido numericamente superior no grupo HOL (8,1% x 14,3%). A duração da gestação de 160 fêmeas produzidas por PIVE e por superovulação foi 6,52 dias superior no grupo HOL (287,3 grupo HxG e 280,8 grupo GxH), sugerindo efeito de contribuição materna ou paterna sobre esta característica. Portanto, o presente estudo demonstrou que a produção de animais F1 em regiões de clima tropical apresenta melhor desempenho reprodutivo utilizando-se doadoras GIR, quando comparada à utilização de doadoras da raça Holandesa. Fêmeas do grupo GxH apresentaram peso médio superior às fêmeas do grupo HxG nos períodos de 451 a 540 dias, 541 a 630 dias e 631 a 720 dias. Após este período, a diferença de peso entre os dois grupos de fêmeas foi reduzida. As conclusões suportadas pelo trabalho são de que, reprodutivamente, é muito mais viável produzir animais F1 ou ½ sangue de primeira geração, a partir de doadoras da raça zebuína Gir Leiteiro à doadoras da raça Holandesa. Por outro lado, a produção de leite foi superior nas filhas F1 quando se utilizam doadoras da raça Holandesa. Este resultado, sob o ponto de vista de produção, pode não se repetir atualmente, tendo em vista a possibilidade de se utilizar a genômica, tanto na escolha das doadoras como dos touros, garantindo maior padronização do nível genético entre os grupos. Portanto, deve-se considerar o resultado como um trabalho preliminar que deve ser repetido para se ter conclusões mais acuradas.
Ecossistema: Amazônico, Floresta Atlântica, Pantanal, Região Caatinga e Florestas deciduais, Região dos Cerrados
Situação: concluído Data de Início: Mon Oct 01 00:00:00 GMT-03:00 2007 Data de Finalização: Wed Sep 30 00:00:00 GMT-03:00 2009
Unidade Lider: Embrapa Gado de Leite
Líder de projeto: Rui da Silva Verneque
Contato: rui.verneque@embrapa.br
Palavras-chave: cruzamento, seleção, raça Holandesa, Zebu leiteiro