A dimensão discursiva da organização do conhecimento na ciência da informação brasileira.
A dimensão discursiva da organização do conhecimento na ciência da informação brasileira.
Resumo: O conhecimento que desde a Antiguidade Clássica é objeto de discussões e teorias diversas, tornase, a partir de meados do século XX, fator determinante na constituição socioeconômica da sociedade. Isso se deve, em parte, às mudanças na base material ? de economia de capital para economia da informação e do conhecimento. São mudanças relacionadas à nova configuração do capitalismo na qual a linguagem torna-se elemento saliente nas práticas sociais contemporâneas (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999), caracterizada pela circulação de formas simbólicas. A Organização do Conhecimento (OC) é a área que se ocupa, primordialmente, das representações do conhecimento, sendo abordada em diversos campos do saber, como a Filosofia, Linguística, Computação, Lógica, Biologia, Sociologia, entre outros, mas que possui forte desenvolvimento na Biblioteconomia e na Ciência da Informação (CI).Neste cenário, a pesquisa possui como temática central a dimensão discursiva da OC, que consiste na análise crítica, por meio de questões linguísticas e sociais, de como as representações em torno da OC têm sido construídas na CI brasileira. Para tanto se vale dos aspectos teóricos da CI, em especial aqueles relacionados à OC e suas frentes de estudo, com destaque para a abordagem de Hjorland. Também se deu ênfase à Análise de Discurso Crítica (ADC), de linha britânica, abordada, em especial pelo pesquisador Norman Fairclough. A ADC compreende a linguagem como parte irredutível da vida social e considera que ?as práticas discursivas em mudança contribuem para mudar o conhecimento? (FAIRCLOUGH, 2001, p. 27) que, por sua vez, também modifica e é modificado pelas práticas sociais. O que resulta no objetivo geral de analisar as relações representadas pelas articulações sociodiscursivas presentes na OC enquanto área de pesquisa, ensino e atividades práticas relacionadas à CI no Brasil. Para realização do estudo, em nível empírico, o foco centrou-se nas representações referentes à OC presentes nas áreas de concentração e linhas de pesquisa de quatro programas de pós-graduação em CI (PPGCI) brasileiros e em onze grupos de pesquisa (GP) a eles vinculados. A fonte de informações consistiu em textos disponíveis nas páginas da internet dos programas e em informações do Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Para análise dos textos foi privilegiado o significado representacional da linguagem proposto na ADC, que se refere aos discursos. Estes correspondem a diferentes formas de representar aspectos do mundo ? processos, relações e estruturas do mundo material; pensamentos, sentimentos e crenças do mundo mental; e identidades e relações do mundo social. Três categorias sociodiscursivas foram percebidas como de fundamental importância aos propósitos da pesquisa: vocabulário e significado da palavra, interdiscursividade e representação de eventos e atores sociais. As representações dos PPGCI e dos GP descritas, analisadas e discutidas contribuíram para a compreensão da existência de relações sociodiscursivas variadas e heterogêneas na OC, bem como para o entendimento de como as representações em torno da área têm sido construídas na CI brasileira. Existe considerável imprecisão terminológica na área, inclusive na designação do que é a OC, bem como nos termos e expressões utilizados para expressá-la e, também, a ela relacionados. Encontrou-se como alternativa abordar a OC como uma instância que discorre sobre as reivindicações do conhecimento apresentadas em registros potencialmente informativos (documentos), com base na visão social e pragmática da informação e do conhecimento. Percebeu-se que não apenas informação e conhecimento são elementos fundamentais para a OC, dada a relação que guardam, mas também os saberes de maneira plural e inclusiva, já que se observou que estes também são representados como objetos da OC. Nesse segmento, a OC contempla não só reivindicações de conhecimentos, mas também reivindicações de saberes de âmbito plural, individual e coletivamente construídos, em diferentes ambientes. Além disso, observouse que o contexto digital atua como a cena contemporânea da OC em vários sentidos, e no qual grande parcela das práticas e ações relacionadas à área tem sido exercidas. Os principais resultados alcançados indicam que a OC está representada por meio de entidades heterogêneas, o que não nos permite falar em um discurso da área de modo absoluto e homogêneo, mas em diferentes discursos que emanam do próprio caráter interdisciplinar que lhe subjaz. Além disso, as práticas de mediação circunscritas nos estudos, processos e práticas relacionados à Organização do Conhecimento são compreendidas como relações de controle que a área exerce em relação aos domínios do conhecimento que se propõe a organizar. Nesse sentido, quanto mais dialógicas e colaborativas essas práticas venham a ser exercidas, mais flexíveis e inclusivas tendem a ser as relações sociodiscursivas que promovem.
Ano de publicação: 2017
Tipo de publicação: Teses
Unidade: Embrapa Informação Tecnológica
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