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A pesquisa na vitivinicultura: Simpósio de Viticultura e Enologia – Região da Campanha Gaúcha
Vitivinicultores da região da Campanha Gaúcha querem conseguir o reconhecimento da Indicação de Procedência pela produção de vinhos finos de qualidade. Em busca desse objetivo, produtores e vinícolas uniram-se na Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha e buscaram a Embrapa e parceiros para avançar na qualificação e na base científica para o reconhecimento da região.
Nos dias 3 e 4 de maio foi realizado o I Simpósio de Viticultura e Enologia da Região da Campanha Gaúcha, no auditório da Unipampa em Santana do Livramento, RS. O evento foi promovido pela Embrapa Uva e Vinho, Ibravin e Associação Vinhos da Campanha Gaúcha.
Na abertura do Simpósio o diretor executivo do Ibravin, Carlos Paviani destacou o conteúdo técnico-científico e a multidisciplinaridade dos resultados gerados visando a estruturação da Indicação de Procedência Campanha Gaúcha. René Ormazabal, presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha, comentou que está sendo finalizado um dossiê da IP da Campanha Gaúcha para o pedido de reconhecimento no INPI: “no Brasil são cinco IPs na Serra Gaúcha sendo esta a sexta indicação geográfica do RS e a primeira fora da tradicional região da Serra Gaúcha”. Para Ormazabal, os 40 anos de produção na região desde a chegada dos americanos da Almadén configuram uma história relativamente recente. O empresário destaca o “clima propício, com ótima insolação, sistemas de condução modernos, profissionais capacitados e inúmeros vinhos que estão aí demonstrando a qualidade e a tipicidade dos produtos da região”.
No coquetel de abertura do evento também foi lançado o Dia do Vinho para a região da Campanha Gaúcha e estado do Rio Grande do Sul, evento articulado pelo Ibravin e previsto em Lei estadual. Ico Charopen, prefeito de Santana do Livramento, participou da abertura I Simpósio de Viticultura e Enologia – Região da Campanha Gaúcha na Unipampa e à noite assinou o decreto estabelecendo igualmente o “Dia do Vinho” em Santana do Livramento, durante o coquetel, que contou com a presença de autoridades locais, produtores de uva, proprietários de vinícolas, pessoas ligadas à área da vitivinicultura e estudantes.
O chefe geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Celso Zanus, destacou a grande quantidade de investimentos feitos na Campanha Gaúcha para encontrar soluções tecnológicas e qualificar a imagem da região.
I Simpósio de Viticultura e Enologia – Região da Campanha
O Simpósio de Vitivinicultura é um evento seriado promovido pela Embrapa Uva e Vinho e Ibravin. O evento foi criado para, ao longo de suas edições futuras, contemplar diferentes regiões produtoras de vinhos do Brasil, em parceria com as instituições regionais do setor vitivinícola. Este I Simpósio de Vitivinicultura foi voltado inteiramente para a vitivinicultura da região da Campanha Gaúcha do estado do Rio Grande do Sul.
De acordo com o Chefe da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Celso Zanus, os assuntos abordados nos dois dias envolveram três temáticas básicas: trabalhos de pesquisa, inovação nos sistemas de produção da da Campanha Gaúcha e constituição do Regulamentos de Uso da indicação de procedência Campanha Gaúcha para vinhos finos tranquilos e espumantes. “Trata-se de um trabalho em conjunto com empresas produtores de uvas e vinhos da região. O trabalho de finalização da indicação de procedência levará à qualificação da imagem dos vinhos da região, proporcionando maior competitividade”, ressaltou Zanus.
Todos os passos e cuidados que os vitivinicultores têm que seguir foram abordados nos dois dias do evento por pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, professores universitários e especialistas na área. A Embrapa Uva e Vinho e o Ibravin irão disponibilizar em seus sites as apresentações feitas durante esses dois dias. Enquanto isso, os seguintes tópicos foram abordados no Simpósio.
Adubação, manejo de plantas de cobertura em vinhedos, manejo da poda, brotação, pragas e doenças, balanço hídrico, as cultivares de videiras viníferas adaptadas à região, os compostos fenólicos e atividade biológica fizeram parte da programação.
Iniciando-se pelo tema de solos, Gustavo Brunetto, engenheiro agrônomo e professor da UFSM, falou sobre a nutrição de plantas voltadas à viticultura, recomendando a adubação e uso de plantas de cobertura para os vinhedos cultivados em solos arenosos como o da Campanha.
Danilo Rozane, engenheiro agrônomo e professor da Unesp-Registro e UFPR, apresentou o balanço nutricional da videira, através do uso do software CND (Diagnóstico de Composição Nutricional) que pode ser encontrado no site www.registro.unesp.br.
Marcos Botton, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho comentou sobre os principais insetos e ácaros pragas que ocorrem na região da Campanha e como fazer o seu controle, como a traça-dos-cachos através de novos inseticidas químicos e biológicos recentemente autorizados para o uso na cultura. Comentou também sobre a importância de estar permanentemente alerta para a possibilidade de introdução de novas espécies-praga por estar numa região de fronteira, incluindo as cochonilhas farinhentas (vetor de vírus) e a traça europeia dos cachos que ocorrem na Argentina e Chile. O pesquisador também destacou que a região tem uma baixa incidência de insetos e ácaros pragas fazendo com que os produtores tenham condições privilegiadas de manejo.
Fábio Cavalcanti, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, apresentou os fungos causadores de podridões de tronco da videira através de análise de DNA e o controle químico adotado pelas vinícolas da Região da Campanha Gaúcha.
Gilmar Marodin, engenheiro agrônomo e professor da UFRGS, trouxe informações sobre o manejo de brotação da videira na região da Campanha, considerando os principais sistemas de poda adotados (Guyot e Cordão Esporonado). Em quatro anos foram feitos estudos sobre o manejo da poda nas principais cultivares com potencial vitivinícola na região, com destaque para Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Chardonnay e Viognier.
Henrique Pessoa dos Santos, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, aprofundou questões de manejo da copa das videiras. Os vinhedos na região da Campanha foram implantados considerando referências de outras regiões como espaçamento, carga de gemas e altura de desponte dos ramos do ano. Ao longo de três safras foram testados e selecionados as referências ótimas destes parâmetros, considerando como enfoque principal a qualidade enológica. Nesta abordagem, foram consideradas avaliações em vinhedos de Cabernet Sauvignon em diferentes locais da Campanha e avaliações em um vinhedo de Merlot submetido à diferentes variações de manejo, tais como espaçamento, carga de gemas e altura de dossel. Em ambas as ações foram determinadas as características físicas e químicas dos solos, relacionando-se aos dados qualitativos dos vinhos. Além disso, foi testado o efeito da irrigação e a demanda hídrica dos vinhedos, considerando o monitoramento simultâneo da água no solo e na planta, em relação ao nível de pluviosidade e de evaporação da região e das safras.
Cláudia Zini, química e professora da UFRGS, analisou a composição dos vinhos Merlot em função dos contrastes de manejo das plantas, empregando técnicas instrumentais modernas de cromatografia e espectrometria de massa, em conjunto com técnicas sensoriais, evidenciando as moléculas marcadoras dos aromas qualitativos dos vinhos.
Celito Guerra, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho,relatou a experiência de estudar o potencial enológico de uvas de variedade pouco ou ainda não plantadas na Campanha e o resultado das características químicas e sensoriais dos vinhos obtidos no experimento. Foram selecionadas seis variedades de uvas brancas e quatro variedades de uvas tintas como sendo as mais promissoras para a produção de vinhos finos na região.
Letícia Flores da Silva, farmacêutica e analista da Embrapa Uva e Vinho, mostrou os compostos fenólicos presentes nas uvas e vinhos finos e da Campanha Gaúcha e sua atividade antioxidante. Esses compostos foram quantificados para classificar os vinhos de diferentes variedades, microrregiões, safras e processos de vinificação. Na mesma linha de pesquisa, Daiana Silva de Ávila, farmacêutica e professora na Unipampa, sede Uruguaiana apresentou a atividade antioxidante de compostos fenólicos de uvas e vinhos no nematoide Caenorhabiditis elegans.
O clima, como fator essencial também foi abordado. Maria Emília Borges Alves, engenheira agrícola e pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, esclareceu a caracterização de risco e potencial climático para a produção vinícola na região da Campanha Gaúcha. As condições climáticas são determinantes para a produção vinícola. A abordagem considerou índices que são indicativos do potencial vitivinícola ou de eventuais riscos que possam acometer os vinhedos e refletir na qualidade do vinho a ser produzido. Complementando a palestra inicial nesse tema, Everton Blainski, agrônomo e pesquisador na Epagri, exibiu uma plataforma de monitoramento agrometeorológico que tem uma interface para a região, a ferramenta Agroconnect, que faz a difusão de avisos e alertas agrometeorológicos.
Já no tema da geologia, Rosemary Hoff, geóloga e pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, mostrou a importância do tema na formação dos diferentes Terroir, gerando relevos e tipos de solo diversificados. O trabalho foi detalhado em 12 locais de concentração de vinhedos na região vitivinícola da Campanha. Foram mostrados monumentos geológicos associados à paisagem, como o Cerro Palomas, que podem ser utilizados no enoturismo e estratégias de marketing dos produtos. Neste contexto, Heinrich Hasenack, geógrafo e professor da UFRGS, aprofundou a caracterização e mapeamento do solo e relevo combinando metodologias de levantamento convencional com geoprocessamento e análise digital. Com isso, fez uma avaliação da aptidão edáfica para viticultura em toda Campanha Gaúcha.
Loiva Maria Ribeiro de Mello, economista e pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, retratou o georreferenciamento dos vinhedos da região através do Cadastro Vitícola.
Gildo Almeida da Silva, biomédico e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, apresentou a importância das leveduras que podem promover o processo de fermentação do vinho e que vão se traduzir em aromas e sabor diferenciados. O pesquisador isolou e selecionou leveduras para a região da Campanha e mostrou o perfil de leveduras Saccharomyces e não Saccharomyces.
Ainda na área de enologia, Celito Guerra, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, frisou que o pedido de status de Indicação de Procedência para a região da Campanha consta de diversas notas técnicas, onde se comprova a aptidão da região para produção de vinhos finos. Uma das notas técnicas versa sobre a composição química dos vinhos atualmente produzidos. A comunicação apresenta resultados de análises enoquímicas globais e de elementos minerais de 106 vinhos comerciais produzidos entre as safras 2008/2014. Junto com os resultados das análises sensoriais dos mesmos vinhos estes elementos comprovam a aptidão dos produtos para a região delimitada com status de IG. Em complemento, Mauro Celso Zanus, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, apresentou a caracterização sensorial qualitativa e quantitativa de cor, aroma e paladar através do estudo de amostras de diferentes safras (2004, 2005, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012,2013) de vinhos branco, rosé, tinto e espumante de vinícolas da região.
Joelsio José Lazzarotto, médico veterinário e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, fez uma análise das características sócio-econômicas e tecnológicas da viticultura da Campanha trazendo vários questionamentos, com destaque para o tipo de empreendimento, se é familiar, empresarial ou outro; se a finalidade é produção de uva, vinho ou suco; se o destino é para industrialização, própria ou para terceiros; qual é o investimento e qual o custo de produção.
Ivanira Falcade, geógrafa e professora na UCS, abordou trouxe a questão de território e identidade, apresentando a organização do espaço e a construção do território na história da região da Campanha chegando à Indicação de Procedência.
Jorge Tonietto, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, apresentou o Regulamento de Uso da Indicação de Procedência da Campanha Gaúcha para vinhos tranquilos e espumantes, que é o documento necessário para que o vinho possa ser aprovado como sendo um produto de IG e os padrões de normatização.
Giovani Silveira Peres, engenheiro agrônomo, apresentou a Associação de Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha e as vinícolas que a compõem, bem como o Conselho Regulador de Indicação Geográfica para a região da Campanha.
Renata Zocche, engenheira agrônoma e professora da Unipampa, aprofundou a questão do Regulamento de Uso do IP da Campanha em todo processo produtivo da vitivinicultura: na inscrição do produto, coleta de amostras, avaliação sensorial, elaboração por terceiros e a responsabilidade da Associação nesse processo.
Kelly Lissandra Bruch, advogada e professora da UFRGS, discorreu sobre o registro de Indicação de Procedência junto ao INPI e a Indicação Geográfica, os documentos necessários e os trâmites a serem cumpridos.
Mais de 240 pessoas participaram do evento entre produtores, técnicos, estudantes e empreendedores. De acordo com os participantes, o evento foi bastante produtivo. Para a estudante de Enologia da Unipampa Dom Pedrito, Gabriela Jardim, “foi uma oportunidade para nos atualizarmos em termos de enologia, socializar com pesquisadores, alguns dos quais são nosso espelho. A representatividade feminina é ótima, além de se conhecer as grandes profissionais da área”.
O coordenador da Unidade Miolo/Almadén, engenheiro agrônomo e administrador, Fabrício Domingues considerou o evento de enorme importância para o desenvolvimento da região. “Participei dos experimentos e ver hoje o resultado de mais de 14 anos é um espetáculo. Isso é resultado de todo um esforço conjunto. Tudo o que se sabia empiricamente, hoje está sendo comprovado com esses órgãos, mostrando o potencial do regional; o potencial turístico que vai começar a ser aproveitado e explorado. Isso vai gerar o desenvolvimento regional para uma região que é carente desses tipo de alternativa de renda”.
“Esse evento é muito importante para a região, especialmente para Santana do Livramento, que já é um polo, divulgando nossa região e nosso produto. O manejo do solo é importante tanto para o pequeno como o grande produtor”, concluiu Fabrício Cheguhem, produtor de uvas.
Maria Francisca Canovas de Moura (7168)
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