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03/03/15 |   Produção vegetal

ANA e Embrapa fazem mapa da agricultura irrigada no Brasil

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Foto: Olímpio Filho

Olímpio Filho - Estudo detectou quase 18 mil pivôs em funcionamento no Brasil

Estudo detectou quase 18 mil pivôs em funcionamento no Brasil

Parceria da Embrapa Milho e Sorgo (MG) com a Agência Nacional de Águas (ANA) permitiu a execução de levantamento inédito sobre o uso da água na agricultura irrigada por pivôs centrais no Brasil. Os resultados mostraram que, em 2013, o Brasil possuía quase 18 mil pivôs centrais, perfazendo uma área de aproximadamente 1,2 milhão de hectares.

A aplicação do mapeamento aprimorou as estimativas de demandas da água – tanto no cálculo quanto na espacialização. "Tais resultados estão alimentando, por exemplo, os Planos de Recursos Hídricos em elaboração, os Estudos de Bacias Críticas e de Demandas de Água e os Relatórios e também Informes e Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil", aponta o especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), Thiago Henriques Fontenelle.

O mapeamento das áreas irrigadas por pivôs centrais no Brasil se baseia na tecnologia "Integração Google – SIG, Servidores de Mapas", desenvolvida pela Embrapa Milho e Sorgo, e combina informações de satélite e a digitalização no Google Earth. A identificação das áreas irrigadas é feita usando imagens do satélite Landsat8, da agência espacial norte-americana, NASA, e também utiliza tratamento dessas imagens para evidenciar os equipamentos de irrigação.

"Os estudos mostraram que existe concentração de uso de pivôs nas bacias dos Rios São Francisco, Paranaíba, Grande e Paranapanema (respectivamente, em torno de 350 mil, 300 mil, 100 mil e 90 mil hectares). Essas regiões estão localizadas em área densamente povoadas e com alto índice de industrialização, fatores que ocasionam um maior consumo de água", explica a pesquisadora Elena Landau, que coordenou a pesquisa, juntamente com o pesquisador Daniel Pereira Guimarães, ambos da Embrapa Milho e Sorgo (MG).

De acordo com a pesquisadora, Minas Gerais é o estado que apresenta a maior concentração de áreas irrigadas por pivôs (aproximadamente 370 mil hectares), seguido pelos estados de Goiás, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul (respectivamente, com cerca de 211 mil, 192 mil, 169 mil e 76 mil hectares). "Nessas áreas é alta a demanda pelo consumo de água para irrigação bem como para a geração de energia e abastecimento para consumo humano", aponta Landau.

A metodologia havia sido usada com êxito em trabalho de gerenciamento dos recursos hídricos feito para a Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, possibilitando implementar o projeto estruturante IrrigaMinas.

O gerenciamento dos recursos hídricos é uma ferramenta utilizada para amenizar os conflitos pelo uso da água. "Apenas em Minas Gerais existem mais de 50 bacias hidrográficas nas quais foram estabelecidos conflitos pelo uso da água. O gerenciamento pode ser feito pelos produtores rurais, pelo governo, por comitês de bacias hidrográficas e outros interessados", explica o pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo. Ele cita um bom exemplo de controle, realizado na Bacia do Rio Entre Ribeiros, em Paracatu, cidade do Noroeste Mineiro. "Lá os próprios irrigantes já se organizaram para gerenciar o consumo de água. Em épocas de escassez eles fazem a opção de reduzir o consumo", diz.

O georreferenciamento das áreas irrigadas permite identificar as áreas plantadas com o uso das imagens dos satélites Aqua e Terra (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer - Modis). "A compatibilização das bases de dados referentes à agricultura irrigada com as bases municipais do IBGE e as bacias hidrográficas da Agência Nacional de Águas torna-se um poderoso instrumento de monitoramento e gerenciamento do uso da água na agricultura irrigada, além de fornecer subsídios para a avaliação da safra agrícola", diz Guimarães.

Perspectivas da Agência Nacional de Águas

De acordo com Fontenelle, da ANA, o monitoramento georreferenciado de áreas irrigadas permite o cruzamento espacial com cadastros e outorgas de recursos hídricos, apontando o nível de regularização nas sub-bacias. "Com base nestes dados, a capacitação de usuários, a fiscalização e as campanhas de regularização e de uso racional da água podem ser melhor planejadas e mais efetivas," acredita.

O especialista relata que os pivôs centrais foram foco inicial do esforço de mapeamento de áreas irrigadas pela facilidade de mapeamento, mas também por ser o método de irrigação de maior expansão nos últimos anos. "Estima-se que o incremento da área de pivôs tenha sido da ordem de 50 a 80 mil hectares por ano nos últimos cinco anos. O mapeamento atual (2013) foi o primeiro na escala nacional", relata.

Ele acrescenta que está sendo executado o mapeamento 2014 e, quando essa etapa for concluída, apontará áreas de expansão no curto prazo. Entretanto, aumentos de área irrigada também poderão ocorrer por causa de aprimoramentos metodológicos executados pela Embrapa, a partir da análise do mapeamento 2013. "Com a conclusão do mapeamento 2014, existe a perspectiva de que a ANA e a Embrapa façam uma publicação conjunta e disponibilizem todos os dados na internet".

"Queremos dar continuidade aos levantamentos até que se estabeleçam com segurança os principais polos de expansão da irrigação por pivôs centrais, que podem então ser monitorados mais de perto. O projeto deverá ser prorrogado por mais dois anos. O resto do país poderá ser monitorado bienal ou trienalmente", conta Fontenelle.

Outra demanda a ser alcançada é o uso de sensoriamento remoto multitemporal para monitorar não só a existência, mas também o uso dos pivôs centrais ao longo do ano. É importante saber se o pivô funciona durante o ano todo ou se fica parado em alguns períodos. "Assim, será possível determinar, por exemplo, quais pivôs estão sendo utilizados e quais regiões irrigadas são impactadas em fortes períodos de estiagem. Estes dados são fundamentais para estimar o balanço hídrico ao longo do ano e em situações de criticidade quantitativa", diz.

Irrigação brasileira tem muito a crescer

A crise hídrica que vem ocorrendo no Brasil está causando impacto na economia e na qualidade de vida da população. Como a agricultura irrigada utiliza-se de cerca de 70% das águas derivadas dos recursos hídricos, a atividade muitas vezes é apontada como responsável pela crise de água.

Daniel Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo, considera essa visão simplista e sem sentido. "Precisamos enxergar o ciclo da água na natureza e notar que a água está em processo contínuo de transformações, em que grande parte retorna para o espaço pelo processo de evaporação da água contida no solo e transpiração das plantas", diz o cientista.

O pesquisador ressalta que nesses períodos de forte estiagem, as altas temperaturas e os baixos índices de umidade do ar contribuem para aumentar as perdas de água para a atmosfera e reduzir a água disponível nos solos. "Na realidade, as atividades humanas impactam diretamente a natureza e precisam ser redirecionadas de forma a permitir o desenvolvimento sustentável. No caso da agricultura irrigada, trata-se de uma atividade que permite ganhos expressivos em produtividade e a consequente redução da área antropizada", complementa.  A área antropizada é aquela onde ocorrem transformações no meio ambiente (solo, relevo, vegetação, regime hídrico) por consequência da atividade humana.

No entanto, Guimarães explica que tudo isso requer o uso eficiente da água de irrigação e que a consolidação do Brasil como celeiro de alimentos do mundo passa, obrigatoriamente, pela expansão dessa atividade no país. "Apesar de nossa vasta extensão territorial e condições climáticas favoráveis, o Brasil ainda ocupa uma tímida posição no que se refere à área irrigada, perdendo até para países de clima árido, como Paquistão e Irã. Enquanto nossa área irrigada situa-se atualmente na casa de seis milhões de hectares, nos Estados Unidos supera 25 milhões de hectares e ultrapassa 60 milhões de hectares irrigados na China e Índia", pontua. A política do governo é dobrar a área irrigada no país até 2020, mas essa expansão requer análises criteriosas que permitam o gerenciamento dos recursos hídricos de forma a minimizar os conflitos pelo uso da água e as questões ambientais.

Veja o site: Água na Agricultura e acesse as páginas de metadados e do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos da ANA.

Sandra Brito (MTb 06230/MG)
Embrapa Milho e Sorgo

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