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Produção agrícola indígena foi tema de debate na Câmara Federal
Foto: Claudio Bezerra
Terezinha destacou o potencial dos produtos indígenas para o mercado agroecológico, em franco crescimento no Brasil.
A pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Terezinha Dias representou a Embrapa em audiência pública sobre produção agrícola indígena na Câmara Federal hoje (18/10). O evento foi realizado pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) e presidido pelos deputados Nilson Leitão (PSDB-MT) e Valdir Colatto (PMDB-SC). Além da Embrapa, participaram também do debate: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério da Justiça e Segurança Pública, Fundação Nacional do Índio (Funai), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Terezinha destacou que os povos indígenas têm demandado cada vez mais o reconhecimento de seus direitos territoriais e também dos saberes e práticas relacionadas à sua cultura. Paralelamente, eles têm buscado aporte tecnológico da pesquisa agropecuária para resolver os problemas de segurança e soberania alimentar em seus territórios. “E quando falamos de aporte tecnológico, não estamos nos referindo a apenas um modelo de agricultura, visto que há 305 povos indígenas no Brasil, com 180 diferentes idiomas”, enfatizou.
Por isso, as práticas agrícolas diferem muito entre as diferentes etnias no Brasil. “Não existe o conceito de agricultura indígena e sim de sistemas agrícolas indígenas”. A terra para os povos indígenas não é apenas vista como solo, está inserida em um contexto cultural muito maior. A alimentação é associada à sua cultura, ritos, mitos.
A pesquisadora lembrou que hoje há um mercado crescente de produtos orgânicos e agroecológicos no País, o que pode ser muito positivo para os povos indígenas que vivem nas áreas mais preservadas do Território Nacional.
A parceria da Embrapa com comunidades indígenas começou em 1995, quando representantes do povo indígena Krahô, de Tocantins, procuraram a Empresa em busca de sementes primitivas de milho e amendoim, que já não possuíam mais, em função da introdução de variedades comerciais em suas terras.
Graças às pesquisas de conservação e uso sustentável de recursos genéticos vegetais desenvolvidas pela Embrapa desde a sua criação na década de 70, as sementes estavam conservadas nas câmaras frias da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, a 20º abaixo de zero.
Desses espaços gelados, as sementes de milho e amendoim foram, então, multiplicadas e entregues ao povo indígena Krahô.
Parceria de sucesso: alguns destaques
Esse foi o ponto de partida para uma parceria bem-sucedida que acontece até hoje e já se estendeu a comunidades indígenas de diversas regiões brasileiras, envolvendo a Funai, unidades da Embrapa e outras instituições parceiras. O trabalho envolve ações de pesquisa e de transferência de tecnologias a partir de cursos e outras atividades de capacitação. Confiram, abaixo, alguns dos destaques:
- Preservação e manejo sustentável do tracajá (parente da tartaruga da Amazônia) e de outras espécies alimentares de importância para etnias do Parque Indígena do Xingu (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios – RAN/ICMBio, Centro Universitario de Vila Velha – UVV e Petrobras Ambiental);
- Plantio de 20 mil mudas nos quintais indígenas do povo Krahô, incluindo caju anão precoce e bananas resistentes à sigatoka negra (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia);
- Curso de capacitação de agricultores indígenas (povo Canela, MA) das aldeias Porquinhos e Descalvados em estratégias de conservação de recursos genéticos ex situ e on farm, manejo e uso da agrobiodiversidade (Embrapa Recursos Genéticos e Embrapa Hortaliças);
- Curso de capacitação de agricultores Kaiapó (sul do Pará) em conservação da agrobiodiversidade in situ/ on far e ex situ. (Embrapa Recursos Genéticos, em parceria com a Embrapa Hortaliças e Associação Floresta Protegida – AFP);
- Contribuição para a etnossustentabilidade de comunidades indígenas Terena de Mato Grosso do Sul (Embrapa Agropecuária Oeste, em parceria com o CNPq, Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul - UEMS e Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural - Agraer);
- Introdução da piscicultura nas aldeias Bororó e Jaguapirú da Terra Indígena de Dourados, MS (Embrapa Produtos e Mercado – Escritório de Dourados,MS, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura Familiar, Carteira de Projetos Indígena/ MMA e Associação Indígena Onhondivepá Guarani, Kaiowá e Terena, MS);
- Disponibilização de tecnologias relacionadas ao cultivo da mandioca em áreas indígenas do estado de Roraima. A mandioca é a base da alimentação das comunidades indígenas para produção de beiju, farinha e uma bebida muito apreciada: o caxiri. (Embrapa Roraima);
- Apoio à produção de melancia pelos índios do lavrado de Roraima, especialmente as etnias Macuxi e Wapichana, que são os maiores produtores dessa fruta no estado (Embrapa Roraima);
- Adoção da tecnologia de plantio de feijão caupi em consórcio com mandioca junto aos índios da savana de Roraima (Embrapa Roraima);
- Estudo dos aspectos culturais e sua relação com cultivos, práticas agrícolas e uso terapêutico de plantas medicinais em dez comunidades indígenas do grupo Kulina (Kulina do Rio Envira, Jaminawa-Envira e Kulina do Igarapé do Pau), no município de Feijó (AC), próximo à fronteira peruana (Embrapa Acre).
Irene Santana e Fernanda Diniz (MTb 11.354/DF e MtB 4685/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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