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27/08/19 |   ILPF  Automação e Agricultura de Precisão

Sombra em sistema de ILPF ajuda a aumentar atividade do rebanho, com ganhos de produtividade

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Foto: Alexandre Rossetto

Alexandre Rossetto - Fêmeas monitoradas com colares e sensores: pecuária de precisão

Fêmeas monitoradas com colares e sensores: pecuária de precisão

Fêmeas bovinas da raça Canchim monitoradas por 94 dias durante a primavera em sistema integrado lavoura-pecuária-floresta (ILPF) revelaram um nível de atividade mais alto do que aquelas que permaneceram o mesmo tempo em pastos a pleno sol. A pesquisa com esses resultados acaba de ser premiada como melhor trabalho científico do 29º Congresso Brasileiro de Zootecnia - Zootec 2019, realizado em Uberaba (MG) de 13 a 16 de agosto.

O estudo foi desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) pela equipe do pesquisador Alexandre Rossetto Garcia. A aluna de doutorado Andréa Barreto, orientada por ele, fez a apresentação no congresso e recebeu o prêmio. O Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, ao qual ela está vinculada, foi criado por um convênio entre a UFPA (Universidade Federal do Pará), Embrapa e UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia).

O trabalho premiado se chama “Monitoramento eletrônico do comportamento de novilhas de corte mantidas em sistema de ILPF". A equipe acompanha a rotina de animais por meio de colares eletrônicos com sensores colocados nos bovinos e de receptores que transmitem os dados a computadores da fazenda.

O monitoramento permite acompanhar os períodos em que os animais permanecem em ócio, em atividade ou em ruminação. Neste último caso, de acordo com Andréa, um sensor acústico permite saber se o gado está mastigando ou ruminando. “Também usamos um acelerômetro, aparelho que indica se o animal está em movimento”, disse ela.

Indicação de manejo

A boa notícia vem justamente dos períodos mais quentes do dia, manhã e tarde. Nessas horas, as fêmeas monitoradas sob a sombra das árvores se movimentaram seis minutos a mais em cada hora em comparação com as que estavam expostas ao sol. “Em um dia, isso representa mais de uma hora de movimentação a mais. Isso significa que essas fêmeas desenvolveram outras atividades”, explicou Rossetto.

De acordo com o pesquisador, a informação é relevante para definir estratégias de manejo, já que as fêmeas em sombra conseguem sair em busca de alimentos de melhor qualidade, ficam mais disponíveis para eventos reprodutivos e apresentaram melhores referências biológicas. “Esses eventos refletem na produtividade”, afirmou.

Além da movimentação nas duas áreas, a pesquisa avaliou o tempo de ócio – as fêmeas que estavam a pleno sol permaneceram mais tempo paradas (14%), em comparação com as que estavam sob as árvores, uma atitude típica de animais em desconforto térmico. “O monitoramento permite avaliar também se o ócio era normal ou se indicava algum problema de saúde”, falou Andréa.

Dados do microclima também foram coletados, como temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do vento e chuvas. O monitoramento ocorreu em período integral (24 horas por dia). Os dados noturnos e da madrugada não apresentaram diferenças significativas.

Os pesquisadores também calcularam as médias dos índices de temperatura e umidade (ITU) e de globo negro e umidade (ITGU), que apontam quando o animal está em conforto térmico nas condições tropicais. Eles explicaram que quando o ITGU está entre 74 a 78, o animal já apresenta desconforto térmico. Na pesquisa, no período da tarde a pleno sol, esse índice chegou a 79,7, o que caracteriza condição de estresse térmico, enquanto no sistema sombreado as médias variaram de 74,1 a 77,5.

“A ILPF melhora as condições de microclima, atenuando o calor em função da presença das árvores, o que favoreceu a prática de atividades”, disse Andréa. Estudo anterior da equipe de Alexandre Rossetto já apontava que a presença de animais em área sombreada reduzia a procura por água.

As pesquisas vão prosseguir por meio de um projeto recém-aprovado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que vai avaliar o comportamento de touros no sistema integrado. A pesquisa de doutorado de Andréa, que tem foco em conforto térmico de bovinos a pasto, também continuará sendo desenvolvida na Embrapa de São Carlos.

São parceiros da pesquisa premiada, além das duas universidades do norte do país e Embrapa, a Universidade Federal Fluminense, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a empresa Cow Med, a Fapesp, Capes e CNPq.

Premiação

Andréa ficou entre os 12 pesquisadores selecionados no Zootec 2019 para apresentar seu trabalho de forma oral. Ao todo, o congresso recebeu 1.300 trabalhos e cerca de 1.500 participantes nos quatro dias de programação. “A organização escolheu as três melhores pesquisas de cada área para a apresentação”, contou. A banca era composta por pesquisadores que são referência no Brasil sobre os temas. A premiação como o melhor trabalho aconteceu na sexta à tarde, dia 16 de agosto.

Rossetto ficou orgulhoso com o resultado e estimula a aluna. “Esse tipo de monitoramento é tendência no agronegócio. Os jovens precisam se engajar nessa área porque a pecuária vai precisar de profissionais qualificados em pecuária de precisão.”

No ano passado, outra aluna orientada por Rossetto, Amanda Prudêncio Lemes, foi premiada na 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões, considerada o maior congresso de reprodução animal do país.

Ana Maio (Mtb 21.928)
Embrapa Pecuária Sudeste

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