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Resultados do Projeto Biomas no Cerrado são apresentados em live
A Embrapa e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentaram os resultados de 10 anos de pesquisas desenvolvidas pelo Projeto Biomas no Bioma Cerrado, em live promovida pelo Sistema CNA/Senar no dia 3 de setembro. Fruto da parceria entre as duas instituições, o projeto, lançado em 2010, focalizou o uso de espécies de árvores nativas e exóticas para a proteção, a recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos seis biomas brasileiros, mas com destaque inicial para o Cerrado.
No Brasil, a iniciativa envolveu mais de 300 pesquisadores da Embrapa, de universidades e de outras instituições de pesquisa do País, e contou com o apoio de produtores rurais, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da John Deere.
Participaram do encontro virtual os pesquisadores Alexandre Uhlmann (Embrapa Florestas), coordenador nacional do projeto, e José Felipe Ribeiro (Embrapa Cerrados), coordenador do componente Cerrado; além do produtor rural José Brilhante Neto, sócio proprietário da fazenda Entre Rios, no Distrito Federal, local que serviu de unidade experimental do projeto no Bioma Cerrado. Eles conversaram com a coordenadora-executiva do projeto pela CNA, Cláudia Mendes.
Pesquisas
Ao falar sobre os resultados do projeto no Cerrado, José Felipe Ribeiro recordou que foi preciso compatibilizar a nova legislação ambiental com as características de savana do Bioma para recuperar áreas na propriedade rural e beneficiar o produtor. “Buscamos os modelos que fossem mais baratos e rápidos para que ele pudesse alocar e estabelecer na fazenda essas maneiras de recompor”, disse.
O pesquisador explicou que a semeadura direta, ou seja, a distribuição, no solo, de sementes colhidas no próprio Cerrado, foi testada na forma manual e com o uso de diferentes equipamentos, visando ao maior estabelecimento das espécies e ao fornecimento de uma cobertura vegetal que atendesse à legislação e aos programas de regularização ambiental. A semeadura direta é uma alternativa ao plantio de mudas, técnica que envolve maiores custos com produção e mão de obra, além de dificuldades com o transporte. A pesquisa gerou uma lista com mais de 70 espécies para semeadura direta.
Ribeiro destacou que um grande produto do Projeto Biomas no Cerrado foi o fato de que os resultados, a partir da compreensão da legislação e das formas de recuperação ambiental, estarem se desdobrando e apoiando os Programas de Regularização Ambiental (PRAs) em diferentes estados. “Os conhecimentos adquiridos no projeto e outros parceiros estão apoiando o Projeto Paisagens Rurais, que dará continuidade às pesquisas com espécies nativas. Hoje, temos dentro da fazenda uma vitrine de estratégias de recuperação que podem ser vistas por outras pessoas”, comentou, acrescentando que os resultados também apoiaram a construção da plataforma WebAmbiente para o atendimento aos PRAs nos estados. Uma parceria nesse sentido está em fase final de construção com o Serviço Florestal Brasileiro.
“É muito satisfatório ver que a ciência está colaborando efetivamente para que uma legislação tenha sucesso e para que o produtor possa ser, de alguma maneira, remunerado e valorizado por aquilo que está entregando à sociedade – não apenas o alimento ou o produto da vegetação, mas também o que ele traz da biodiversidade e da conservação da água”, afirmou, destacando a importância das parcerias firmadas para o projeto.
“Embora nosso foco tenha sido nas árvores, sempre tivemos um olho no chão, pois nem tudo que é vegetação nativa no Brasil é árvore”, comentou Alexandre Uhlmann, citando o uso de espécies herbáceas em processos de recomposição do ambiente em pesquisas do Projeto Biomas. O pesquisador também salientou as especificidades dos seis biomas observadas pelo projeto, bem como a utilidade das árvores em diferentes sistemas produtivos.
Uhlmann apresentou alguns exemplos de atividades de pesquisa realizadas nas propriedades rurais escolhidas como unidades experimentais, como mapeamentos de solos, além de experimentos com restauração de passivos ambientais em Áreas de Reserva Legal (ARL) e de Preservação Permanente (APP); com domesticação de espécies; com métodos de restauração, como a semeadura direta no Cerrado; e com a intensificação da produção com o plantio de árvores na Caatinga, entre outros.
“Quem trabalha com pesquisa sabe que uma pergunta leva a (outras) 10. E essas 10 perguntas ainda precisam ser trabalhadas. Mas o principal legado desse projeto talvez seja ter reunido um grande conjunto de pessoas interessadas em respondê-las”, concluiu.
Benefícios ao produtor
Cláudia Mendes lembrou que a concepção do Projeto Biomas se deu no contexto dos debates que marcaram a elaboração do Novo Código Florestal. “Era uma discussão acirrada, e a CNA entendeu que seria importante trazer a ciência e a pesquisa para dar argumentos científicos a essa discussão. Por isso, ela se juntou à Embrapa, nossa mais importante empresa de pesquisa agropecuária, para que soluções fossem apresentadas para o produtor rural brasileiro atender a essa legislação ambiental, que hoje podemos dizer que é a mais criteriosa do mundo”, disse.
Ela apontou que o Novo Código Florestal prevê a necessidade do estabelecimento de uma ARL e da proteção de APPs. “O produtor tem que ser orientado sobre como resolver esse problema. No Cerrado, o projeto buscou identificar modelos para o produtor fazer a adequação ambiental e atender à legislação com o menor custo possível e, ainda, tendo retorno econômico”, salientou.
Localizada na região do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), a fazenda Entre Rios, dos cunhados José Brilhante Neto e Adriano Varella, destina 60 dos 820 hectares da área total para as atividades do projeto no Bioma Cerrado. A propriedade produz grãos e cria bovinos Guzerá. “No início, embora já viéssemos atendendo aos critérios de APP e ARL, vimos uma grande oportunidade de estar junto do pessoal que faz pesquisa de ponta e de ver essa pesquisa sendo aplicada na realidade”, disse Neto.
O produtor afirmou que os benefícios proporcionados à fazenda com as pesquisas são nítidos, como o aumento da presença da fauna, como aves e mamíferos. “Vejo benefício para a área de grãos. Você começa a perceber que, com um manejo adequado da lavoura e com a presença dos inimigos naturais, o combate às pragas fica mais fácil”, afirmou. “Nas áreas onde a Embrapa vem trabalhando, parece haver mais retenção de água no solo. Isso vai influenciar na questão do lençol freático e ajudar nos nossos córregos, nascentes e principalmente no Rio Jardim, de que fazemos uso para irrigação”, observou. A propriedade também está participando do Projeto Paisagens Rurais.
Após as falas, os participantes responderam a perguntas encaminhadas pelo chat. Essa foi a primeira de uma série de seis lives sobre os resultados do projeto em cada Bioma, com datas ainda a serem confirmadas.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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