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17/11/20 |   Mudanças climáticas  Produção vegetal  ILPF  Agricultura de Baixo Carbono

Lavoura pode manter produtividade mesmo com árvores crescidas em sistemas ILPF

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Foto: Gabriel Faria

Gabriel Faria - Pesquisa abre novas possibilidades para produtores que fazem ILPF

Pesquisa abre novas possibilidades para produtores que fazem ILPF

  • Com operações de desbaste e corte seletivo de árvores, lavouras de soja e milho em ILPF produzem como se estivessem em áreas sem sombreamento.

  • Embora efeito seja limitado a dois anos, abre possibilidade de rotação mesmo quando as árvores já estão grandes.

  • Resultados possibilitam mudanças e versatilidade na gestão da propriedade.

  • Possibilidade de reduzir ciclo da pecuária traz os benefícios da rotação das culturas, como a quebra do ciclo de pragas e doenças e melhoria da fertilidade do solo.

  • Manejo deve ser feito antes que ocorra a redução de produtividade. Existe a necessidade de um acompanhamento do desenvolvimento do componente florestal, que vai ser o indicador do momento da intervenção.

  • Milho mostrou-se mais sensível ao sombreamento do que a soja.

O manejo correto das árvores pode manter a produtividade da agricultura mesmo em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) já consolidados, com árvores crescidas. O resultado comprovado por pesquisa realizada pela Embrapa Agrossilvipastoril (MT) abre novas possibilidades para produtores que fazem ILPF e que queiram rotacionar a pastagem com lavoura após as árvores já estarem com porte maior.

Avaliações realizadas no campo experimental do centro de pesquisa mostraram que fazendo o desbaste e a desrama, elevando-se a copa dos eucaliptos, reduz-se a sombra sobre a cultura agrícola. Isso permitiu à soja recuperar, por até dois anos, a produtividade de uma lavoura sem sombreamento. No caso do milho, também houve a recuperação da produtividade, porém o efeito só é sentido em uma safra.

“Isso não é problema, pois o produtor que quiser rotacionar o pasto, pode fazer uma safra de soja seguida de milho e, no ano seguinte, outra de soja seguida da semeadura da forrageira, retornando à pecuária no sistema silvipastoril, com um pasto recuperado”, explica o pesquisador da Embrapa Ciro Magalhães.

De acordo com o cientista, o resultado é importante para quebrar o entendimento comum que existia de que em sistemas integrados com componente arbóreo só é viável manter a lavoura nos anos iniciais de crescimento das árvores. Assim, abre-se uma nova possibilidade estratégica de mexer no planejamento, caso seja necessário.

“Esses resultados possibilitam mudanças na gestão da propriedade. Se o produtor está querendo desacelerar a pecuária, por exemplo, ele pode fazer o desbaste e modificar um pouco as proporções das atividades. Ele pode ajustar o planejamento e aumentar a área de lavoura em determinado ano”, exemplifica o pesquisador.

Além disso, a possibilidade de reduzir o ciclo da pecuária traz os benefícios da rotação das culturas, como a quebra do ciclo de pragas e doenças e melhoria da fertilidade do solo.

Arranjo experimental

A pesquisa foi feita analisando tratamentos de ILPF com renques de eucalipto plantados inicialmente em linhas triplas, com distância de 30 metros entre si. Os dados de produtividade foram comparados aos da lavoura em áreas testemunhas sem sombreamento (ver quadro abaixo), de modo a obter-se o potencial produtivo usado como referência.

A primeira intervenção nas árvores ocorreu após o quinto ano de implantação, quando algumas parcelas tiveram as linhas externas dos renques suprimidas, tornando-as sistemas de linha simples, com distância de 37 metros entre si. As demais parcelas tiveram desbaste seletivo de 50% das árvores, mas mantendo as linhas triplas. 

Antes da intervenção nas árvores, a soja em ILPF estava obtendo 80% da produtividade da lavoura sem sombra, enquanto o milho produzia 67% do potencial produtivo. Após essa intervenção a soja produziu 80%, 87% e 66% do potencial produtivo nos três anos seguintes no sistema que se manteve em renques triplos. Já no sistema com renques simples, a recuperação foi maior, com 93%, 97% e 76% de produtividade, respectivamente. 

Já o milho, no caso do sistema com renques triplos, a lavoura, além de não recuperar a produtividade, continuou caindo, mesmo com a intervenção. A produção que estava em 70% foi para 64%, 60% e chegou a 47% do potencial obtido na área de lavoura sem sombra. No sistema com linhas simples, houve uma recuperação, mas menor que a da soja. No primeiro ano produziu-se 85% do potencial, no segundo 79% e no terceiro, 71%.

De acordo com Magalhães, os dados mostraram que o sistema convertido para renques simples permitiu melhor recuperação da lavoura, chegando a igualar estatisticamente às áreas sem sombra. Porém, o efeito positivo durou apenas dois anos na soja e um ano no milho. 

Diante disso, nova intervenção foi feita nas árvores antes da 9ª safra. Todas as áreas com renques triplos tiveram desbaste nas linhas externas, tornando-se linhas simples. Além disso, foi feita a desrama em todas as árvores dos dois tratamentos analisados, até a altura de 12 metros. 

A intervenção mais uma vez se mostrou positiva para a lavoura, possibilitando que a soja retomasse a produtividade para níveis estatisticamente iguais aos da área de referência. No caso do milho, isso aconteceu na área que era anteriormente renque triplo. Já na área que já estava com renques simples, a desrama possibilitou recuperação da produtividade, mas ainda ficando com 85% do potencial. O maior número de árvores na área que não teve o corte de 50% dos indivíduos, ainda que estivessem em linha simples, reduziu a entrada de luz para as plantas.

“O manejo das árvores é crucial para manutenção das produtividades das lavouras de soja e milho. E esse manejo deve ser feito antes que ocorra a redução de produtividade. Existe a necessidade de um acompanhamento do desenvolvimento do componente florestal, que vai ser o indicador do momento da intervenção. Quanto menor o espaçamento entre os renques, menor o tempo para realizar a intervenção, a fim de manter os níveis de produtividade”, explica Ciro Magalhães. 

Arte: Renato Tardin

 

Incidência solar

Em todos os resultados, a cultura do milho se mostrou mais sensível aos efeitos do sombreamento do que a soja. De acordo com os pesquisadores, a principal explicação está na menor incidência solar sobre a cultura. 

Nos meses em que a soja está no campo, entre outubro e fevereiro, os dias são mais longos e o ângulo de incidência solar permite maior entrada de luz entre os renques. Já no período em que o milho está no campo, entre fevereiro e junho, além do encurtamento dos dias, o ângulo de incidência solar aumenta a projeção de sombra sobre a lavoura, reduzindo a taxa fotossintética das plantas. 

“Temos uma correlação muito forte da produtividade com a taxa fotossintética. Quanto mais próximo das árvores, menor a taxa fotossintética. Mas não é só isso que reduz a produtividade nas linhas mais próximas às árvores. Há também a competição por água e nutrientes”, pondera o pesquisador da Embrapa.

Em um sistema como o da Embrapa Agrossilvipastoril, disposto em sentido leste-oeste, a mudança no ângulo dos raios solares, em função da estação do ano, influencia também na produtividade de cada face do sistema. No caso da soja, a maior produtividade ocorre na face sul dos renques. Já no milho, a maior produtividade ocorre na face norte.

 

Resultados da lavoura em experimento de ILPF com pecuária de corte na Embrapa Agrossilvipastoril

 

Pisoteio não reduz produtividade em área de ILP

Além de uma área de lavoura exclusiva, usada como referência, a pesquisa também avaliou áreas de integração lavoura-pecuária, nas quais a atividade era alternada a cada dois anos, sendo a agricultura feita com soja e milho; e a fase da pecuária com pastagem de braquiária Marandu, com pastejo de gado nelore. Em ambos os tratamentos a produtividade observada na soja e no milho foi estatisticamente igual em todos os anos analisados.

“Isso mostra, com toda segurança, que o pastejo intensivo por dois anos não prejudicou a produtividade da lavoura nos anos seguintes. O pisoteio dos animais não provoca a compactação do solo, desde que feito seguindo critérios de manejo de pasto que permitam a recuperação do capim, como por exemplo, ter uma altura de pastejo como meta,” afirma Magalhães. 

O pesquisador destaca ainda que a ILP traz outras vantagens, como quebra do ciclo de pragas e doenças, melhoria física do solo, melhor aproveitamento dos nutrientes pela forrageira, cujas raízes exploram camadas mais profundas. Na pecuária, a pastagem de melhor qualidade resulta em maior capacidade de lotação e maior ganho de peso dos animais, quando comparada a um pasto solteiro.

 

Gabriel Faria (MTb 15.624/MG)
Embrapa Agrossilvipastoril

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