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01/06/21 |   Produção vegetal  Gestão ambiental e territorial

Metodologia inédita em sanidade vegetal protege a citricultura baiana da pior praga mundial

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Foto: Davi Amorim (Adab)

Davi Amorim (Adab) - O inseto psilídeo Diaphorina citri é o principal vetor de transmissão das bactérias causadoras do HLB. A foto mostra a presença do psilídeo (adultos e ninfas), na planta

O inseto psilídeo Diaphorina citri é o principal vetor de transmissão das bactérias causadoras do HLB. A foto mostra a presença do psilídeo (adultos e ninfas), na planta

  • Metodologia inédita em sanidade vegetal monitora a entrada da pior doença da citricultura mundial, o HLB, também chamado de greening, na Bahia.

  • O estado é o quarto maior produtor de citros do Brasil e a introdução da doença pode causar sérios prejuízos socioeconômicos.

  • Denominada "rota sentinela", tem como objetivo fazer a detecção precoce do psilídeo, que é o principal vetor de transmissão das bactérias causadoras do HLB.

  • Elas foram instaladas em mais de 50 municípios baianos e são monitoradas em parceria entre a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Embrapa e Mapa.

  • A inovação faz parte de um dos projetos de PD&I do Portfólio Sanidade Vegetal e usa drones para levantamento da paisagem citrícola.

  • A detecção das bactérias é feita na Embrapa por testes de PCR em tempo real.

  • Apesar da identificação de psilídeos contaminados nos cultivos de citros da Bahia, ainda não é possível afirmar que a praga foi introduzida no estado.

Uma metodologia nunca usada na área vegetal no Brasil tem sido a principal estratégia da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) para manter o estado livre do huanglongbing (HLB), também conhecido por greening, ou amarelão dos frutos, a mais destrutiva doença da citricultura em todo o mundo e ainda sem controle definitivo. Trata-se da rota sentinela, cujo objetivo é a detecção precoce das bactérias causadoras do HLB, Candidatus Liberibacter (Ca.L.), em ninfas e adultos do inseto psilídeo Diaphorina citri, principal vetor de transmissão desses microrganismos.

A Bahia é o quarto maior produtor de citros do Brasil e a entrada da doença poderia causar grande impacto à economia do estado.  A metodologia faz parte do projeto HLB BioMath 3, liderado pelo pesquisador Francisco Laranjeira, chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), e integra o portfólio Sanidade Vegetal da Embrapa, com acompanhamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Laranjeira explica que a técnica de rota sentinela é muito utilizada em estudos ecológicos e consiste na determinação de uma linha reta que atravessa uma determinada região para execução de amostragens. No caso da Bahia, as rotas utilizadas foram definidas pela Adab (veja mais detalhes em quadro abaixo).

Para a coordenadora-geral de Proteção de Plantas do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas (DSV) do Mapa, Graciane Castro, “trata-se de uma estratégia extremamente inovadora e promissora para se somar às demais ações de prevenção à disseminação da praga no País. O Mapa encontra-se em tratativas com a Embrapa Mandioca e Fruticultura para estabelecer parceria no sentido de validar e ampliar esse tipo de estratégia em âmbito nacional”, afirma.

O DSV é responsável pela regulamentação sobre as medidas oficiais de prevenção e controle e estabelece as metas anuais relativas aos levantamentos fitossanitários de detecção e delimitação da praga e as ações de controle que devem ser aplicadas nas áreas onde ela se encontra. Atualmente, considerando a importância da citricultura para os estados, as ações de controle do HLB são realizadas em 13 deles pelas agências estaduais de Defesa Agropecuária, em articulação com as Superintendências Federais de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SFA) do Mapa em cada estado.

Rotas sentinelas envolvem mais de 50 municípios na Bahia

Detectado no Brasil em 2004, o HLB está oficialmente confirmado nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná — os três maiores produtores de citros do País —, e já teve detecção de um caso isolado no Mato Grosso do Sul, causando inúmeros problemas para os citricultores. Por enquanto, as técnicas mais utilizadas para combater a doença são o plantio de mudas sadias certificadas, a eliminação das plantas infectadas — que tem um alto custo para o produtor — e o controle do vetor. Na Bahia, a citricultura é uma atividade econômica de grande importância social e a entrada do HLB pode causar grandes prejuízos.

Como parte do projeto HLB BioMath, desde 2011, foram criadas pela Adab quatro rotas sentinelas positivas e três negativas que são percorridas trimestralmente por uma equipe de oito pessoas, entre engenheiros-agrônomos, fiscais agropecuários, técnicos e auxiliar de fiscalização. As rotas positivas têm maior probabilidade (alto risco) de encontrar insetos infectivos por estarem nas maiores regiões produtoras de citros e de possível trânsito de mudas clandestinas ou seja, sem Certificado Fitossanitário de Origem (CFO) ou que tenham sido produzidas em estados com ocorrência de HLB. Estão localizadas no Oeste, Chapada Diamantina, Recôncavo Baiano e Litoral Norte e abrangem 44 municípios. Já as negativas (baixo risco) estão na Linha Verde, no Litoral Sul e na Estrada do Feijão, totalizando oito municípios. Essas regiões não têm pomares citrícolas comerciais, mas têm diversos empreendimentos imobiliários e hoteleiros, além de muitos hortos, que comercializam a planta ornamental murta (Murraya paniculata), muito cultivada em jardins e praças públicas (foto acima), e hospedeira alternativa do HLB.

“Ao montar um plano de contingência para controlar doenças, é preciso pensar em três coisas: a detecção precoce dos vetores infectivos e de plantas doentes ou com sintomas e, depois, um plano para manejar o problema numa dada região. Por enquanto, ainda estamos na fase de pesquisa, mas é uma pesquisa que, ao mesmo tempo, é vigilância. Os resultados é que vão dizer como vamos considerar no fim”, salienta Laranjeira.

A fiscal estadual agropecuária Suely Xavier de Brito Silva (foto à direita), coordenadora do Projeto Fitossanitário de Citros da Adab e do trabalho das rotas sentinelas, afirma que a parceria com a Embrapa Mandioca e Fruticultura tem sido fundamental para o sucesso da empreitada: “É um trabalho de defesa, mas organizado e planejado pela pesquisa. Somos executores e, ao mesmo tempo, clientes dos resultados das pesquisas em curso. Quanto mais cedo se detectar a presença da bactéria, mais rapidamente ações poderão ser adotadas e os prejuízos, minimizados. Enquanto agência de defesa que se preocupa com a vigilância dos pomares e com o trânsito de materiais propagativos, estabelecemos as medidas preventivas necessárias e, futuramente, de contenção para quando a praga chegar a nosso território, sempre em parceria com a Embrapa”.

Além da captura trimestral do inseto-vetor nas rotas sentinelas — três vezes e meia mais abundante nas rotas positivas do que nas negativas — a Adab pretende implantar e monitorar duas ou três Áreas Regionais de Manejo (Armas) no Recôncavo, Chapada Diamantina e Litoral Norte para registrar a flutuação populacional do vetor e alimentar um Sistema de Alerta Fitossanitário, similar ao que o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), sediado em Araraquara (SP),  já utiliza no cinturão citrícola paulista.      

A equipe está usando um drone para os aerolevantamentos e a caracterização da paisagem citrícola. “Pretendemos estabelecer uma rotina quinzenal de monitoramento e popularizar a necessidade de adoção de práticas de manejo, em escala regional. Porém, antes, se fez necessária a validação de alguns dos 41 pontos georreferenciados por área, os quais foram selecionados com a utilização de mapas do Google Earth”, explica Suely.

Produção científica

Parte da rotina das rotas sentinelas foi registrada pelo engenheiro-agrônomo da Adab Antonio Lopes, em sua tese do Curso de Mestrado Profissional em Defesa Agropecuária, uma parceria da Embrapa e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), defendida em 2015.

O assunto também foi destaque na revista internacional Neotropical Entomology, sob forma do artigo “First Report of HLB Causal Agent in Psyllid in State of Bahia, Brazil”, que se transformou num e-book publicado pela UFRB em 2021.

Avaliação de amostras

Sob a supervisão do pesquisador Eduardo Chumbinho de Andrade, os insetos capturados pela Adab nas rotas sentinelas são avaliados no Laboratório de Virologia da Embrapa Mandioca e Fruticultura, via PCR em tempo real (qPCR), para verificar a presença da bactéria nos psilídeos, além da qualidade, integridade e concentração do DNA do material. O protocolo é o mesmo utilizado pelo Fundecitrus e padronizado pelo Mapa.

A técnica de detecção utilizada é extremamente sensível. “Mesmo que a quantidade de bactéria encontrada no inseto seja baixa, o teste de qPCR vai detectá-la”, afirma Andrade.

Desde o início do trabalho, quase 10 mil amostras coletadas já foram processadas. Em 2013, três amostras do inseto coletadas em Seabra, na Chapada Diamantina, foram positivas para a bactéria, sendo duas em murta e uma em laranjeira. “Depois disso, acionamos a Adab, que realizou nova amostragem num raio de quatro quilômetros ao redor das três plantas e erradicou as que continham os insetos. Fizemos novas análises, mas nada foi encontrado. Apesar da detecção da bactéria no psilídeo, sob o prisma da Legislação Federal em sua Instrução Normativa 53/2008, ainda não se pode considerar que a praga esteja presente no estado da Bahia. É um trabalho incansável, mas muito importante para a citricultura baiana”, ressalta.

Atualização da legislação

Na Bahia, a Portaria Estadual 243, de 13 de agosto de 2011, estabelece a obrigatoriedade de se produzir mudas cítricas em viveiro telado, protegido, mas o uso dessa proteção ainda não é uma realidade no estado. “As telas são feitas com uma malha bem pequena que evita a entrada de cigarrinhas, de pulgões e do próprio psilídeo que transmite a bactéria do HLB. O telado é uma excelente estratégia para proteger a produção de mudas de várias doenças e nós, da Adab, investimos em ações de conscientização para que os citricultores passem a usar mudas cultivadas em ambientes telados”, afirma Suely.

No Brasil, a Portaria Federal 32, de 29/01/2020, teve como objetivo submeter à consulta pública uma proposta de Instrução Normativa relativa à revisão do então programa oficial de combate à praga, criado em 2003 e já defasado. As sugestões encaminhadas à consulta pública foram consolidadas pelo Mapa na Portaria nº 317, de 21 de maio de 2021, que institui o Programa Nacional de Prevenção e Controle à doença denominada Huanglongbing (HLB) – PNCHLB e visa ao fortalecimento do sistema de produção agrícola de hospedeiros da praga, conforme lista oficial de Pragas Quarentenárias Presentes, estabelecendo os critérios e procedimentos para a prevenção e a contenção de Candidatus Liberibacter spp. 

 

Léa Cunha (MTb 1.633/BA)
Embrapa Mandioca e Fruticultura

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