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Maracujá: casos de sucesso no DF são apresentados em visita técnica
Foto: Breno Lobato
Extensionistas rurais conheceram casos de sucesso em sistemas de produção de maracujá a céu aberto (foto) e em estufa
As vantagens da produção de maracujá em estufa e o plantio da fruteira a céu aberto em sucessão a hortaliças foram destacados na visita técnica realizada por pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF) e extensionistas rurais da Emater-DF a duas propriedades na região administrativa de Planaltina, no Distrito Federal, no dia 30 de junho.
A visita técnica complementou a palestra “Maracujá: cultivares, sistemas de produção e mercado”, do pesquisador Fábio Faleiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, que integra a Capacitação em Fruticultura Tropical, promovida pela Embrapa em parceria com a Emater-DF e a Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do DF (MAPA). Em virtude da pandemia do novo coronavírus, o evento não foi aberto ao público, mas os registros em vídeo serão disponibilizados na página da Embrapa Cerrados e nos canais da Rota da Fruticultura RIDE-DF e da Emater-DF no YouTube.
Coordenador de fruticultura da Emater-DF, Felipe Cardoso lembrou que o Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de maracujá, e que o Distrito Federal, apesar de não ser um grande produtor, se destaca pela alta produtividade dos pomares. “A média nacional de produtividade é de 14 ton/ha, e no DF é de mais de 30 ton/ha devido ao uso de tecnologias, como o uso de cultivares superiores e de outras tecnologias no sistema de produção”, afirmou, destacando a proximidade com a Embrapa Cerrados, que desenvolve cultivares de maracujá azedo, doce, silvestre e ornamental, além de recomendações técnicas para otimizar os sistemas de produção.
Plantio em estufa
Outros fatores associados à elevada produtividade, segundo o extensionista, são o uso da polinização manual, bastante difundida entre os agricultores, de irrigação localizada e do plantio em estufa, sobretudo por produtores de hortaliças que aproveitam a estrutura existente e a adubação do solo para o plantio do maracujá em rotação. “No plantio no campo, temos uma colheita média de um saco (12 kg) por planta. Na estufa, temos a possibilidade de colher três sacos (36 kg) por planta e ter uma produtividade de 100 ton/ha”, comparou, apontando o maracujá como alternativa de rotação de culturas e diversificação de renda.
O custo de implantação de uma estufa (350 m2), segundo Cardoso, está avaliado em cerca de R$ 10 mil a R$ 14 mil. “Quem não tem estufa, terá que fazer o investimento”, observou. Por outro lado, o produtor que já utiliza a estufa na produção de hortaliças terá redução de custo com o aproveitamento da adubação e das estruturas de condução e de irrigação, além de promover a quebra de ciclo de pragas e doenças com a rotação de culturas. “O ambiente controlado da estufa favorece a sanidade das plantas, diminuindo o custo com agrotóxicos”, completou.
Os visitantes conheceram, no Núcleo Rural do Pipiripau, a produção de maracujá azedo BRS Gigante Amarelo em estufa na chácara dGeraldo Magela Gontijo, produtor e extensionista da Emater-DF, pioneiro na adoção do sistema. São quatro estufas produzindo maracujá ocupando uma área de 1.400 m². Ele utiliza as estufas para o plantio de pimentão, plantando as mudas do maracujá em rotação.
Gontijo começou a produzir maracujá na chácara em 2009. “Já tínhamos a estrutura e era uma oportunidade de fazer a rotação de culturas, principalmente com o pimentão”, disse, explicando que na região essa hortaliça costuma ser plantado em sucessão a outro ciclo de pimentão, o que leva à redução da produtividade. “Quando fazemos a rotação do maracujá com o pimentão, mantendo o maracujazeiro por pouco mais de dois anos e depois incorporando os restos culturais (ao solo), ao retornar com o pimentão, conseguimos dobrar a produtividade”, disse o produtor e extensionista.
Ele lembra que o maracujá em estufa compete com as hortaliças em lucratividade. “Só que, ao analisarmos a rentabilidade, a do maracujá é igual ou maior que qualquer outra hortaliça na estufa”, explicou. Pelos cálculos de Gontijo, uma estufa com 100 plantas pode produzir 300 sacos/ano, gerando receita de R$ 6 mil a R$ 7 mil, com lucro de R$ 4 mil a R$ 5 mil. O desempenho econômico é semelhante ao obtido com tomate e pimentão, hortaliças com as maiores lucratividades em estufa.
Para Gontijo, para quem não tem estufa também vale a pena investir na estrutura. “Às vezes me perguntam se vale a pena construir estufa para produzir maracujá. No começo, ficava com o ‘pé atrás’, mas depois que fiz a análise comparativa com o tomate e o pimentão, respondo que, se vale a pena fazer estufa para essas hortaliças, também vale para o maracujá, pois o resultado será o mesmo ou até melhor”.
Outro ponto destacado é a qualidade superior dos frutos produzidos em estufa. “O fruto não recebe a luz direta do sol. O plástico da estufa propicia a filtragem dos raios ultravioleta. Com isso, não há queima dos frutos e das folhas. O fruto tem casca mais lisa e brilhante, e a vida pós-colheita e qualidade dos frutos também são bastante superiores. Você consegue colocar praticamente 100% dos frutos colhidos no mercado in natura, que é mais exigente em qualidade”, disse.
Para os produtores que têm baixa capacidade de investimento, Gontijo recomenda que o plantio seja iniciado com poucas plantas em uma pequena área. “Como a rentabilidade é muito interessante, o pequeno produtor que tem pouco recurso para investir pode começar com 200 a 500 plantas e ir aumentando. Há casos de produtores que começaram com 400 plantas e chegaram a 21 mil. Começando pequeno, mas corretamente, há possibilidade de crescer e de ter uma renda garantida com a cultura”, explica.
A produção do maracujá em estufa também ocorre em outros estados, como Minas Gerais e São Paulo. “Mas essa tecnologia nasceu aqui no DF. É hoje uma referência mundial, com altíssimas produtividades. É produzido um maracujá livre vírus e outras doenças e pragas. Com melhor controle da irrigação, adubação e polinização manual, praticamente toda flor vai produzir fruto”, comentou Fábio Faleiro.
Cultivo a céu aberto
Na propriedade de Gilberto Ribeiro dos Santos, no assentamento Oziel Alves III, o cultivo do maracujazeiro azedo é feito em espaldeira (mais comum no DF) a céu aberto em sucessão a hortaliças, aproveitando a adubação, as estacas e o arame utilizados na condução da cultura anterior. Dessa forma, o custo inicial de implantação do pomar se restringe ao da aquisição das mudas.
À medida em que as hortaliças como pimentão e pimenta são plantadas, o produtor introduz as mudas de maracujazeiro. Quando as hortaliças são colhidas, as mudas já apresentam altura suficiente para o amarrio no arame. “Planto o pimentão e quando ele chega a mais ou menos a 1 m de altura, coloco a muda do maracujá. Quando colho o pimentão, o maracujá já está encortinado. Agora, estou colhendo o maracujá só com uma adubação e aproveitando o arame usado com o pimentão”, explicou o produtor, que também já testou consórcios da fruteira com maxixe, tomate e repolho.
A produção semanal de maracujá na propriedade é de 150 a 200 sacos de 12 kg. Na área de 1,2 ha com 1700 plantas em cultivo adensado, a produtividade obtida varia de 35 ton/ha/ano a 40 ton/ha/ano, desempenho, segundo Felipe Cardoso, alcançado devido ao uso de tecnologias. Santos instalou espaldeiras no sentido Leste-Oeste, seguindo a recomendação técnica para minimizar a queima dos frutos pela exposição ao sol, além de realizar a polinização manual e cruzada das flores.
Natural de Cabeceiras (GO) e produtor de maracujá desde 2002, quando começou a trabalhar como meeiro em uma chácara no Núcleo Rural Pipiripau, Santos adquiriu a propriedade em 2013. “Quando cheguei aqui, só tinha a terra e meu dinheiro havia acabado”, lembrou. Mas, ajudado pelo ex-chefe, adquiriu produtos numa cooperativa e começou a produzir. Em dois anos, se tornou associado da cooperativa e conseguiu crédito.
“Começamos no enxadão. Fui plantando um pedacinho, juntando dinheiro e aumentando (a área de plantio). Hoje, a chácara, que tem 7,5 ha, está toda plantada e encanada (com sistema de irrigação)”, disse.
A renda com o maracujá contribuiu para que ele financiasse a compra de um caminhão pelo Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR) – as prestações estão em dia e serão quitadas em três meses. O caminhão é utilizado no transporte da produção – abóbora, tomate, maracujá, pimentão – até a Ceasa-DF, onde Santos a comercializa há seis anos.
Para o produtor, o maracujá é o melhor negócio que encontrou. “Você investe uma vez e depois é só ir adubando. O gasto é menor. Se cuidar direitinho, a planta fica por dois anos e meio. E se não consigo vender os frutos, ainda posso fazer a polpa e vendê-la”.
“A prosperidade na agricultura depende da vocação, e o Gilberto trabalha com amor. Sem o suor do trabalho no dia a dia, não tem como prosperar. A história dele é muito bonita e um verdadeiro caso de sucesso com a produção do maracujá”, comentou Fábio Faleiro.
Mais detalhes sobre os dois casos de sucesso apresentados na visita técnica podem ser encontrados no capítulo 6 do livro Maracujá: prospecção de demandas para pesquisa, extensão rural e políticas públicas baseada na adoção e no impacto de tecnologias, que pode ser baixado gratuitamente.
E para mais esclarecimentos sobre os sistemas de produção do maracujá em estufa e a céu aberto, baixe também de forma gratuita o livro Maracujá: 500 perguntas e 500 respostas.
Capacitação
A Capacitação em Fruticultura Tropical será realizada até fevereiro de 2022, com um total de 17 palestras e 17 visitas técnicas em propriedades com experiências de sucesso. Além do maracujá, serão abordadas as culturas de banana, manga, abacate, graviola, frutas nativas do Cerrado, mamão, citros, pitaya, abacaxi, goiaba, uva de mesa, uva para vinho e suco, frutas vermelhas, frutas temperadas em ambientes tropicais, mercado de frutas frescas e agroindústria e cultivo orgânico de frutas. Assista a todas as palestras aqui.
O evento conta com o apoio da Rota da Fruticultura da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), uma das Rotas de Integração Nacional, lançada em junho pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) com o objetivo de profissionalizar a cadeia produtiva da fruticultura, integrando os subsistemas de insumos, produção, extrativismo, processamento e comercialização por meio da criação de sistemas agroflorestais, agroindustriais e de serviços especializados.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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