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12/08/21 |   Agroecologia e produção orgânica

Estudo mostra vantagens e benefícios da agricultura multifuncional no rural brasileiro

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Foto: Patrick Assumpção

Patrick Assumpção - Produto desenvolvido a partir da castanha do Guanandi.

Produto desenvolvido a partir da castanha do Guanandi.

Pesquisa confirma os benefícios ambientais de SAFs 

Um estudo, de cientistas da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), Embrapa Meio Ambiente e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresentou uma análise de sustentabilidade de uma centenária fazenda do Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba, SP, e concluiu que a integração agroecológica do componente arbóreo e agrícola na propriedade rural favorece todas as dimensões da sustentabilidade social, ambiental e econômica. O estudo caracterizou as vantagens e os benefícios da agricultura multifuncional, servindo de ferramenta para o balizamento de políticas públicas focadas na valoração dos serviços ecossistêmicos.

A análise de desempenho ambiental de atividade rural com o sistema de indicadores APOIA-NovoRural, desenvolvido pela Embrapa, revelou um alto índice integrado de sustentabilidade para a Fazenda Coruputuba, situado entre os mais elevados índices de desempenho em estudos de caso com a mesma metodologia. Os melhores resultados para os indicadores de Ecologia da Paisagem e de Valores Econômicos indicam substancial união entre aspectos ambientais e econômicos promovidos com a diversificação arbórea e agroflorestal.

Com o sistema Ambitec-Agro verificou-se um impacto ambiental positivo das pesquisas em função da melhoria da qualidade do solo, redução do uso de insumos externos e de energia, aumento da diversidade de fontes de renda e o incremento da entrada de capital com os SAFs e a diversificação arbórea.

Conforme Antonio Carlos Devide, da Apta, a pesquisa estabeleceu as bases para a gestão ambiental da conversão agroflorestal em propriedade rural, o que torna a Fazenda Coruputuba referência para a produção agroecológica de madeira nativa nas terras baixas do Vale do Paraíba do Sul, uma vez que ficou entre os cinco porcento mais elevados índices de desempenho ambiental observados em um universo de 178 estudos de caso realizados com a mesma abordagem metodológica.

A análise do desempenho ambiental foi feita com o sistema APOIA-NovoRural, abrangendo 62 indicadores em cinco dimensões: Ecologia da paisagem, Qualidade ambiental, Valores socioculturais, Valores econômicos e Gestão e administração. Com o sistema Ambitec-Agro determinou-se o impacto das pesquisas na gestão da fazenda.

De acordo com Geraldo Stachetti Rodrigues, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, “o estabelecimento mostrou elevado desempenho ambiental em todos os índices: Qualidade da água; Valores econômicos; Valores socioculturais e Ecologia da paisagem com oportunidade de avanços na Gestão e administração e na Qualidade do solo, conferindo um elevado índice integrado de sustentabilidade”.

“Práticas agroflorestais melhoram a qualidade dos solos, aumentam a diversidade de fontes de renda e os métodos de pesquisa participativa melhoram o relacionamento entre todos os elos envolvidos”, enfatiza Rodrigues.

Fazenda Coruputuba

Situada em Pindamonhangaba, SP, na região metropolitana paulista do Vale do Paraíba, a Fazenda Coruputuba completou 100 anos em 2011, ano eleito pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional das Florestas. Essa unidade inovou em ciência e tecnologia florestal desde que se tornou pioneira na produção de papel craft com a casca e a palha que são resíduos da cultura do arroz, na década de 1945, e foi uma das unidades de produção que introduziu a cultura do eucalipto no ano de 1965 nessa região.

Atualmente, novas oportunidades estão sendo avaliadas com a diversificação arbórea e a conversão agroflorestal em áreas cultivadas com espécies nativas e exóticas. Nelas, destaca-se o Guanandi, cultivado em cerca de 10 hectares, substituindo a cultura do arroz em várzea; e em quatro hectares de terraço fluvial que margeiam a várzea, em rotação com pastagem e eucalipto, bem como a Acácia, árvore multiuso, produz madeira para movelaria, indústria e energia, celulose, resinas e taninos, cultivada em cerca de 90 hectares nos terraços em rotação com pastagem e eucalipto.

O interesse pela conservação da biodiversidade e dos recursos naturais demandou um modelo de gestão compartilhado em que a pesquisa participativa auxiliou na gestão do empreendimento para recuperar a fitofisionomia de maneira que a exploração em áreas restauradas se tornasse mais sustentável ao longo do tempo, além de favorecer a geração de postos de trabalho e renda. A viabilidade econômica da diversificação agroflorestal e da restauração das matas ciliares nos terraços e dos solos na várzea está sendo obtida por meio do resgate de culturas tradicionais, tais como a mandioca de mesa, o feijão guandu, a araruta, o taro e a palmeira juçara.

Com a diversificação da produção arbórea e a consolidação dos SAFs em conformidade com a legislação, são previstos benefícios para a regeneração e a proteção de habitats naturais, além de conferir variação na composição da renda: silvicultura, cultivos agrícolas, floricultura e apicultura em parceria, contribuíram para a melhoria no indicador de Diversidade produtiva.

Novas práticas de manejo adotadas nos SAFs como associação de espécies, adubação verde, o cultivo mínimo, a fixação biológica do nitrogênio (FBN) através da inoculação de mudas de acácia com estirpes de bactérias selecionadas na Embrapa Agrobiologia (RJ), o biocontrole do ‘moleque-da-bananeira’ com o fungo Beauveria bassiana, resultaram em redução na dependência por insumos externos e no combate à contaminação ambiental, principalmente, por suprimir o uso de adubos sintéticos nitrogenados, herbicidas e inseticidas.

A adubação verde e as culturas em consórcio com o guanandi incrementam o aporte de matéria orgânica rica em nitrogênio e intensificam a reciclagem de nutrientes no SAF. A acácia, devido ao rápido crescimento nos terraços, também aporta abundante quantidade de serapilheira, reduzindo a lixiviação de nutrientes e a necessidade de capinas por meio do recobrimento. O manejo agroecológico da vegetação espontânea, o consórcio de culturas anuais, adubação verde e o SAF, assumem papel importante na conservação do solo nas áreas de cultivo de guanandi, interceptando as águas e forçando a recarga no perfil de várzea.

Sistemas Agroflorestais - SAFs

Além da diversidade arbórea, os SAFs são sistemas cada vez mais populares que permitem melhor uso das terras. Ainda fornecem serviços ecossistêmicos, criam um microclima favorável à vida, protegem o solo da insolação, preservam a matéria orgânica da degradação e elevam os teores de carbono em profundidade nos solos. Isto é essencial para restaurar os aspectos edáficos degradados em ciclos pretéritos no Vale do Paraíba. A conversão agroecológica e o redesenho dos sistemas de produção com SAF exige a superação dos pontos críticos, especialmente no que concerne à fertilidade dos solos. O manejo do componente arbóreo e arbustivo na abordagem agroflorestal deve auxiliar na evolução da transição agroecológica.

Com a diversidade de produtos e serviços que os SAFs proporcionam e o caráter de agricultura multifuncional  – modalidade que desempenha um papel importante para o desenvolvimento rural ao incluir os aspectos social, ambiental e cultural, esse estudo contribui para uma nova lógica de produção, não mais balizada apenas no capital, mas que engloba as externalidades positivas na agricultura multifuncional. Ou seja, valoriza os serviços ecossistêmicos produzidos na unidade de produção. Essa questão é polêmica, pois a sociedade que necessita desses serviços não remunera o produtor rural. Isto deve mudar com o aumento da viabilidade econômica, que deve atrair adeptos para agricultura multifuncional pressionando o desenvolvimento de novas políticas públicas para esse setor.

Na agricultura multifuncional, além da produção agrícola, também, deve-se valorizar a biodiversidade, o patrimônio histórico, a água, a paisagem natural, a mitigação das mudanças do clima com arranjos de produção que aumentem a retenção de carbono, por exemplo, ampliando as áreas com árvores e florestas permanentes, incrementando a quantidade de biomassa produzida e de poluentes absorvidos ou filtrados pela vegetação; bem como proporcionar o lazer e a recreação, ampliando o número de visitantes, beneficiando a saúde com efeito positivo sobre o bem-estar psíquico e físico da população. Em relação aos custos de tais benefícios, novas políticas públicas deverão garantir a divisão do ônus por toda sociedade, para que amplie a geração de renda e o retorno dos investimentos do produtor rural.

Instituto Coruputuba

O Instituto Coruputuba foi criado com a missão de preservação e conservação do patrimônio histórico, cultural e ambiental com foco na região do Vale do Paraíba. “Atuamos na restauração florestal com fins econômicos de áreas degradadas da região, apresentando soluções que possam ampliar as opções do produtor rural para além das que ele já executa, com espécies de alto valor agregado buscando nas espécies nativas esse potencial”, explica Patrick Assumpção, coordenador do Instituto e da Fazenda Coruputuba.

“A prática agroflorestal é uma das soluções para a soberania alimentar, para a conservação da agrobiodiversidade e dos recursos naturais – temos variedades de feijão, milho, mandioca, frutíferas nativas, ente muitos outros. Aumentar o mercado para os pequenos produtores com agrofloestas contribui para aumentar o ritmo da reflorestação”, o semeador de mercados da agrofloresta, como é conhecido.

De acordo com ele, o instituto está na fase de iniciar os desbastes do guanandi e acácia mangium. Foi montada uma pequena serraria e marcenaria para desdobrar as madeiras e aproveitar potenciais para movelaria, com boas parcerias de designers e arquitetos do IED (Instituto Europeu de Design), SP e outros.

“Estamos montando programas de restauração florestal com fins econômicos, introduzindo plantas de alto valor nutricional, com participação da Embrapa, com materiais genéticos de batata-doce BRS Beuregard e Rubisol”, diz Assumpção. Para ele, "novos SAFs têm sido criados, fomentando frutas da Mata Atlântica e a busca eterna de mercados no esforço de valorizar nossa biodiversidade nutricional, praticamente ignorada pela indústria e consumidores".

O Instituto tem parceiros como a The Nature Conservancy, o Instituto Socioambiental, a Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba, além de produtores. Outra ação importante foi a formação de uma cadeia de coletores de sementes. "Assim, passa-se a gerar emprego e renda a partir da floresta que está em pé, com a valorização desta floresta. A restauração ambiental traz benefícios ambientais para o produtor e para todos nós, com retorno financeiro", diz ele.

Conforme Assumpção, a parceria com essas importantes instituições contribui com essa nova cadeia de desenvolvimento ambiental do Vale do Paraíba. "Tem espaço para todos, com pasto melhor, áreas com florestas, áreas com cultivos, melhorando tudo na propriedade, não só aumentar a produção, com água melhor, clima melhor, solo melhor, mais polinizadores, e toda uma série de mudanças na propriedade". E traz até uma regeneração humana, acreditam os parceiros.

Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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