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Dia de Campo apresenta resultados da primeira década de Integração Lavoura-Pecuária no Oeste paulista
Foto: Daniel Smith/DSVox
Evento reuniu 250 pessoas na Fazenda Santa Gina, em Presidente Epitácio (SP)
No último dia 10 de fevereiro, 250 pessoas, a maioria produtores rurais e técnicos de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, participaram do Dia de Campo sobre os 10 anos de adoção da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) no Oeste de São Paulo, realizado na Fazenda Santa Gina, em Presidente Epitácio (SP). Pertencente ao produtor rural Carlos Viacava, a propriedade adota a ILP desde 2015, e tem obtido resultados positivos tanto para a atividade agrícola como para a pecuária no sistema integrado. Também foram apresentados os resultados obtidos com adoção da ILP, desde 2012, na Fazenda Campina, em Caiuá (SP), do mesmo proprietário.
O evento foi promovido pela Embrapa Cerrados, Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP), Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), Cocamar Cooperativa Agroindustrial de Maringá, Sementes Oeste Paulista (Soesp) e a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), com apoio da Associação Rede ILPF. A programação contou com apresentações de diferentes temas ligados à ILP em cinco estações técnicas.
Na abertura, foram homenageadas três personalidades importantes na difusão da ILP no Oeste paulista. O primeiro foi pesquisador aposentado da Embrapa Cerrados João Kluthcouski (“João K”), que recebeu duas homenagens, uma oferecida por Carlos Viacava e outra conferida pela Associação Rede ILPF, por ter iniciado as atividades de transferência de tecnologia na região em 2012. Como resultado, houve uma grande expansão da agricultura em pastagens degradadas em solos predominantemente arenosos.
O segundo homenageado foi Carlos Viacava, pelo pioneirismo na adoção de ILP na região e pela dedicação à divulgação dos resultados obtidos em suas propriedades rurais. Também foi homenageado o produtor rural e presidente do Conselho de Administração da Cocamar, Luiz Lourenço.
Sistema de ILP proporcionou aumento da produtividade e dos rendimentos da pecuária
A primeira estação técnica abordou o tema “Produtividade Agropecuária e Indicadores Econômicos após 10 anos de adoção da ILP nas Fazendas Campina e Santa Gina”, apresentado pelos pesquisadores Luiz Adriano Cordeiro e Júlio César do Reis, da Embrapa Cerrados. Cordeiro mostrou a evolução da produtividade agrícola e da produção animal na Fazenda Campina, em Caiuá (SP). Desde 2012, o centro de pesquisa e outras instituições estabeleceram uma parceria com a fazenda para a implantação de sistemas de ILP em áreas estabelecidas com pastagens.
A Fazenda Campina passou a adotar um arranjo de ILP com dois anos de agricultura seguidos de dois ou três anos de pecuária. No primeiro ano, a soja era cultivada na safra e o milho ou sorgo para silagem eram plantados na safrinha, consorciados com Brachiaria ruziziensis para pastejo na seca. No segundo ano, repetia-se o cultivo da soja na safra e do milho para silagem na safrinha consorciado com forrageiras do gênero Brachiaria ou Panicum, que permaneciam nos dois anos subsequentes em pastejo. A partir da safra 2018/2019, a produção de silagem passou a ser realizada somente na safra devido aos riscos climáticos da safrinha. Já as áreas estabelecidas com forrageiras após agricultura passaram a permanecer em pastejo por três anos ou mais, dependendo das necessidades da fazenda.
“Após 10 anos de adoção da ILP na Fazenda Campina, foi possível observar o aumento da produtividade de soja e de milho para silagem, naturalmente em função do clima em cada safra. Porém, os ganhos na pecuária foram crescentes ao longo do tempo, com maior produtividade animal por área e aumento da taxa de desfrute. Outro importante efeito é o prolongamento da produtividade de pastos, mesmo durante a estação seca”, afirmou Cordeiro.
O pesquisador Júlio César do Reis apresentou indicadores econômicos derivados da adoção da ILP, tanto na Fazenda Campina como na Fazenda Santa Gina. Os resultados agregados das duas propriedades apontam que a produtividade média inicial da pecuária, que era de 2,4@/ha, cresceu 16,8% ao ano, alcançando a marca de 11,30@/ha na safra 2021/22, valor 85% superior ao da produtividade média para o estado de São Paulo. Ao longo dos 10 anos de ILP, o retorno para a duas propriedades cresceu acima da média a uma taxa de 13,4% ao ano.
“Fica evidente como a lavoura tem beneficiado sobremaneira a pecuária, indicando que o objetivo principal da adoção da ILP tem sido alcançado. O resultado agregado mostra uma margem bruta de R$1.945,63/ha, com um faturamento cerca de 30% maior que os valores de custeio para o sistema lavoura-pecuária”, ressalta o pesquisador.
ILP favorece produção de carne de baixo carbono e a precocidade dos animais
Na segunda estação, foi apresentado o tema “Qualidade do solo e pastagens após adoção da ILP e Certificação Carne Baixo Carbono”. Os benefícios da adoção da ILP para a qualidade do solo e as pastagens foram destacados pelos pesquisadores José Ricardo Pezzopane e Alberto Bernardi, ambos da Embrapa Pecuária Sudeste, enquanto os princípios da certificação Carne Baixo Carbono (CBC) foram explicitados pelo pesquisador Roberto Giolo da Embrapa Gado de Corte.
Giolo explicou que a certificação CBC visa à produção de carne com baixa emissão de carbono certificada, e inclui procedimentos fundamentais para a contabilização de carbono no solo, a recuperação e o manejo sustentável das pastagens, os sistemas de ILP e a emissão de metano pelos animais, além de disposições gerais sobre aspectos relacionados à redução das emissões de gases de efeito estufa na área produtiva. “Com isso, será possível uma agregação de valor ao produto cárneo produzido nessas áreas”, afirmou.
O produtor rural Ricardo Viacava abordou o tema “Precocidade sexual de novilhas após adoção da ILP” na terceira estação. Ele observou que, com a melhora das forrageiras, especialmente as pastagens de inverno após a soja, milho e sorgo, consorciadas ou não com milheto e leguminosas (guandu e caupi), houve grande evolução no desempenho dos animais, principalmente na fase de cria e recria. Na fase pré-desmama, o melhor ambiente proporcionou animais desmamados mais pesados que no período anterior à adoção do sistema. As bezerras tiveram 10,1% de aumento no peso, enquanto os machos ganharam 12,5%.
“A mudança de manejo nos possibilitou adotar o desafio superprecoce em 100% das bezerras, que passaram a entrar em estação de monta na idade entre 10 e 14 meses. Já no primeiro ano, obtivemos uma taxa de prenhez nas bezerras desafio de 53,34% e esse número evoluiu até próximo de 70% na safra 2021/2022. Isso possibilitou que a reposição de fêmeas hoje seja feita somente com matrizes superprecoces, o que além de trazer um ganho genético pelo menor intervalo entre gerações, melhorou muito o desfrute da fazenda”, comentou.
Possibilidades para recuperação de pastagem e introdução da irrigação por pivô central
Na quarta estação, o professor Edemar Moro, da Unoeste, e a zootecnista Marina Aparecida Lima, da Soesp, apresentaram o tema “Consórcio de sorgo para silagem com braquiária”. O consórcio de sorgo para silagem com forrageiras tropicais, chamado Sistema Santa Ana de ILP, é uma estratégia cada vez mais adotada em fazendas de pecuária e em sistemas de ILP. Esse consórcio com culturas anuais (como milho, sorgo, milheto, girassol) e espécies forrageiras visa à colheita da cultura anual para confecção de silagem e, após a colheita, a recuperação da pastagem. “Portanto, o objetivo é produzir silagem e recuperar pastagens simultaneamente, com baixo custo, utilizando os maquinários já existentes na propriedade rural de pecuária”, explicou Moro.
As principais vantagens do Sistema Santa Ana são inúmeras: melhoria da fertilidade do solo, ganhos em produtividade e maior oferta de volumosos para serem utilizados na época seca, boa produção de palhada para plantio subsequente, menor custo, maior adaptação a solos de baixa e média fertilidade e maior tolerância a pragas, doenças e veranicos.
Por fim, na quinta estação, os aspectos da “Cultura da soja em palhada de braquiária sob irrigação via pivô central” foram apresentados pelo zootecnista Juliano Roberto da Silva e pelos técnicos Emerson Nunes e Renato Watanabe, da Cocamar. Para a adoção do sistema de ILP em regiões com déficit climático acentuado, um dos principais desafios para minimizar o estresse hídrico e o calor é a cobertura vegetal, com palhada de capim em pastagens estabelecidas. Segundo os palestrantes, estratégias como aumentar a cobertura vegetal para facilitar o manejo de água e os teores de carbono orgânico e nutrientes no solo não têm sido suficientes para viabilizar o sucesso da sojicultura nessas situações extremas.
“Com os benefícios do sistema de ILP, foi possível introduzir a irrigação por pivô central a fim de atender as necessidades hídricas das culturas. É um investimento significativo, mas com intenção de viabilizar ainda mais o nosso sistema de produção”, destacou Silva.
Com inúmeras vantagens, a adoção dos sistemas de ILP cresce em todo o Brasil, mas ainda existem muitos desafios a serem vencidos para que mais produtores possam usufruir desses benefícios. Nesse sentido, há a necessidade de maior investimento em pesquisa, ações de transferência de tecnologia, crédito rural e iniciativas de assistência técnica para que as informações técnicas cheguem ao produtor rural.
A experiência do pecuarista Carlos Viacava mostra que a adoção dos sistemas de ILP é um caminho sem volta. “A atividade pecuária muitas vezes era vista como vilã e inimiga do meio ambiente, e com a Integração Lavoura-Pecuária ocorre exatamente o contrário, pois, ocorre menor emissão de gases e maior sequestro de carbono, e tudo isso com mais renda”, afirmou.
Colaborou Luiz Adriano Cordeiro
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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