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Estudantes da UFG visitam experimentos de recomposição do Cerrado em fazenda no DF
Foto: Felipe Ribeiro
Alunos do curso de engenharia florestal conheceram diferentes modelos de recomposição ambiental na Fazenda Entre Rios
Para conhecer de perto diferentes possibilidades de recomposição ambiental no Bioma Cerrado avaliadas pela pesquisa científica, 23 alunos do curso de engenharia florestal da Universidade Federal de Goiás (UFG) participaram do Dia de Campo “Diagnóstico e monitoramento em diferentes técnicas de recomposição do Cerrado” na Fazenda Entre Rios, localizada no PAD-DF, Distrito Federal. O evento foi promovido no dia 17 de janeiro pelo Projeto FIP Paisagens Rurais e integra a parte prática da disciplina “Restauração do Cerrado”, ministrada pela professora Sybelle Barreiro.
Com visitas a diversas áreas de savana, floresta e campo, da propriedade, e a análise da aplicação de diferentes técnicas de recomposição do Cerrado, o Dia de Campo mostrou aos estudantes como diagnosticar e monitorar o sucesso do uso dessas técnicas. O pesquisador Felipe Ribeiro, da Embrapa Cerrados (DF), falou sobre o diagnóstico e o monitoramento da recomposição da paisagem, enquanto a assessora técnica da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), Juliana Araújo, apresentou o planejamento e a implantação das áreas da recomposição ambiental.
“Passamos essas informações para que o aluno, assim que terminasse essa aula, fosse capaz de saber para quais principais fatores ele deve atentar no diagnóstico e no monitoramento, como a densidade de indivíduos, a cobertura arbórea e herbácea e a riqueza de espécies. Além disso, ele pode observar diversas técnicas de recomposição do Bioma na propriedade”, afirmou Ribeiro.
A Fazenda Entre Rios abriga os experimentos há 11 anos, iniciados no Projeto Biomas, parceria da Embrapa com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para o proprietário José Brilhante Neto, a expectativa é de retorno financeiro com os plantios. “O produtor pode ver que pode fazer a recomposição e, além de cumprir a legislação ambiental, conseguir algum retorno”, disse, acrescentando que também espera usufruir do ambiente recomposto.
“Fica um lugar bacana para ser visitado. Tivemos um experimento que inclusive gerou a publicação sobre a presença de aves, o que tem provocado muitas visitações ao local. Dessa maneira, surgem novas oportunidades para a fazenda”, completou.
A professora Sybelle Barreiro, que coordenou o grupo de alunos, destacou que a visita aos experimentos na Fazenda Entre Rios tem importância quanto à questão temporal. “Até poderíamos, na disciplina, fazer um experimento ou outro para simular uma condição natural ou que estivesse ocorrendo em campo. Mas não temos 16 semanas para avaliar, ver uma árvore crescer ou uma condição campestre se desenvolver. Então, ter a possibilidade de vir aqui, dentro de uma propriedade particular, e entender em campo os vários modelos disponíveis é fundamental para que os alunos compreendam que também há uma questão temporal para que a recomposição aconteça”, explicou.
Para os estudantes, o Dia de Campo foi uma oportunidade de ter contato com a prática da recomposição ambiental e adquirir novos conhecimentos. Arthur Machado esperava conhecer sistemas integrados de espécies exóticas com nativas, com formas de preparo diferentes tanto do ponto de vista da regeneração natural como da semeadura e do plantio de mudas.
Ele ficou surpreso com o crescimento das espécies de árvores nos experimentos – algumas com quase 15 metros de altura, como a teca. “Foi a maior surpresa ver a teca num sistema tão fechado, tão bem povoado. Como espécie exótica, ela se deu bem, assim como as nativas”, afirmou.
Durante o evento, ele aprendeu, por outro lado, que o retorno econômico com a recomposição ambiental não é tão fácil e rápido como acreditava. “Achei que era só plantar um eucalipto ali que ele ia crescer. Mas depois do eucalipto há um ecossistema formado ali, não posso tirar o eucalipto e voltar o sistema natural à estaca zero. A gente pensa que é fácil ter o retorno, e na verdade não é. E tem as frutíferas, que não sabemos em quais épocas exatamente teremos produtividade, qual público vai consumir. É bem mais complexo do que a gente imagina”, comentou.
Mesmo grávida, Any Kerolaine Campello não perdeu a oportunidade de participar do Dia de Campo, pensando na experiência enriquecedora que seria proporcionada pela visita. “É impossível ver aquela teoria, tudo aquilo que ela (Sybelle) passou, todos aqueles tópicos, só por fotos. É preciso ver o que está funcionando. Quando fomos à área, pude perceber: ‘nossa, isso aqui é regeneração natural, isso aqui são as características desse solo, então é aqui que está funcionando, então aqui é um campo’. Muita gente, até mesmo formandos, não sabe o que é uma formação savânica, uma formação campestre, pensa que a floresta é só a cobertura de dossel”, contou, destacando que a recomposição de uma formação campestre na fazenda foi o que mais lhe chamou a atenção.
Para o estudante Guilherme Augusto Pereira, o Dia de Campo atendeu à expectativa de avaliar métodos de restauração florestal. “Duas coisas (me surpreenderam). Primeiro, comparar e entender as fitofisionomias do Cerrado e compreender que não são só árvores, que o componente herbáceo tem importância e é uma forma de conservação. E a questão do uso da semeadura direta, que é algo em que acredito, porque, como foi dito, é (economicamente) bem mais em conta, e isso para o produtor é muito importante”, apontou.
Prestes a se graduar, Mariana Alves contou que decidiu cursar engenharia florestal porque sempre se interessou na recuperação de áreas degradadas. “Vi que era uma oportunidade muito grande de fazer alguma coisa em prol do meu país e retornar, pelo menos, um conhecimento muito válido. Já enxergava que era um problema que a gente tinha que encarar depois de uns anos”.
A formanda esperava, no Dia de Campo, conhecer de perto as aplicações de tudo o que aprendeu em sala de aula, desde a restauração até a recuperação ambiental. “Vimos que, na prática, não há uma receita de bolo. E foi muito interessante ver, principalmente na última área que visitamos, o valor comercial que pode ser aplicado na recuperação, sobretudo na questão das frutíferas. Ainda não temos um manejo correto das frutíferas do Cerrado e sei que há um mercado gigantesco para nós. Podemos aplicar, pelo menos em boa parte de Goiás, o método que vocês aplicaram”, disse.
Mariana enfatizou que a aplicação do conhecimento no campo foi de fato o mais interessante no Dia de Campo. “A surpresa maior é ver na prática, porque é sempre muito satisfatório. Se você entender que a fitofisionomia do Cerrado em si pode te dar variações dentro de um mesmo talhão, enxergar que em cada espaço, em cada metro quadrado vai ser uma aplicação diferente. Não há nada muito certo, não há um manejo 100% dentro da linha”, comentou.
Sobre a dificuldade de ganhar dinheiro com o trabalho de recomposição ambiental, ela demonstrou estar ciente do desafio. “Temos esse problema de ganhar dinheiro em cima daquilo que produzimos. Mas quando entramos (na engenharia florestal), temos que enxergar que não se trata de uma cultura que vai ter um ciclo curto, sempre é um ciclo longo. Desde o início, já sabemos que não vai ser fácil, temos que ter persistência. É ter calma e planejamento, porque nunca vai ser fácil e rápido”, finalizou a futura engenheira florestal.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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