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Dia de Campo reúne agricultores do assentamento São José da Boa Morte
Foto: Arquivo pessoal
Pesquisadora Mariella Uzêda conduz dia de campo junto a agricultores de Cachoeiras de Macacu
A pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Mariella Uzêda conduziu, no fim de novembro, um dia de campo para troca de experiências no assentamento São José da Boa Morte, em Cachoeiras de Macacu/RJ, onde ela tem desenvolvido pesquisas há mais de dez anos. Além de apresentar resultados dos estudos, a atividade também envolveu uma feira de troca de sementes, mudas e propágulos. “Nosso objetivo foi nivelar os agricultores sobre os levantamentos que temos feito no assentamento e também estimular que eles próprios falassem das vivências que têm tido com a condução de hortas-florestas orgânicas e com o uso de Diodia sapaponarifolia como cobertura viva do solo. A feira também foi muito legal, porque teve uma variedade imensa de produtos e eles mesmos ficaram surpresos com a quantidade de coisas diferentes que produzem e não levam para o mercado”, conta Mariella.
As atividades tiveram início com a apresentação dos resultados acerca do papel das aves e do manejo das plantas espontâneas no aumento dos serviços ecossistêmicos. “Pensando nas diferentes áreas de mata no entorno, na presença de árvores na propriedade a no uso de insumos químicos, ficou claro que a riqueza de árvores e o manejo com menos agrotóxicos conseguem compensar a menor presença de mata, porque permitem a atração de agentes polinizadores e de inimigos naturais de pragas, conservando também o solo”, explica a pesquisadora.
Além disso, alguns agricultores também falaram sobre a experiência que têm tido com a implantação da chamada horta-floresta, que é um sistema diferente dentro do manejo orgânico, cultivando ao mesmo tempo frutíferas nativas e hortaliças – no caso específico do assentamento, foram adotadas as hortaliças de caixaria, que já são uma tradição local. “Esses agricultores que hoje estão plantando meio hectare de horta-floresta sem agrotóxicos, mas que ainda não são certificados como orgânicos porque para isso precisariam levar a prática para toda a propriedade, têm recebido o apoio da Rede Ecológica – um coletivo de consumo que apoia a transição agroecológica integrado pela analista da Embrapa Agrobiologia Dione Galvão, que foi a ponte com os agricultores. Assim, a Rede compra os produtos para revenda, pagando por eles um preço superior ao que seria negociado com atravessadores”, relata.
Mariella revela também que em outra pesquisa foi detectado que, com o uso de agrotóxicos, a tendência dos agricultores era encontrar cada vez menos plantas espontâneas antes consumidas na alimentação, reduzindo a segurança e a soberania alimentar. “Eles plantam menor número de itens e consomem mais do mercado”, diz. “Foi muito interessante ver agricultor dizendo que o fato de parar de usar agrotóxicos gerou não apenas uma melhor oportunidade de mercado, mas também resgatou algumas tradições de consumo, porque começaram a nascer plantas espontâneas que já não nasciam mais”, continua a pesquisadora.
O Dia de Campo também envolveu uma dinâmica para identificar problemas do assentamento e apontar possíveis soluções. “Demos para eles mapas grandes do local e eles identificaram como problemas a vulnerabilidade a doenças e pragas e a falta de um mercado seguro, porque vendem para atravessadores. Como soluções, foram apontadas a inserção de árvores, principalmente frutíferas, que têm tido um mercado promissor, e a redução do uso de produtos químicos”, pontua.
Na ocasião, Mariella também apresentou aos agricultores presentes o Sistema de suporte à inserção de árvores na agricultura, que foi desenvolvido a partir do conhecimento construído conjuntamente no local. “Eles ficaram encantados. Muitos testaram para suas áreas, o que possibilitou que vissem como é fácil usar”, conta.
Liliane Bello (MTb 01799/GO)
Embrapa Agrobiologia
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