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Aperfeiçoamento do Zoneamento Agrícola de Risco Climático evita perdas agrícolas
Foto: Magda Cruciol
Pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Eduardo Monteiro apresenta palestra sobre o Zarc
Evitar perdas agrícolas provocadas por condições meteorológicas adversas é um dos principais propósitos do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). A ferramenta que orienta o produtor rural sobre a melhor época de plantio e semeadura das culturas é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura que vem sendo aperfeiçoado constantemente com tecnologia e informação qualificada.
A estimativa da Embrapa é que a economia gerada passe de R$ 1,5 bilhão ao ano, de acordo com o Balanço Social publicado pela Empresa. Desde 1996, quando o Zarc foi criado, estima-se uma economia de R$ 13,6 bilhões ao tesouro nacional. Por isso, a atualização contínua da metodologia e a incorporação de recursos tecnológicos são fundamentais.
Para discutir como melhorar a metodologia e incorporar novos fatores de risco, especialistas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Embrapa e representantes dos setores produtivo e financeiro reuniram-se em um workshop realizado na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), de 21 a 23 de novembro. O evento contou com a presença de cerca de 70 pessoas que desenvolvem pesquisas ou usam a tecnologia.
O Zarc orienta o produtor e o agente financiador quanto às épocas mais adequadas e menos vulneráveis para se plantar, gerando maior segurança para as operações de seguro agrícola. Os programas de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), Garantia da Atividade Agropecuária da Agricultura Familiar (Proagro Mais) e o de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) do governo federal consideram o Zarc como um dos requisitos obrigatórios para a contratação de seguro e mitigação de risco na tomada de crédito. Vários agentes financeiros também condicionam a concessão do crédito rural ao cumprimento das indicações do Zarc.
No Plano Safra 2017/2018, o governo federal disponibilizou R$ 188,4 bilhões em linhas de crédito agrícola, sendo R$ 150,2 bilhões para custeio e R$ 38,1 bilhões para investimento. O Proagro totalizou R$ 14,7 bilhões em capital protegido, de acordo com o Banco Central, e o seguro rural, R$ 12 bilhões, conforme informações da Secretaria de Política Agrícola do Mapa. Apenas no período de 2015 a 2017, houve indenizações de cerca de R$ 3 bilhões pelo governo federal, relativas aos programas Proagro e Proagro Mais.
Avaliação de riscos
“Os riscos agroclimáticos mais relevantes para a produção agrícola são deficiência hídrica, geadas, chuva na colheita, temperaturas muito altas, excesso hídrico, vendavais e granizo”, explica o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Eduardo Monteiro, coordenador da rede de avaliação de riscos agrometeorológicos da Embrapa. Para execução dos estudos, os pesquisadores fazem trabalhos de levantamento, organização e tratamento de dados obtidos por uma rede de instituições distribuídas pelo Brasil, modelagem e simulação das várias culturas, espacialização dos resultados e, por fim, uma validação com avaliações realizadas com representantes do setor produtivo.
Os principais resultados obtidos em 2018 foram tema do encontro em Campinas. O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Marco Conceição apresentou os novos critérios usados para o zoneamento da produção de uva. A metodologia usada, que considera as características do clima, do solo e da cultura na região, foi validada por técnicos e produtores do estado. Outra atualização tratou dos critérios para a classificação dos riscos climáticos para a banana, incluindo os grupos Cavendish, maçã, e prata/terra. A produção de banana no Brasil em 2017 foi de 6,6 milhões de toneladas, sendo que São Paulo, o principal estado produtor, responde por 16% desse cultivo. Maurício Coelho, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, mostrou o trabalho de modelagem realizado, com a revisão de parâmetros em todo o ciclo da cultura, do plantio à colheita.
Uma inovação para a safra 2018/2019 é o Zoneamento Agrícola de Risco da Produtividade Climática (Zarp), que incorpora mais variáveis climáticas e abre possibilidades para geração de zoneamentos de risco para diferentes expectativas ou produtividades esperadas. O Zarp para o arroz irrigado no Rio Grande do Sul (RS) foi tema da palestra do pesquisador da Embrapa Clima Temperado Silvio Steinmetz. Esse zoneamento é gerado a partir do SimulArroz, um modelo que simula o desenvolvimento, o crescimento e a produtividade de arroz nos sistemas de irrigação por inundação das regiões gaúchas.
O Zarc da soja também foi revisado para os estados de Santa Catarina (SC) e RS. Gilberto Cunha, pesquisador da Embrapa Trigo, ressaltou a importância da atualização dessa que foi a primeira cultura a ser zoneada no País. Cunha também destacou dados sobre a produção de trigo, cuja concentração está nos estados do Paraná, RS e SC, que produzem 85% do grão. Nos últimos cinco anos, houve perdas de R$ 390,5 milhões em contratos do Proagro com trigo. Parte das perdas decorre de eventos climáticos adversos; porém, outra parte pode estar sendo causada por manejo inadequado. Por isso, algumas medidas adicionais estão sendo avaliadas para se reduzir a ocorrência de perdas nessa cultura.
Os resultados validados para o feijão Phaseolus, considerando níveis de 20%, 30% e 40% de risco, foram apresentados pelo pesquisador Silvando Silva, da Embrapa Arroz e Feijão. E o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Luis Barioni mostrou estudos de risco climático em pastagens para a produção animal. O modelo de produtividade de pastagens é associado a um de orçamentação forrageira e permite estimar o risco para diversas combinações, indicando a necessidade de suplementação alimentar. A metodologia para outras culturas como amendoim, cacau e palma forrageira também foram reavaliadas e tiveram seus zoneamentos atualizados.
Demandas do setor
Todas essas atualizações trazem ganhos significativos, tanto para o produtor rural, como para o governo e o setor de seguro agrícola. “Mas é preciso avançar em um arranjo institucional para alavancar mais recursos para o Zarc. Também é muito importante alinhar a geração das informações entre as diversas instituições, tanto para atender as demandas dos produtores quanto as do setor financeiro, com a participação da Embrapa”, acredita o pesquisador Aryeverton Fortes de Oliveira, da Embrapa Informática Agropecuária.
A rede do Zarc coordenada pela Embrapa entre 2015 e 2018 conta com a participação de 31 centros de pesquisa, que já realizaram o zoneamento de 16 culturas. Nesse período, a equipe de pesquisadores viu crescer as demandas para a incorporação de novos produtos ou serviços atrelados à tecnologia. As principais são quantificação de riscos de produtividade, inclusão de novos fatores de risco e de outras culturas e sistemas de produção. Já existe um histórico para 44 culturas ou sistemas de produção com Zarc publicado pelo Mapa; entretanto, atualmente há uma demanda para mais de 100.
Representantes do Mapa, Banco Central, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg) participaram de uma mesa-redonda, ocorrida em 22 de novembro, para tratar especificamente das demandas do setor de gestão de riscos. O diretor do Departamento de Gestão de Risco, da Secretaria de Política Agrícola do Mapa, Marcelo Guimarães, ressaltou a importância do acordo de cooperação técnica com a Embrapa para a manutenção e atualização do Zarc. “Dá uma segurança muito grande, uma tranquilidade que a questão técnica será levada à plenitude com relação ao zoneamento”, afirmou.
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) financiou R$ 22,3 bilhões na safra 2017-2018. Para José Carlos Zukowski, coordenador geral de Gestão de Riscos e Seguro Rural da Subsecretaria de Agricultura Familiar da Casa Civil, “é preciso ter apoio de ferramentas de gestão de riscos, pois sem as ferramentas adequadas esses programas não têm como se sustentar”. Ele ainda falou sobre a necessidade de desenvolvimento e evolução de recursos tecnológicos que deem suporte aos programas governamentais para a agricultura.
Uma das necessidades do Proagro, na visão de Clóvis Marcolin, coordenador de Gestão do Proagro do Banco Central, é a incorporação de sistemas de monitoramento à fiscalização. Já Pedro Loyola, presidente da Comissão de Política Agrícola da CNA, enfatizou a importância econômica do seguro rural para o País e o impacto na produção agrícola. Ele defende a criação de um canal de comunicação com a rede de pesquisadores da Embrapa para o envio das demandas do campo.
As estratégias de gestão de risco foram abordadas pelo diretor técnico de seguros rurais e representante da Fenseg, Paulo Hora. Segundo ele, a área coberta pelo seguro agrícola representa 14% da plantação de grãos no Brasil. Somente em 2017, houve R$ 820 milhões de indenizações por sinistros. “O Zarc é uma ferramenta fundamental de mitigação de risco para o mercado e para o produtor”, destacou Hora, frisando a necessidade de incorporação de outras variáveis climáticas aos modelos.
Para a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, o workshop foi uma oportunidade para integrar os vários atores envolvidos no processo do Zarc, possibilitando a discussão sobre novas demandas e produtos. “Também permitiu discutir alternativas de financiamento que possam subsidiar um programa permanente de zoneamento agrícola de risco climático que contemple avanços científicos, além das ações operacionais de atualização dos zoneamentos”, disse.
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Informática Agropecuária
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