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22/05/19 |   Agroecologia e produção orgânica  ILPF

ILPF com foco na produção de leite é tema de Dia de Campo

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Foto: Juliana Caldas

Juliana Caldas - URT de ILPF instalada na Agrobrasília

URT de ILPF instalada na Agrobrasília

A programação técnica da Embrapa na Agrobrasília foi encerrada na sexta-feira (17) com o Dia de Campo sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta com foco na produção de leite. Cerca de 150 produtores rurais e interessados no tema participaram do evento, realizado na Unidade de Referência Tecnológica de ILPF do PAD-DF instalada na área do Parque Ivaldo Cenci, local onde é tradicionalmente realizada a Feira.
 
Os participantes percorreram no Dia de Campo quatro estações. A produtividade e o conforto térmico de bovinos leiteiros em sistemas de ILPF foi um dos temas abordados. A pesquisadora da Embrapa Cerrados, Isabel Ferreira, repassou os resultados parciais de um experimento que está sendo conduzido há dois anos e que busca avaliar os impactos da adoção do sistema de integração no que diz respeito à produtividade de leite e de forragem e o conforto térmico dos animais.
 
Essa pesquisa está sendo conduzida numa área de 16 hectares instalada no Centro de Tecnologias de Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL), localizado no Gama e ligado à Embrapa Cerrados. De acordo com a pesquisadora, no local estão sendo analisados dados como: produção de leite por área e por animal, produção e valor nutritivo da forragem, o comportamento ingestivo dos animais, quantidade e qualidade de ovócitos e embriões, produção de metano, temperatura animal, dentre outros.
 
Segundo resultados parciais, a produção de forragem nos dois anos de instalação do experimento foi 30% menor. “Em compensação, essa forragem apresentou maior valor nutritivo, com 38% a mais de proteína e 12% a mais de digestibilidade”, explicou a pesquisadora. A produção de leite dos animais por hectare do sistema também foi menor nessa fase inicial (10% a menos quando comparada aos animais submetidos ao pleno sol), no entanto, já no segundo ano foi 3% a mais.
 
Já a produtividade das vacas, individualmente, nesses dois primeiros anos de pesquisa foi 5,3% maior no sistema ILPF. “Em dias quentes e secos, esse aumento chegou a 17%”, afirmou a estudiosa. Outro dado destacado por ela foi o que registrou o consumo médio de água no pasto. “Os animais consumiram 28% menos água. Essa foi uma das nossas hipóteses comprovadas, pois já imaginávamos que com o sistema integrado conseguiríamos reduzir esse consumo”.
 
Segundo Isabel, ainda não foram levantadas informações relativas aos custos de produção. “O que podemos afirmar, até aqui, é que compensa a implantação do sistema do ponto de vista do comportamento animal”. Os animais sob ILPF passaram 39% a menos do tempo ingerindo água e aumentaram em 22% o tempo de ruminação. “Esse dado é muito importante, pois reflete a capacidade de consumo do animal, variável que está positivamente associada à produção de leite”, explica.

Pesquisador Carlos Frederico MartinsLeite A2A2 – os participantes do Dia de Campo também tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o Leite A2A2, ou seja, o leite que apresenta em sua composição apenas a proteína β-caseína A2 (além dessa proteína, o leite também é formado pelas proteínas alfa-lactoalbumina e beta-lactoglobulina entre outras). Pessoas, especialmente crianças, que apresentam alergia à proteína do leite de vaca em geral reagem em contato com o produto que possui em sua composição a β-caseína A1. 

“Para que o leite seja A2A2 precisamos que 100% dessa proteína vinda do touro e da vaca sejam A2. Fazemos na Embrapa uma seleção dos animais por identificação da frequência genética e frequência alélica através de um exame de DNA chamado de genotipagem”, explicou o pesquisador da Embrapa Cerrados, Carlos Frederico Martins (foto). Segundo ele, na última prova de produção de leite a pasto de Zebu Leiteiro, realizada no CTZL, todos os animais foram genotipados e suas frequências foram verificadas.

“Nos Zebuínos, a frequência de β-caseína A2 é bastante alta. No Gir, 90% do genoma apresenta o gene da β-caseína A2. Já no Sindi, 100% do rebanho foi prevalente para a β-caseína A2. Já no Holandês, a frequência genética da fração A1 é mais alta (entre 58 e 63%)”, detalhou o pesquisador. De acordo com o estudioso, há muitos anos, todos os bovinos produziam apenas a β-caseína A2. “Depois de milhares de anos de seleção houve uma mutação e surgiu a β-caseína A1. Esta é a que causa os maiores problemas no consumo de leite”, explicou. 

De acordo com o pesquisador, os produtores estão se organizando em todo o país para produzir o leite A2A2. “Hoje é mais fácil saber de qual animal posso selecionar o sêmen para fazer o acasalamento e gerar animais mestiços A2A2 ou o puro de origem (PO) A2A2. Os sumários de touros para os bovinos zebuínos e europeus já trazem essa informação”. Os produtores também fazem a seleção por meio da genotipagem. “Através de marcadores genéticos dá para diferenciar a fêmea que tem no seu genoma a característica de produzir o leite A2 ou a fração A1. Os acasalamentos estão sendo feitos seguindo esses parâmetros”, explicou. 

A produção desse tipo de leite já é realidade fora do Brasil. Por aqui, ainda não há uma legislação específica, apesar da demanda crescente por esse tipo de produto. “Acreditamos que seja uma grande oportunidade para o pequeno produtor para agregação de renda”, afirmou o pesquisador. O produtor Eduardo Oliveira, da Fazenda Asa Branca, apresentou no Dia de Campo sua experiência com a produção do leite A2A2 em sua propriedade, localizada na Cidade Ocidental (GO). 

Produtor de gado de corte, ele resolveu produzir leite para tentar resolver um problema de sua filha. “Ela é alérgica. Certa vez, ao ouvir uma palestra de um médico sobre esse tipo de leite, resolvi eu mesmo produzir, já que tínhamos o gado e toda a estrutura da fazenda”, contou. Hoje, ele fornece esse tipo de leite para outras pessoas que enfrentam o mesmo problema “sempre recebendo depoimentos das famílias relatando os bons resultados”. 

Segundo o produtor, já foram realizadas na propriedade mais de 200 genotipagens e hoje ele trabalha com o rebalho 100% A2. “Mesmo assim, fazemos exame de DNA para ter a confirmação”, ressalta. Ele conta, no entanto, que de fato ainda existem muito entraves para a comercialização do leite A2. “Mas, acreditamos muito nesse novo nicho e estamos nos profissionalizando cada vez mais e trabalhando para conseguir resolver tudo”. 

Luiz Carlos Brito, da Seagri-DFLeite orgânico – a produção de leite orgânico em sistemas de ILP também foi um dos temas tratados durante o dia de campo. Segundo Luiz Carlos Britto (foto), da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF (Seagri), um sistema orgânico de produção de leite pressupõe a utilização de pastejo rotacionado, pastagens consorciadas e integração de sistemas. “Mesmo que o produtor não alcance produtividade máxima em cada componente do sistema, o resultado total é geralmente melhor. No sistema o todo é sempre maior que a soma das partes. O mundo está caminhando para essa forma de pensar sistematicamente e a produção de leite caminha nesse sentido”, enfatizou.
 
Ele explicou o passo a passo para que um produtor se torne orgânico, o que é permitido e o que é proibido segundo a legislação e como é feita a certificação dos produtos. Dentre as proibições estão a utilização de agrotóxicos e transgênicos, adubos solúveis, hormônios, além de restrição ao confinamento (máximo de 6 horas por dia). Na lista das permissões estão: adubos de liberação lenta, utilização de sal mineral, pós de rocha e inseminação artificial, dentre outros.
 
De acordo com Luiz Carlos, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) existem hoje no Brasil 33 produtores de leite orgânico. “É um número pequeno, mas muitos estão em conversão. As grandes empresas compraram recentemente essa ideia e a previsão é de que daqui para a frente esse número aumente”, afirmou. Ele apresentou ainda a experiência da Fazenda Malunga, propriedade que há 20 anos produz leite orgânico no DF e que atualmente alcança, em média, produtividade diária de 1320 litros.
 
Componente florestal – a necessidade de ter sombra na área de pastejo dos animais é uma das exigências para que o leite seja considerado orgânico. Por outro lado, em sistemas convencionais, nos experimentos realizados constatou-se que a maior parte dos animais (61%) preferem pastejar sob sombra a maior parte do tempo. Para falar sobre sistemas de integração com foco no cultivo florestal o Dia de Campo contou com a presença do consultor florestal Pedro Francio Filho. 

Segundo ele, antes de implantar a floresta em sua área de integração o produtor deve definir para qual finalidade a madeira será destinada. “Cada caso é um caso. Essa madeira poderá ser destinada para biomassa, carvão, celulose, serraria. O mercado local deve ser estudado para que essa decisão seja tomada de forma acertada”, alertou. Segundo ele, a definição da finalidade do plantio também impacta na decisão de qual material genético deverá ser usado, já que existem clones diferentes para cada fim.

Ele apresentou uma sugestão de sequência operacional de trabalho, pontuou a importância de alguns manejos, como o controle adequado de pragas como formigas cortadeiras e a importância de se utilizar mudas certificadas e de se fazer podas nos momentos certos a fim de buscar qualidade e produtividade do material. Francio mostrou ainda imagens de diferentes arranjos de sistema integrado e de áreas pelo país transformadas por conta da implantação do sistema.

Dia de Campo – o Dia de Campo sobre ILPF com foco na produção de leite contou com o patrocínio da Rede ILPF, apoio da Emater-DF, Seagri-DF, Francio Soluções Florestais, parceria do Senar-DF, e organização e promoção da Embrapa e da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF).

Juliana Caldas (MTb 4861/DF)
Embrapa Cerrados

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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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