Medidas para o controle de fatores de degradação ambiental

Ao optar por uma ou mais estratégias de recuperação, visando não prejudicar a regeneração natural e/ou os plantios, algumas medidas iniciais devem ser tomadas para eliminar ou minimizar fatores de degradação ambiental, dentre os quais o fogo, o pastoreio de animais e as formigas cortadeiras. Além dessas medidas, a estratégia deve vir acompanhada, sempre que possível, do uso de Boas Práticas Agrícolas visando garantir a conservação do solo e da água.

1. Isolamento da área

Foto: Marcelino RibeiroO isolamento é requerido quando a área a ser restaurada se encontra adjacente a uma área de pastagem. Nesse caso, a recomendação é que a área seja cercada para impedir o acesso dos animais e o consequente pisoteio e danos às plantas, oriundas de regeneração natural e/ou plantios. O tipo de cerca a ser implantada dependerá das características da área e inclinação do terreno, dos animais (se bezerros, vacas leiteiras, touros, ovinos, etc), da disponibilidade ou possibilidade de acesso aos materiais para construção, tendo em vista a previsão de sua durabilidade (diferentes números e tipos de fios de arame, estacas, postes, mão de obra disponível). Assim as cercas podem variar de extremamente simples com arame liso ou farpado às mais sofisticadas, como o caso de cercas eletrificadas. Dessa forma, a escolha do tipo de cerca mais adequada pode requerer uma consulta a um técnico do segmento. Caso seja necessário, deve-se prever o acesso à área a ser recuperada, como por exemplo, em caso de disponibilidade de água e extrativismo sustentável.

2. Contenção de fogo

Foto: Marcelino RibeiroSeja intencional ou acidental a ocorrência de queimadas e o consequente alastramento do fogo para as áreas sob regeneração natural e/ou plantadas são uma séria ameaça ao sucesso da estratégia. No caso de áreas adjacentes a pastagens, o alastramento de fogo pode ser evitado com a construção e manutenção de aceiros ao longo das cercas (preferencialmente de 2-3 metros de cada lado). O aceiro consiste na eliminação da cobertura vegetal, viva ou morta, presente sobre o solo o que pode ser realizado manualmente com o uso de enxada, ou via mecanizada utilizando trator acoplado com lâmina frontal para raspar e afastar a camada superficial do solo com a vegetação; ou pelo seu revolvimento e incorporação por meio da aragem e/ou gradagem leve do solo, em faixas paralelas às cercas. Em áreas adjacentes a lavouras, e onde não há necessidade de cercas, a proteção da área também pode ser obtida com a manutenção dos carreadores e das áreas de manobras de máquinas sempre livres de cobertura vegetal viva ou morta utilizando-se os mesmos expedientes acima. Em qualquer situação, contudo, a manutenção de uma área de prevenção ao alastramento de fogo deve ser considerada.

3. Controle de formigas cortadeiras

Os danos causados por formigas cortadeiras também podem comprometer a estratégia de recuperação, em especial devido aos danos causados às plantas jovens da regeneração natural ou mesmo de plantios. O monitoramento periódico das formigas deve ser feito continuamente. O controle deve começar quando atingem o nível de dano ou logo após a limpeza e preparo da área, pelo menos 30 dias antes do plantio. Os tipos mais comuns de formigas cortadeiras são as saúvas (Atta spp) e as quenquéns (Acromyrmex spp). O controle contempla a) identificação e marcação de carreadores e olheiros, b) aplicação dos produtos mais adequados e c) o monitoramento do retorno. Entre os produtos disponíveis podem ser citados a) iscas granuladas, as quais podem ser distribuídas ao longo dos carreadores, em porta-iscas para evitar o seu umedecimento, ou mesmo na forma de sachês; b) formicidas em pó seco ou via úmida; ou c) termonebulização. Cada método de controle prevê o uso de princípios ativos e equipamentos diferentes e requer que sejam considerados o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPI) e as recomendações do fabricante. Em caso de dúvidas, procurar profissional habilitado. Em sistemas agroflorestais ou em áreas onde há restrições ao uso de agrotóxicos, recomenda-se o uso de formulações à base de produtos naturais como, por exemplo, à base de gergelim ou mamona.

Medidas para o controle de plantas competidoras

A existência e a proliferação de plantas invasoras na área em recuperação pode afetar o desenvolvimento das plantas, em especial as mais novas, sejam aquelas advindas da regeneração natural, ou as estabelecidas via plantio de mudas ou sementes. Tais plantas competem com as espécies de interesse por água, luz e nutrientes presentes no solo, podendo inviabilizar a estratégia de recuperação. A escolha do método para o controle de invasoras dependerá da estratégia adotada. No caso da estratégia Regeneração Natural Com manejo, o controle de competidoras pode se dar por meio de roçada manual ou controle químico com o uso de herbicidas de baixo impacto ambiental. Por sua vez, na estratégia Plantio em área total o controle de invasoras pode ser feito de quatro maneiras, a saber: roçada manual e seletiva; roçada mecanizada; uso de plantas de cobertura; e controle químico pelo uso de herbicidas de baixo impacto ambiental. Diferente das demais, a estratégia Sistemas Agroflorestais não permite o controle de invasoras por meio de herbicidas, privilegiando métodos mais naturais como a roçada manual ou mecanizada e o uso de plantas de cobertura. Ressalta-se que o uso conjugado de métodos de controle também pode ser necessário, dependendo da estratégia de recuperação, da área, do estado de competição e das plantas invasoras predominantes.

1. Roçada manual

Indicado para áreas onde a regeneração natural é relevante, devendo a operação ser realizada de forma seletiva visando não danificar as plantas de interesse. Nesse caso, as plantas de interesse podem ser sinalizadas no campo com pequenas estacas, cartões, tecidos, etc. A operação pode ser realizada com o uso de foice ou ferramenta similar, ou ainda com roçadeiras costais, preservando as plantas de interesse. A operação pode ser repetida em fases posteriores de desenvolvimento da área, caso o monitoramento aponte necessidade.

2. Roçada mecanizada

Indicado para áreas onde a regeneração natural é muito baixa ou inexistente. No primeiro caso, as plantas de interesse podem ser sinalizadas no campo com auxílio de pequenas estacas, cartões, tecidos, etc, visando orientar a operação mecânica. A operação deve ser realizada utilizando-se trator com roçadeira acoplada. A altura de corte recomendada é de 10 centímetros.

3. Uso de plantas de cobertura

Foto: Ana Lúcia BorgesO uso de plantas de cobertura para o controle de plantas competidoras pode se dar isoladamente, ou conjugado com outros métodos de controle, sejam manuais, mecânicos ou químicos. É um método indicado para áreas onde há restrições quanto ao uso de herbicidas. O princípio básico para seu uso é o de promover um rápido e bom sombreamento do solo, dificultando o estabelecimento de plantas indesejáveis, em especial plantas que requerem luminosidade para o seu desenvolvimento, como as gramíneas. As plantas de cobertura mais conhecidas para esse fim pertencem ao grupo das leguminosas, tais como crotalária, feijão-guandu e feijão-de-porco. Tais plantas apresentam rápido crescimento inicial, além de realizarem a fixação de nitrogênio atmosférico por meio da associação com microrganismos em suas raízes, incorporando nitrogênio ao solo, sendo este um nutriente essencial para o crescimento e o desenvolvimento vegetal. Dessa forma, além da cobertura do solo, contribuem para a melhoria das condições de fertilidade do solo na área em recuperação.

4. Controle químico com uso de herbicidas de baixo impacto ambiental

Foto: Ronaldo RosaIndicado para áreas sem restrições ao uso de herbicidas, elevada infestação e difícil controle de plantas invasoras. Os herbicidas podem ser seletivos para espécies de folhas largas (dicotiledôneas) ou estreitas (monocotiledôneas, grupo que pertencem os capins). A aquisição desses produtos deve ser feita por meio da emissão de receituário agronômico por profissional habilitado, contendo as características do produto, as dosagens a serem utilizadas para os grupos de espécie-alvo de interesse, sua forma de preparo e aplicação, além das áreas onde os produtos podem ser utilizados. Sua aplicação pode ser realizada via bombas costais (manuais ou motorizadas) ou por meio de trator acoplado com implementos de pulverização adequados. Em todos os casos, deve ser observado o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), além da adequada destinação das embalagens vazias. O uso de herbicidas em Áreas de Preservação Permanente deve ser evitado, salvo com autorização do órgão ambiental. A aplicação desses produtos deve seguir as orientações de boas práticas para aplicação de agrotóxicos.

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