Junho, julho, agosto. Após alguns meses sem chuva, a paisagem pode parecer desoladora: os campos e as lagoas secam, os pássaros voam e vão cantar em outro lugar, os mamíferos saem em busca de pequenas fontes de água para matar sua sede. Até que um dia... cabrum! Chove, chove, chove! E as águas invadem a planície, nutrindo o solo e levando vida a milhares de espécies de plantas e animais. Os meses de verão que vêm em seguida, então, são de fartura e abundância. Mas aí chega outro inverno e, com ele, uma nova seca. Começa tudo outra vez...
Todos os anos, o Pantanal – bioma que ocupa parte da região Centro-Oeste do Brasil, nos estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, próxima às fronteiras com a Bolívia e o Paraguai – enfrenta o mesmo ciclo climático: um inverno bastante seco e um verão quente e chuvoso. Os cientistas chamam isso de “pulso de inundação”, e essa dança das águas é a marca registrada do bioma.
Nas partes mais baixas do Pantanal, o período de inundações pode durar até oito meses, enquanto, nas partes ligeiramente mais altas, as cheias são mais curtas, com apenas três ou quatro meses de duração. Por isso, a vegetação que cobre as diferentes partes desse bioma pode variar bastante. São conhecidas, até hoje, mais de duas mil espécies de plantas; algumas delas, exclusivas da região – é o caso, por exemplo, de dois tipos de amendoim selvagem e de uma rara orquídea aquática (Habenaria aricaensis) encontrada por lá.
Se a flora é de tirar o fôlego, a fauna não fica atrás! O tuiuiú, ave símbolo do bioma, pode ser facilmente avistado. Mamíferos ameaçados, como onças-pintadas, tamanduás-bandeira e ariranhas têm sua população mais numerosa no Pantanal, onde estão mais protegidos. Jacarés, sucuris, cágados-cabeçudos, araras-azuis, águias-cinzentas e garças também podem ser vistos por lá. Uma grande parte das aves, porém, vira e mexe, bate as asas e vai voar em outra vizinhança: são aves migratórias, ou seja, espécies que vivem viajando longos trajetos. Para você ter uma ideia, algumas voam desde o Canadá até a Argentina, aproveitando a melhor época do ano – a de maior oferta de alimentos – em cada região do continente.
Uma boa notícia é que o Pantanal é o bioma mais preservado do Brasil, por manter, ainda, 84% de sua paisagem original. Por isso, muitas espécies de animais e de plantas vivem lá, o que é difícil de ver em biomas como a Mata Atlântica e o Cerrado. Um fator que contribui muito para isso é a convivência harmoniosa dos homens com a natureza, uma tradição que começou com os índios que lá viviam antes da chegada dos portugueses. Aqueles já aproveitavam recursos naturais, como peixes, mamíferos, aves, caramujos e plantas, de forma sustentável, ou seja, sem prejudicar o equilíbrio dos ecossistemas.
E tal harmonia continuou após a colonização europeia, quando o Pantanal foi ocupado, principalmente para a criação de bovinos, por causa de seus campos fartos e de suas pastagens nativas.
Os rios que formam o Pantanal nascem nos planaltos que o cercam. Por isso, a conservação do bioma deve começar também fora dele. É fundamental preservar as matas das margens das nascentes, evitando assim a erosão, e acabar com a poluição das águas, causada por derramamento de esgotos e de agrotóxicos, por exemplo.
Para que essa harmonia entre homem e natureza dure ainda por muitos e muitos anos, é imprescindível conscientizar os turistas e a população local da importância de se conservar a região evitando o desmatamento, combatendo a caça de animais silvestres e tendo muito cuidado durante a navegação dos rios.