A Embrapa Territorial e a Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC) firmaram parceria para substituir os formulários de papel utilizados no processo de certificação por uma ferramenta digital, acessível pelo celular. Além de facilitar a verificação do atendimento aos princípios e regulamentação da produção orgânica, a expectativa é que a mudança gere um banco de dados com informações que ajudem a melhorar, por exemplo, a comercialização. Criada em 1991, a ANC reúne consumidores e produtores de alimentos orgânicos e atua também certificando produtos, por meio do sistema participativo de garantia. Mais de 100 agricultores fazem parte da associação. “Eu fiquei muito contente, muito animada com o interesse dos dirigentes e dos coordenadores da ANC para usar os formulários digitais”, diz a pesquisadora Gisele Freitas Vilela, líder da iniciativa na Embrapa Territorial. Em um encontro no formato híbrido, realizado em 9 de abril, ela e a pesquisadora Cristina Criscuolo, também da Embrapa Territorial, capacitaram alguns membros da ANC para uso do recurso. Membros da ANC foram capacitados para uso das ferramentas Os formulários digitais correspondem aos planos de manejo enviados periodicamente pelos agricultores às instituições que atestam o caráter orgânico dos produtos - sistemas participativos de garantia ou empresas certificadoras. Nesses documentos, eles registram cada detalhe da produção, cultivo por cultivo, talhão por talhão. Se há plantio de cenouras, por exemplo, é preciso informar a quantidade de sementes plantadas, como foram adquiridas, quanto se espera colher, cada produto utilizado como fertilizante ou para o combate de doenças e pragas, para quem foram vendidas, entre muitas outras informações. Há que se reportar dados gerais sobre a propriedade, como medidas de conservação de solo, proteção de fontes de água e destinação de resíduos. Tantas informações tomam tempo no preenchimento e enchem caixas e caixas de papéis na sala que abriga documentos da ANC. Milene Vasconcelos Amedi é secretária do Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica (Opac) da ANC e conta que a substituição dos formulários em papel por uma solução digital já era uma demanda dos associados. São mais de 30 páginas a serem preenchidas manualmente, disse o produtor de frutas Issao Kumagai. Ele é um dos integrantes do grupo que visita periodicamente colegas do grupo, como parte do processo participativo de certificação e espera melhoria no trabalho com a adoção da solução da Embrapa Territorial. “É uma coisa que facilita o preenchimento e agiliza também o processo de avaliação, fica mais prático”, disse. A ideia é começar imediatamente a sensibilização dos produtores para uso da ferramenta. Milene antecipa que a transição não será automática, precisará de um tempo, mas se mostra confiante: “As gerações estão ali para se comunicar, para se ajudar. O sistema participativo é em grupo. Então, se um tem dificuldade, o outro tá ali pra ajudar. Se isso já acontece no papel, vai acontecer no digital também.” Gestão de dados Além de facilitar o processo de certificação, a digitalização das informações abre caminho para a melhor gestão de dados sobre a produção e comercialização. Amedi relata que, hoje, falta um sistema que gere informações precisas sobre volume de produção, estimativa de colheita e perfil dos mais de 100 agricultores, por exemplo. Tudo isso está nos formulários, mas ficam em papel ou PDF. Com a digitalização, será possível gerar painéis com esses dados, o que dará subsídios para melhor comercialização ou mesmo elaboração de projetos para captação de recursos. Equipe da Embrapa Territorial e da ANC Sistematizar dados está na origem do projeto Pró-Orgânico. A demanda partiu do Ministério da Agricultura e Pecuária, que precisa de informações organizadas sobre o setor. Mas uma série de interações com a cadeia produtiva e lideranças do segmento chegou à oportunidade do desenvolvimento de uma solução para digitalizar os documentos do processo de certificação. Dessa forma, seria gerada uma ferramenta de valor para os produtores e, ao mesmo tempo, um banco de dados. Os formulários digitais foram desenvolvidos de forma participativa com os produtores de duas organizações, a Orgânicos Sul de Minas e da Comuna da Terra (Ribeirão Preto, SP), que começaram a utilizá-los em 2024. O grupo de agricultores da ANC vai ser o primeiro a utilizar os formulários, partindo dessa etapa em que eles já estão prontos, formatados. “O que a ANC vai testar já é uma solução tecnológica. É um outro nível de testagem. Isso é muito importante porque precisamos que o ativo seja adotado e testado para colhermos as impressões e fazermos as melhorias”, analisa Gisele. Um novo projeto de pesquisa está em execução para aprimorar a solução já desenvolvida e ampliar o uso nas regiões Sudeste e Sul do País.Integram este projeto cinco centros de pesquisa da Embrapa: Embrapa Agrobiologia, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Gado de Leite, Embrapa Solos e Embrapa Territorial. São parceiros: Ministério da Agricultura e Pecuária - Superintendências de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Curso e materiais de apoio gratuitos Além dos formulários, o projeto Pró-Orgânico gerou um ambiente digital, com uma Organoteca, onde podem ser encontradas tecnologias e publicações da Embrapa para esse tipo de produção. Há também uma planilha de custos para gestão financeira da produção e listas de produtos cujo uso é permitido na agricultura orgânica. Na plataforma de educação a distância da Embrapa, o e-Campo, está disponível gratuitamente o curso Produção Orgânica: princípios e regulamentação. É composto por quatro módulos. O primeiro deles apresenta conceitos e o histórico dos movimentos que originaram a agricultura orgânica. O segundo módulo trata dos princípios e das práticas recomendadas para manejo do solo e das culturas. O terceiro explora as normativas relacionadas à produção orgânica no Brasil. Aborda também os tipos de certificação disponíveis e as opções existentes de acordo com o perfil e necessidade dos agricultores. O último módulo mostra como utilizar a Organoteca e a planilha de custos. Além das aulas ministradas, a capacitação traz vídeos com a visão de lideranças ligadas à agricultura orgânica, biodinâmica, natural, agroecológica e regenerativa. Contém também entrevistas com agricultores que praticam algumas dessas modalidades de produção. Conheça um dos formulários no vídeo-tutorial abaixo: