Curso prepara profissionais para implantação de ILPF
Curso prepara profissionais para implantação de ILPF
A integração de atividades produtivas como alternativa para melhorar a produção e conservar o meio ambiente tem despertado o interesse de diferentes setores nas diversas regiões brasileiras. Para saber mais sobre como produzir de forma integrada agricultores familiares, técnicos que atuam no apoio à produção rural do Acre e estudantes de pós-graduação da área florestal e afins participam do curso "Iniciativas tecnológicas para a integração lavoura-pecuária-floresta", nos dias 18 e 19 de agosto. Realizada pela Embrapa (Rio Branco/AC), a capacitação visa proporcionar conhecimentos para viabilizar a implantação destes sistemas em áreas de pastagem de baixa produtividade.
O curso acontece no centro de treinamento da Embrapa, em atendimento a demanda do governo do estado, como atividade inicial da agenda de capacitações coordenada pela Secretaria de Estado de Agropecuária (Seap), que objetiva preparar um público variado para possibilitar o uso da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e de outras práticas agrícolas e pecuárias para cumprimento das metas do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) no Acre. "A ideia é formar multiplicadores que vão apoiar o processo de adoção de sistemas integrados, com foco também no aumento da produção e da renda das famílias rurais", diz o analista Bruno Pena, supervisor da área de transferência de tecnologias da Embrapa.
Os participantes vão conhecer as etapas e estratégias de implantação de diferentes modelos de integração, práticas agrícolas, como o plantio direto, e de produção pecuária, como a arborização de pastagens, além de distintos componentes agrícolas que podem compor estes sistemas, atributos e implicações agronômicas dos solos entre outros conteúdos relacionados à temática. A programação também inclui visitas a áreas rurais para compartilhamento de experiências de agricultores e resultados de pesquisas da Embrapa com ILPF.
Planejamento
Segundo o pesquisador Tadário Kamel, responsável pelos estudos com ILPF no Acre e um dos instrutores da capacitação, a integração lavoura-pecuária-floresta é uma estratégia de produção sustentável que permite associar atividades produtivas e, quando bem planejada, possibilita o atendimento a diferentes demandas. Além de permitir a produção de grãos e madeira em áreas usualmente cultivadas com pastagens, melhora a produtividade das pastagens devido ao aproveitamento da adubação residual das lavouras, beneficiando a produção de carne e leite, constituindo uma opção viável para recuperar áreas degradadas com pastagens com baixa produção de forragem e lavouras com baixo rendimento.
"Uma das principais estratégias para implantação destes sistemas é o plantio de árvores, em diferentes espaçamentos, com cultivo agrícola nas entrelinhas. No caso do cultivo de milho, normalmente se utiliza plantio convencional no primeiro ciclo produtivo e plantio direto na segunda safra (milho safrinha), com implantação da pastagem no último ciclo agrícola. Independente da forma de implantação, o processo requer planejamento", afirma Kamel.
Outro aspecto enfatizado na capacitação é a importância do solo para a produção. O engenheiro agrônomo Nilson Bardales, bolsista na Embrapa, abordará características que devem ser consideradas no processo produtivo. "Solos escuros geralmente apresentam alto teor de matéria orgânica, elemento relacionado à fertilidade, aspecto essencial para a implantação e condução dos sistemas integrados. Já a textura indica níveis de presença de areia, silte e argila, partículas fundamentais para o bom desenvolvimento das culturas que compõem o sistema e que podem influenciar processos erosivos e de compactação do terreno. Por ser um recurso natural não renovável e muito variável, o solo deve ser manejado de acordo com as características apresentadas. Conhecer bem este recurso ajuda a definir a melhor modalidade de ILPF e a reduzir riscos de degradação", ressalta Bardales.
Visitas a campo
Na manhã da quinta-feira (18) os participantes visitam propriedades rurais que adotaram a integração lavoura-pecuária-floresta. O agricultor João Evangelista, morador do município de Senador Guiomard (AC), compartilha a experiência iniciada em 2009, com a implantação da primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT) em ILPF, pela Embrapa Acre. A associação de plantio de árvores com o cultivo de milho e pastagem já rendeu bons frutos. "Cheguei a colher sete toneladas de milho por hectare. Além dos ganhos na agricultura, hoje o gado tem pasto de qualidade", diz.
No Assentamento Moreno Maia (Rio Branco) a agricultora Francineide Paiva da Silva (a dona Boneca), vai mostrar aos participantes como a ILPF possibilitou a permanência na agricultura. Antes de usar o sistema, o solo da propriedade, em elevado estágio de degradação, dificultava o cultivo agrícola. Em 2013 a família apostou no cultivo sucessivo de feijão, milho, mandioca e melancia integrado com a pastagem e diferentes espécies florestais. "Voltamos a produzir e colhemos 2.250 quilos de feijão em um plantio de dois hectares. Agora servimos de exemplo para outros produtores", comemora.
Plano ABC
Estudos comprovam que a integração lavoura-pecuária-floresta ajuda a recuperar a fertilidade do solo e torna as atividades produtivas mais rentáveis. Em termos ambientais, por possibilitar o acúmulo de biomassa e matéria orgânica no solo a ILPF contribui para o sequestro de carbono, aspecto que ajuda a reduzir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera ocasionada também pela degradação do solo.
Devido aos inúmeros benefícios a ILPF compõe o rol de tecnologias que podem ajudar a cumprir compromissos voluntários assumidos pelo Brasil na COP-15, que resultaram na criação do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 2011. Executada com a participação de diversos estados, a iniciativa incentiva e apoia, entre outras estratégias, o uso de sistemas integrados para recuperar áreas degradadas, com o objetivo de reduzir em 43% as emissões de gases causadores de efeito estufa, até 2030.
De acordo com dados do Mapa, o Brasil possui cerca de 30 milhões de hectares de áreas de pastagens em algum estágio de degradação. Além do impacto ambiental, o problema reduz a oferta de alimento de qualidade para os rebanhos bovinos e a produtividade de carne e leite. No estado do Acre estima-se que existam 500 mil hectares de pastagens degradadas ou em processo de degradação. Devido ao custo elevado dos insumos no mercado local, grande parte dos agricultores familiares deixa de recuperar essas áreas. Adoção de tecnologias sustentáveis, como a ILPF, pode ajudar a mudar essa realidade.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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