Estudos com SAF são apresentados em evento nacional
Estudos com SAF são apresentados em evento nacional
Photo: Diva Gonçalves
SAF implantado em propriedade rural da Reserva Extrativista Chico Mendes (Brasileia/AC)
A aptidão agroflorestal de solos do Acre, o desempenho de diferentes espécies na composição de arranjos agroflorestais e a viabilidade econômica dessa alternativa de produção são alguns dos temas pesquisados pela Embrapa que compõem a pauta de trabalhos científicos apresentados durante a décima edição do Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais (SAF), com início nesta segunda-feira (24). O objetivo do evento é divulgar a temática, compartilhar conhecimentos e discutir os desafios e perspectivas para uso e consolidação destes sistemas no País.
Promovido a cada dois anos, pela Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais (SBSAF), em parceria com a Embrapa e outras instituições públicas e da iniciativa privada, a iniciativa reúne pesquisadores, estudantes, produtores rurais, técnicos e outros profissionais do setor agropecuário nacional. As atividades acontecem no campus da Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá, até o dia 28 de outubro.
"Além de permitir interação profissional e aprendizados na área, o encontro é uma forma de ampliar a visibilidade dos sistemas agroflorestais como alternativa viável para o desenvolvimento ecológico, econômico e social do país", explica o engenheiro florestal da Secretaria de Agricultura Familiar e Assuntos Fundiários do Mato Grosso, Leonardo Vivaldi dos Santos, presidente da Comissão Organizadora.
Paralelamente às exposições científicas são realizadas conferências, mesas-redondas, minicursos, palestras e visitas a propriedades rurais para conhecer iniciativas promissoras de produção utilizando modelos agroflorestais. A programação completa está disponível no site www.cbsaf.com.br.
Enfoques
Os sistemas agroflorestais são uma estratégia de produção sustentável que permite integrar numa mesma área cultivos agrícolas e plantio de árvores, com foco na produção de alimentos. A Embrapa Acre, junto com outras Unidades da empresa, investe em pesquisas com o objetivo recomendar modelos adequados a diferentes realidades rurais amazônicas. No encontro serão apresentados sete trabalhos científicos, três deles executados com a participação de agricultores do Acre e Rondônia, no âmbito do projeto SARAM (Sistemas Agroflorestais para produção e recuperação ambiental na Amazônia), iniciativa desenvolvida em parceria com outras instituições.
Uma das pesquisas avaliou a viabilidade econômica de diferentes modelos agroflorestais no Sudoeste de Rondônia, destacando aspectos como níveis de utilização da mão de obra familiar, existência de produção escalonada e geração de receita contínua. Segundo o pesquisador Tadário Kamel, líder do projeto SARAM e um dos autores do estudo, os sistemas avaliados se mostraram financeiramente viáveis e apresentam boa relação custo-benefício, resultados que podem subsidiar agentes de financiamento, técnicos e produtores rurais nesse tipo de investimento na Amazônia.
"Conhecer modelos e indicadores socioeconômicos dos sistemas agroflorestais utilizados na Amazônia agrega conhecimentos científicos específicos da região e contribui para o acesso a informações pelos produtores locais", destaca o pesquisador, que também será palestrante na Mesa-Redonda "Aprendizados com SAF", no dia 25 de outubro, e um dos coordenadores da conferência "Perspectivas em SAF", no dia 27.
A agrobiodiversidade da Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, localizada no município de Feijó (AC), é outro tema de pesquisa apresentado no Congresso. O trabalho dos pesquisadores Amauri Siviero e Moacir Haverroth teve como objetivo identificar as espécies frutíferas existentes em 32 quintais agroflorestais em quatro aldeias Kaxinawá. "Registramos 674 tipos de fruteiras, pertencentes a 31 espécies nativas e exóticas. Os cultivos ocorrem, preferencialmente, próximo das casas, mas também em consórcio com culturas anual ou bianuais, nos roçados indígenas", explica Siviero.
Pesquisas voltadas para o crescimento do açaí (Euterpe oleracea Mart.) e da andiroba (Carapa guianensis) em monocultivo e em sistemas agroflorestais também estão na pauta do evento. Coordenados pela pesquisadora Aureny Lunz, os estudos avaliaram o desenvolvimento dessas espécies nativas da Amazônia, a partir de critérios como altura, diâmetro à altura do peito (DAP) e diâmetro da copa e indicaram que podem ser uma alternativa promissora como componentes destes sistemas.
SAF na Amazônia
Utilizados nas diferentes regiões do Brasil, em pequenas áreas ou na produção em grande escala, os sistemas agroflorestais representam uma importante fonte de ocupação e renda. Na Amazônia, esses arranjos produtivos são estratégicos no contexto da agricultura familiar, especialmente em áreas de assentamentos rurais e reservas extrativistas, por agregar benefícios sociais, econômicos e ambientais. Estados como Acre, Rondônia, Amazonas e Pará vêm ampliando o uso dessa tecnologia com arranjos diversificados e resultados exitosos.
Uma experiência exemplar é o projeto Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado (Reca), localizado na Vila Nova Califórnia (RO), parceiro da Embrapa Acre na execução de diversas pesquisas. Criado há mais de duas décadas, por agricultores de base familiar, se tornou referência no uso de sistemas agroflorestais para o cultivo integrado de frutas e contribui para consolidar a produção agroindustrial do cupuaçu, açaí e outros produtos amazônicos.
Pesquisas comprovam que os sistemas agroflorestais possibilitam produzir de forma contínua e escalonada, garantindo trabalho e renda para as famílias rurais e contribuindo para a segurança alimentar no campo e na cidade. Outra vantagem é que esses arranjos produtivos contribuem com a conservação da biodiversidade e podem ser usados na recomposição florestal e recuperação de áreas degradadas.
Kamel esclarece que apesar das inúmeras vantagens, o agricultor deve planejar a atividade e, na composição do sistema, escolher espécies que garantam diversidade à produção, trabalho e renda em diferentes épocas do ano e atendimento a demandas do mercado. "É importante priorizar o cultivo de culturais anuais no primeiro momento e, posteriormente, plantar espécies frutíferas e arbóreas", diz.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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