Brasília estreia no festival mundial Pint of Science com o pé direito
Brasília estreia no festival mundial Pint of Science com o pé direito
Photo: Irene Santana
Francisco Aragão falou sobre a engenharia genética para cerca de 100 pessoas na estreia do Pint of Science em Brasília
Cerca de 100 pessoas lotam bar da capital federal no primeiro dia do festival, comprovando que a união entre ciência e cerveja é um sucesso.
A estreia do festival mundial de divulgação científica Pint of Sciencede em Brasília ontem (15/05) foi um sucesso. Cerca de 100 pessoas lotaram o London Street Pub, na Asa Norte, para assistir à palestra do pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Francisco Aragão e da diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani, sobre o tema “Como a engenharia genética aplicada ao melhoramento de plantas pode alterar a vida das pessoas”. Hoje e amanhã tem mais. Confira a programação completa no link https://pintofscience.com.
Aragão apresentou um panorama da agricultura desde o Século VI AC, mostrando que muitas das espécies de plantas que fazem parte da nossa alimentação diária, como repolho, banana, couve, batata e milho, entre outras, não seriam comestíveis não fosse pela manipulação genética feita pelo homem e pela própria natureza ao longo dos séculos. Segundo ele, a agricultura, que é uma prática absolutamente imprescindível à vida humana, garantiu a sobrevivência de grande parte dessas espécies. Ele levou uma variedade de banana primitiva para mostrar ao público que a consistência muito dura e o excesso de sementes tornavam esse alimento impossível de ser degustado.
O pesquisador afirmou que hoje vivemos em uma sociedade urbana, onde cada vez menos pessoas trabalham no campo, com a responsabilidade de produzir alimentos para um número cada vez maior de pessoas.
Ele apresentou a engenharia genética como uma ciência com potencial de atender à demanda crescente por alimentos, sem a necessidade de expandir as fronteiras agrícolas.
Como exemplos de sucesso das pesquisas de engenharia genética desenvolvidas pela Embrapa, Aragão citou o feijão geneticamente modificado com resistência ao vírus do mosaico dourado e a alface com 15 vezes mais ácido fólico do que a variedade convencional. Esses resultados ilustram as prioridades da Embrapa no uso dessa ciência: gerar variedades resistentes a pragas, tolerantes a estresses climáticos e com outras características de interesse da sociedade. “Pode parecer incrível, mas a despeito de sua importância para a alimentação da população brasileira, o feijão é um produto importado no Brasil hoje, até da China. Isso se deve, principalmente, às pragas que atacam a cultura, como o vírus do mosaico dourado”, ressaltou.
O Brasil produz hoje mais de 250 milhões de toneladas de grãos e está entre os principais produtores de várias culturas de importância mundial, como soja, algodão, carne bovina e leite, entre outras. “Isso não seria possível não fosse pelo avanço da pesquisa agropecuária”, enfatizou.
Quando questionados pela plateia sobre a segurança do consumo de produtos transgênicos, Aragão e Adriana Brondani afirmaram que os testes dos produtos geneticamente modificados são extremamente rigorosos, até mais do que os produtos convencionais. "Dizer que não há riscos seria uma inverdade. Tudo tem riscos", afirmou a diretora do CIB. Mas, o que é muito importante é conefrir a idoneidade dos sites de divulgação sobre este assunto, já que há muitas informações equivocadas na internet.
Ciência com cerveja: uma combinação que dá certo
O festival de divulgação científica Pint of Science (pronuncia-se paint, que é uma medida – equivalente a cerca de 500 ml – tradicionalmente usada para se referir ao tamanho do copo em que a cerveja é servida em bares e pubs) comprova que combinar ciência com cerveja é garantia de sucesso. Criado na Inglaterra em 2013, com o objetivo de proporcionar debates interessantes, divertidos e relevantes sobre pesquisas científicas em um formato acessível para o público, o festival acontece, simultaneamente, em nove (9) países, em mais de 100 cidades, durante três noites (15, 16 e 17/05). O Brasil é o único país da América Latina a participar e, este ano, Brasília estreia como uma das cidades a sediar o festival mundial.
Para um dos organizadores do festival em Brasília, o professor da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Bessa, a participação do público na primeira noite do Pint of Science na capital federal foi ainda melhor do que ele esperava. Para Bessa, o Pint of Science possibilita uma aproximação entre os cientistas e o público em geral que não é usual no dia a dia. “Quando isso acontece regado à cerveja, que é o mais importante lubrificante social da sociedade atual, o sucesso é garantido”, comenta.
A opinião é compartilhada pelo estudante de mestrado em Biotecnologia Vegetal da Universidade Federal de Lavras, Calil Gibram, que esteve presente ao evento. Para ele, o festival de divulgação científica representa para o público, especialmente o leigo, uma oportunidade ímpar de tirar dúvidas sobre questões científicas polêmicas, como é o caso dos produtos transgênicos.
O Pint of Science foi criado para proporcionar debates sobre tópicos científicos com quem faz ciência. É realizado por voluntários e foi criado por uma comunidade de estudantes de pós-graduação e de pós-doutorado em 2013, na Inglaterra. A sua realização é possibilitada por parcerias formadas nos países que sediam o festival. Ao longo desses três anos, o festival tem crescido significativamente no mundo, com a participação cada vez maior de países, cidades e pessoas interessadas em conhecer melhor a ciência.
Para Aragão, iniciativas como o Pint of Science são fundamentais para aproximar a ciência da sociedade, potencializar o debate científico e instigar a formação de novos talentos para as atividades de ciências.
A recepção do público brasileiro a esse festival tem sido muito positiva. Prova disso é que em 2016, aconteceu em sete cidades. Em 2017, esse número triplicou e 22 cidades participam do evento.
O evento continua hoje e amanhã. Confira a programação completa no link: https://pintofscience.com/
Fernanda Diniz (MTb 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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