As equipes dos projetos GPAF e PIMo-SP, liderados pelos pesquisadores Ivan Alvarez da Embrapa Monitoramento por Satélite (Campinas, SP) e Fagoni Calegario da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), uniram esforços para apoiar produtores rurais do Estado de São Paulo, localizados em municípios que são áreas de atuação das duas pesquisas. Uma das iniciativas foi o workshop Jovens Rurais, em 27 de maio, na Pousada Paiol, em Atibaia, SP. O objetivo, conforme Fagoni Calegario, foi promover o compartilhamento da percepção dos jovens da zona rural da região e seus pais, produtores rurais, lideranças agrícolas e formadores de opinião, além de técnicos e gestores públicos, sobre a vida no campo e formas de melhorar as condições de residência e trabalho. Com o advento das tecnologias de comunicação (whats app, email), que alguns produtores rurais não dominam totalmente, seus filhos tem exercido cada vez mais um papel de apoio na comunicação entre o Programa PIMo e seus pais. Nesta interação com os jovens, foi observado que muitos deles sofrem êxodo rural movidos pelas dificuldades da vida do campo, não necessariamente por vocação. O projeto GPAF observou situação análoga nos municípios do Circuito das Frutas. “Este fórum foi concebido para, de forma construtivista, incluir os jovens, além dos outros agentes normalmente envolvidos, nas ações de sensibilização para promoção de ações em cooperação, visando o sucesso e a prosperidade nos programas de Sustentabilidade na Zona Rural”, enfatiza a pesquisadora. Sobre o evento Nathalia Inoda e Roberto Matsuda, da Fruta Imperfeita, uma start up que tem seu negócio focado no conceito de que as frutas e os legumes com imperfeições estéticas e em bom estado são tão saborosos e perfeitos quanto os produtos esteticamente bonitos, explicaram que a Fruta Imperfeita surgiu da observação de que muitos produtos bons são descartados porque não atendem aos padrões estéticos, mas atendem aos padrões de consumo e de qualidade do sabor. “Desenvolvemos, então, uma rede entre produtores e consumidores finais que entregam na casa do cliente alimentos perfeitos, contudo fora dos padrões estéticos do mercado, a valores competitivos (abaixo do mercado) em uma relação que o produtor, a instituição e os clientes saem ganhando”, explicou Roberto. Roberto enfaztizou que "além de tudo, devemos acreditar em nossas ideias e pôr em prática nossos projetos, afinal, antes do Fruta Imperfeita esses produtos eram descartados, hoje, eles geram renda para o setor produtivo e economia para os consumidores”. Conforme Sandro Pereira, analista da Embrapa Meio Ambiente, essa palestra deixou claro que o meio rural oferece muitas condições de sucesso financeiro e pessoal. Contudo, para perceber essas oportunidades deve-se olhar o dia-a-dia e os problemas de um modo diferente, é necessário quebrar paradigmas. Fabio Kagi, da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) explicou que sua empresa representa as indústrias que atuam em pesquisa e desenvolvimento de defensivos agrícolas no país. Tem a missão de proteger a agricultura brasileira e ajudar a construir um planeta sustentável. Fabio Kagi vem de família de produtores rurais e deu um exemplo de sua trajetória de vida, desde ajudar na produção da família até cursar a faculdade de agronomia, tentar trabalhar no sítio dos pais e enfim de como e porque foi para o mercado da indústria. “Fracassei como produtor rural, tirei proveito disso, segui para a indústria de defensivos e hoje estou aqui”, disse. Sérgio Pompermaier, da Prefeitura de Jundiaí, abordou o papel do jovem no agronegócio moderno. Ele acredita que os jovens possuem entusiasmo para o novo e são sensíveis à tecnologia, características marcantes do empreendedorismo. Para isso, precisam estar atentos para observar questões ao seu redor e, também, estar abertos para a troca de ideias. Segundo Popermaier, existem grandes oportunidades na região vinculadas ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), segurança alimentar, agroecologia e agricultura sintrópica. A aproximação com as instituições locais que atuam com agricultura também podem resultar em grandes oportunidades de parceria para potencializar o trabalho do jovem no meio rural. Já Romulo Kobori, do Conselho Municipal do Desenvolvimento Rural de Atibaia e responsável pelo departamento de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Sakata Seed Sudamerica Ltda, começou sua conversa com uma analogia. “Em um prato de ovo com bacon, a galinha está envolvida porque deu o ovo. Já o porco está comprometido: deu a vida. E você, como está sua relação como os seus sonhos? Você está comprometido com eles ou somente envolvido?”. A partir do célebre discurso “Eu tenho um sonho” (Martin Lutter King) desenvolveu a noção de que todos os sonhos são possíveis, para isso devemos nos comprometer como ele, acreditar em nós e fazer o que é necessário - dentro do que é ético e correto - para realizá-lo”. Romulo apresentou um roteiro emocionante em que discutiu a importância dos valores, da família, de aceitar e resolver desafios e de como nossas ações são importantes no legado que deixaremos. Como resultado do evento, os filhos e os pais tiveram acesso ao que cada parte pensa, ouve e sente sobre o sítio e quais a principais dores e necessidades dos pais e dos filhos. A pousada Paiol fica em um local que já foi usado para produção de uva, que a família transformou em restaurante e pousada. Foi apresentada como um dos exemplos de negócio possíveis para propriedades rurais, principalmente para uma localidade próxima de um grande centro urbano como é o caso de Atibaia. Conforme Cristina Criscuolo, pesquisadora da Embrapa Monitoramento por Satélite, "durante o evento, os participantes puderam interagir com outros jovens e expressar alguns problemas relacionados à questão da sucessão familiar, bem como apontar caminhos a partir de seu próprio conhecimento e vivência durante dinâmica de mapeamento de empatia". Sobre os projetos O projeto "Geotecnologias para incrementar a competitividade e sustentabilidade da agricultura familiar no Circuito das Frutas do Estado de São Paulo" (GPAF) busca formas de incentivo à permanência dos agricultores mais jovens no ambiente rural. Para isso, o contato com os produtores é peça fundamental, entende Alvarez. Nos encontros já realizados, a criação de uma marca coletiva e de um aplicativo mobile para a logística do escoamento da produção tem sido uma ação que visa a fortalecer o Circuito das Frutas de São Paulo, região que compreende 10 municípios produtores de frutas como uva, morango, caqui e figo. Por sua vez, o projeto "Mobilização setorial, capacitação e transferência de tecnologia em Produção Integrada de Morango (PIMo)", coordenado pela pesquisadora Fagoni Calegario, tem como objetivo transferir tecnologia visando a apoiar os processos de adoção e certificação da PIMo, bem como a divulgação do Selo Brasil Certificado. A pesquisa dá continuidade ao Programa PIMo SP, iniciado em 2006 na região de Atibaia, que conta com apoio das Prefeituras de Atibaia e Jarinu, da Associação dos Produtores de Morangos e Hortifruti de Atibaia, Jarinu e Região e da Coordenadora de Assistência Técnica Integral (Cati). O grupo produz morangos certificados desde 2011 e conta, atualmente, com a participação de produtores de Atibaia, Jarinu, Valinhos, Itatiba e Piedade. Uma das ações do projeto visa ao incentivo ao associativismo, fundamental para divulgação dos produtos certificados.