04/10/17 |   Food security, nutrition and health

Diálogos com povos indígenas reforçam a conservação da biodiversidade

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Photo: Claudio Bezerra

Claudio Bezerra - Os diálogos agroecológicos reúnem conhecimentos tradicionais e científicos prol da agricultura e alimentação

Os diálogos agroecológicos reúnem conhecimentos tradicionais e científicos prol da agricultura e alimentação

A diversidade de culturas milenares cada vez mais tem possibilidade de atravessar gerações, dezenas de anos, voltar à terra, germinar, povoar lavouras e alimentar homens e mulheres de povos tradicionais, em especial povos indígenas. E tudo porque cresce o número de etnias brasileiras interessadas em uma das formas mais seguras de conservar a biodiversidade brasileira por longos anos, guardando verdadeiros tesouros: a conservação in situ (feita pelas comunidades por meio do plantio contínuo das sementes) e a ex situ, na qual o material é armazenado a temperaturas que permitem manter a qualidade por pelo menos 40 anos, o Banco de Germoplasma da Embrapa.  

As práticas para manter vivos estes materiais, as dúvidas sobre como fazer e o intercâmbio de conhecimento entre cientistas e representantes de etnias indígenas tem permitido o entendimento da importância do tema para os agricultores do país. Recentemente as novidades da ciência neste tema foram levadas para o Norte do Pará, por 30 representantes de povos do Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este. Também chegaram ao Oiapoque, nas terras indígenas Uacá. Isso porque homens e mulheres representantes de povos Karib (Apalai, Akuriyó, Katxuyana, Txikiyana, Tiriyó, Wayana, dentre outros) são os mais novos integrantes do Diálogos Agroecológicos, metodologia participativa que proporciona a troca de saberes entre os indígenas e pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF).

Embora os diálogos não tenham “nascido” recentemente, alguns povos somente agora passam a integrar as discussões que são focadas no resgate e na conservação de materiais. Este é o caso dos habitantes do Tumucumaque e Rio Paru d’Deste. Pela primeira vez jovens e lideranças daquelas terras participaram de uma edição do Diálogos, numa programação construída entre a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Cerrados, Embrapa Hortaliças, o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), Associação dos Povos Indígenas Wayana e Apalai (Apiwa) e a Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Kaxuyana e Txikyana (Apitikatxi).

Com tradução para língua de duas etnias e destas para o português, os participantes contaram suas experiências, falaram sobre como conduzem suas lavouras e, em contrapartida, também conheceram de perto as possibilidades de ter lavouras mais produtivas, plantas saudáveis e, o mais importante, com sementes que estão há centenas de anos com eles.

“Na minha roça tenho 20 espécies de mandioca. Aprendi com a minha mãe a não misturar as diferentes mandiocas, planto tudo separado. É importante que os jovens conheçam e melhorem a segurança alimentar. A gente vem procurando parceiros para melhorar agricultura, pois estamos preocupados com as mudanças que podem acabar com nossas espécies, diz Cecília Apalai, presidente da Apiwa. “Com esse diálogo estamos abrindo a mente, a consciência para valorizar o que temos”. É importante guardar as sementes dentro da Embrapa, pois assim nossas futuras gerações podem buscar aqui de volta, diz Cecília.

Idealizadora do Diálogos Agroecológicos a pesquisadora Terezinha Dias diz que a importância da variabilidade genética que existe nas mãos dos povos tradicionais tem sido reforçada e que sempre evidencia a disponibilidade de colocação do material no Banco de Germoplasma da Embrapa, um dos maiores do mundo. “São regiões muito preservadas no Brasil, especialmente na Amazônia, onde podemos fomentar a conservação”, observa Terezinha.

“Com os “Diálogos Agroecológicos” queremos fazer uma troca de saberes, dos saberes indígenas e dos saberes do homem branco, para que a gente possa unir os conhecimentos tradicionais aos conhecimentos que a Embrapa desenvolve para ter uma melhor aplicação na agricultura e alimentação”, comenta o chefe geral da Embrapa Recursos genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral.

Os povos do Complexo do Tumucumaque e do Paru d’Este se somam aos mais de 170 indígenas que participaram do Diálogos Agroecológicos, iniciado em 2004 com os Krahô. De lá até este ano já foram realizadas nove edições deste evento que pode ser considerado curso que fortalecem o diagnóstico e a reflexão participativa sobre a situação dos agricultores indígenas, verdadeiros guardiões da biodiversidade brasileira.

Deva Rodrigues (MTB/RS 5297)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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