Livro da Embrapa apresenta versão inédita completa do primeiro artigo de Mendel traduzido para português
Livro da Embrapa apresenta versão inédita completa do primeiro artigo de Mendel traduzido para português
Photo: Fernanda Diniz
A capa do livro foi montada a partir do manuscrito original de Mendel e o primeiro DNA elaborado por Watson e Crick, em 1953.
Obra descreve, de forma didática, a evolução da genética desde o Século XIX até os dias de hoje.
A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a Embrapa Informação Tecnológica, duas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), localizadas em Brasília, DF, lançam no dia 25 de outubro de 2017, às 10 horas, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, na Praça Científica do Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade na capital federal, o livro “Mendel: das leis da hereditariedade à engenharia genética”. Editada pelos pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Francisco Aragão e José Roberto Moreira, a obra homenageia os 150 anos do postulado das leis de Mendel, apresentando, pela primeira vez, a versão completa em português do primeiro artigo científico escrito por Gregor Mendel em 1866. Não por acaso, o livro parte deste manuscrito, considerado por muitos como a origem da genética, para apresentar os avanços dessa ciência até os dias de hoje. O livro será vendido no evento a preço promocional de lançamento.
Gregor Johann Mendel era um monge agostiniano, que estudou ciências naturais na Universidade de Viena. Mas, foi na volta ao monastério, nos jardins de Brno, na Morávia, hoje República Tcheca, que ele revolucionou a ciência mundial com a descoberta da transmissão de caracteres hereditários entre as espécies. Foram necessários sete anos e mais de 300 mil ervilhas para o pai da genética apresentar ao mundo as leis da hereditariedade, hoje chamadas Leis de Mendel, que regem a transmissão dos caracteres hereditários. Até então, os cientistas conheciam os espermatozoides e os óvulos, mas não conseguiam compreender como se combinavam para produzir novas gerações.
A experiência com as ervilhas foi relatada pela primeira vez em 1866 no artigo “Experimentos em hibridização de plantas”, publicado na revista Verhandlungen des naturforschenden Vereines in Brün. Entretanto, a publicação original só chegou ao conhecimento da comunidade científica muito depois, já na passagem do século XIX para o século XX, quando pesquisadores buscavam incessantemente uma teoria que explicasse a herança de caracteres nos organismos. A redescoberta do artigo de Mendel resultou na criação de uma nova disciplina: a genética.
A versão original é um dos trabalhos científicos mais influentes de todos os tempos e foi amplamente traduzida no mundo. Primeiro em inglês, depois em outras línguas. A única tradução para o português que se tinha conhecimento até o lançamento desse livro foi feita pela professora Maria Augusta Querubim Rodrigues, em 1986, mas omitia as duas últimas seções do texto, que continham justamente as conclusões de Mendel.
A tradução completa, apresentada pela primeira vez no Brasil no livro da Embrapa, foi elaborada pelo pesquisador José Roberto Moreira com a ajuda do amigo alemão Klaus Dieter Neder. José Roberto sempre foi um admirador da genialidade do monge agostiniano. Conheceu de perto todos os lugares que fizeram parte da vida de Mendel, que estão retratados em fotos que ilustram os primeiros capítulos do livro.
Além da tradução do artigo seminal, o pesquisador responde ainda pela autoria de outro capítulo, que fala sobre o legado e as controvérsias da teoria de Mendel. Para isso, mergulha fundo na vida do cientista austríaco à luz do contexto da época, dominada pelo feudalismo.
Segundo José Roberto, o ano de 2016 foi marcado por celebrações globais ao postulado das leis de Mendel. “A Embrapa não poderia ficar à margem dessas comemorações”, destaca o pesquisador, lembrando que além de homenagear a data, a organização do livro foi motivada pelo intuito de mostrar como a genética evoluiu e quais foram as implicações disso para o mundo e para o nosso país.
Do postulado de Mendel à engenharia genética: a evolução da ciência no Brasil
Os 14 capítulos que se seguem aos dois primeiros - nos quais o leitor é apresentado à vida pessoal e profissional do pai da genética - deixariam Gregor Mendel surpreso. Ou não? Para organizá-los, o pesquisador e um dos pioneiros nas pesquisas de engenharia genética no Brasil, Francisco Aragão, convidou outros 38 especialistas de diversas instituições de pesquisa e ensino brasileiras para descrever o avanço da genética no Brasil.
Desvendada por Mendel no Século XIX, a genética vem caminhando a passos largos no Brasil. Hoje, os pesquisadores da Embrapa e de outras instituições nacionais dominam as estruturas genéticas de plantas, animais e microrganismos a níveis minuciosos e são capazes de transferir diariamente em seus laboratórios genes entre diferentes espécies, criando novos organismos com características de interesse para a sociedade, como resistência a doenças, tolerância a estresses climáticos, alimentos biofortificados, entre muitas outras aplicações.
Além da engenharia genética, o livro passeia por outras evoluções da ciência ao longo dos últimos séculos no Brasil, como a biologia sintética, que mimetiza a natureza em laboratório, os marcadores moleculares e a genômica, que desvendou o DNA de plantas e animais, disponibilizando sequências gênicas em bancos de domínio público à disposição da ciência. Todos esses avanços têm um predicado em comum: são voltados a uma agropecuária mais produtiva e sustentável, menos dependente do uso de produtos químicos e com potencial para enfrentar os desafios alimentares dos próximos séculos, sem necessidade de expansão das fronteiras agrícolas.
Diante desse panorama, o mais provável é que Mendel ficasse orgulhoso em saber que suas descobertas deram origem a uma ciência que viria a revolucionar a vida dos seres humanos em todo o Planeta. Polêmicos ou não, o fato é que a herança mendeliana e a engenharia genética são realidades incontestáveis no cenário global atual. Dos 28 países que plantam culturas GM (geneticamente modificadas), 20 estão em desenvolvimento e apenas oito são industrializados. Dos 18 milhões de agricultores que cultivaram plantas transgênicas nos anos de 2013 e 2014, 90%, ou seja, 16,5 milhões eram pequenos agricultores de países como China e Índia. Mais um ponto na conta de Mendel e da ciência moderna.
Serviço:
O livro “Mendel: das leis da hereditariedade à engenharia genética” será lançado no dia 25 de outubro de 2017, às 10 horas, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, na Praça Científica do Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade na capital federal. No evento, será vendido a preço promocional de lançamento. Depois, ficará disponível na Livraria da Embrapa.
Fernanda Diniz (MTb 4685/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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